0 Caracas 2007 - Blog do Rodrigo - 1000 dias

Caracas 2007 - Blog do Rodrigo - 1000 dias

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Caracas 2007

Venezuela, Caracas

Caminhando por Caracas, na Venezuela (2007)

Caminhando por Caracas, na Venezuela (2007)


O que nos trouxe à Venezuela em 2007 foi o Monte Roraima. Há muito sonhávamos em subir essa misteriosa montanha na fronteira do Brasil e o único caminho para se chegar lá era (e ainda é!) pela Venezuela. Já que vínhamos tão longe, procuramos pelas outras atrações do país e assim decidimos viajar também ao Salto Angel e ao arquipélago de Los Roques. O primeiro, fica na mesma região do Monte Roraima, mas as ilhas paradisíacas, para chegar até lá teríamos de passar por Caracas. Então, a capital do país passou a fazer parte do nosso roteiro e aproveitamos para programar uns dias para conhecer a maior cidade do país.

Visita ao Panteão, em Caracas, na Venezuela (2007)

Visita ao Panteão, em Caracas, na Venezuela (2007)


Naquela época, o câmbio oficial ainda estava a 3,50 e o negro, pouco mais que o dobro disso. Nós viemos com poucos dólares, contando com nossos cartões de débito e crédito, ou seja, câmbio oficial. O resultado foi que o país esteve bem caro para nós, principalmente Caracas, o que descobrimos assim que chegamos à capital e fomos procurar um hotel. Ainda é assim hoje, mas com um câmbio negro quase cinco vezes maior que o oficial, até Caracas ficou barata para turistas estrangeiros que trocam seus dólares no câmbio das ruas.

Estátua do libertador Bolívar, em Caracas, na Venezuela (2007)

Estátua do libertador Bolívar, em Caracas, na Venezuela (2007)


Essa diferença entre os câmbios oficial e negro nos mostra que algo não vai bem na economia do país. E esse “algo” piorou muito nesses últimos anos. Desde a era Chávez, a Venezuela ficou ainda mais dependente de suas exportações de petróleo, tendo de importar quase tudo, inclusive os alimentos. A balança comercial é deficitária, o que significa que mais dólares saem do que entram. Ao mesmo tempo, a inflação corrói os valores no país e as pessoas buscam o dólar como reserva de valor. O governo dificulta ao máximo essa compra de dólares e a única maneira é adquiri-lo no tal câmbio negro. Muita demanda, pouca oferta, o preço da moeda “imperialista”, que todos querem no país, sobe muito. Melhor para os turistas que a trazem de fora.

Polar, a mais popular cerveja venezuelana, em Caracas, capital do país (2007)

Polar, a mais popular cerveja venezuelana, em Caracas, capital do país (2007)


Em 2007, Chávez estava mais vivo do que nunca. Nossos dias pelo país logo nos mostraram o quanto a população estava dividida sobre ele, alguns odiando e outros adorando o carismático e controverso líder. Quando Chávez chegou ao poder, 9 anos antes, tinha o apoio de boa parte da classe média. Mas bastaram alguns anos de governo para ele se afastar da antiga base de apoio e se aproximar das classes menos favorecidas, através de diversos programas sociais. O país se dividiu, a grande imprensa atacando o governo. Chávez contra-atacou aparecendo cada vez mais na TV, em redes nacionais obrigatórias, fazendo o que mais gostava: discursando por horas e horas diretamente à população.

De bondinho, voltando do parque El Avila, para Caracas, na Venezuela (2007)

De bondinho, voltando do parque El Avila, para Caracas, na Venezuela (2007)


No alto do parque El Avila, nas montanhas ao redor de Caracas, na Venezuela (2007)

No alto do parque El Avila, nas montanhas ao redor de Caracas, na Venezuela (2007)


Antigos aliados e velhos inimigos se uniram, tramaram e executaram um golpe de estado. Nos porões do palácio presidencial, sem saber o que se passava nas ruas, Chávez chamou uma rede nacional de TV para assegurar que o país estava em ordem, ruas calmas e sob controle. Mas redes de TV dividiram a tela, com o presidente discursando de um lado e com a imagem ao vivo do pau comendo entre manifestantes e apoiadores do governo do outro lado. Por fim, o mandatário foi preso e teria concordado em renunciar.

Deliciosa refeição no parque El Avila, nas montanhas ao redor de Caracas, na Venezuela (2007)

Deliciosa refeição no parque El Avila, nas montanhas ao redor de Caracas, na Venezuela (2007)


Caminhando no parque El Avila, em Caracas, na Venezuela (2007)

Caminhando no parque El Avila, em Caracas, na Venezuela (2007)


Mas a maré começou a virar contra os golpistas quando o líder deles, o empresário Pedro Carmona se declarou presidente interino, cancelou a constituição vigente e anunciou um confuso calendário de retorno à institucionalidade. Muitos que vinham apoiando a deposição de Chávez se assustaram com um possível e imprevisível novo ditador. Ao mesmo tempo, a população e militares chavistas de organizaram e vieram às ruas. O novo governo caiu antes mesmo de se consolidar e Chávez voltou ao governo.

No alto do parque El Avila, nas montanhas ao redor de Caracas, na Venezuela (2007)

No alto do parque El Avila, nas montanhas ao redor de Caracas, na Venezuela (2007)


Bondinho é um ótimo acesso ao topo do parque El Avila, em Caracas, na Venezuela (2007)

Bondinho é um ótimo acesso ao topo do parque El Avila, em Caracas, na Venezuela (2007)


Nas eleições seguintes, a oposição tomou a estratégia desastrosa de boicotar as votações, sem apresentar nenhum candidato. Chávez se aproveitou e elegeu um congresso 100% favorável a ele. Com o congresso nas mãos, reformulou todas as leis que quis, assim como o próprio judiciário. O país estava em suas mãos, justamente quando chegamos, em 2007. Ente os que o odiavam, o desencanto era total, mas com poucas esperanças. Sabiam que algo tinha de mudar, mas não sabiam como. Já os que o apoiavam, viam um grande futuro para o país e o continente. Entre os projetos anunciados na época, um grande gasoduto uniria a Argentina à Venezuela, passando em plena Amazônia. Outro uniria todas as ilhas do Caribe, como uma grande ponte, à Caracas. Lembro de ter ficado um tanto incrédulo diante da empolgação de um conhecido chavista.

Caminhando por Caracas, na Venezuela (2007)

Caminhando por Caracas, na Venezuela (2007)


Bom, analisando os indicadores sociais de educação, saúde e casa própria, não há dúvidas que a vida melhorou para boa parte da população mais pobre, embora a economia do país tenha se deteriorado tanto. Mas um indicador, na contramão dos outros, piorou muito: a segurança. Principalmente nas periferias das grandes cidades e de Caracas em especial. A capital venezuelana se tornou uma das mais perigosas do mundo. Embora os números tenham piorado ainda mais nos últimos anos, eles já eram alarmantes em 2007, quando estivemos na capital. Mas, como nunca dei muita bola para estatísticas, na esperança de jamais me tornar uma delas, viajamos para Caracas com os cuidados de praxe, mas sem medo. De qualquer maneira, as favelas que cercam a autoestrada que leva do aeroporto ao centro são mesmo impressionantes, no mal sentido.

Estudantes passeiam pelo parque Francisco Miranda, o maior de Caracas, na Venezuela (2007)

Estudantes passeiam pelo parque Francisco Miranda, o maior de Caracas, na Venezuela (2007)


Bem, o táxi do aeroporto nos levou incólumes através dessas assustadoras favelas e nos deixou nas Mercedes, um bairro muito mais agradável. Depois de encontrarmos um hotel, nossa próxima missão foi acertar nossa viagem à Los Roques, datas e passagens. Deu trabalho, mas conseguimos, depois de uma peregrinação por agências de viagem e companhias aéreas. Foi só aí que começamos a desfrutar da capital dos venezuelanos.

Esquilos correm no parque Francisco Miranda, o maior de Caracas, na Venezuela (2007)

Esquilos correm no parque Francisco Miranda, o maior de Caracas, na Venezuela (2007)


Fomos passear no caótico centro, com suas praças e incontáveis monumentos aos heróis da pátria, principalmente à Bolívar, que está em quase todas as esquinas, seja na forma de estátuas, citações ou homenagens. Mais tarde, cansados de tanta urbanidade, seguimos ao parque El Avila, as altíssimas montanhas que formam o limite norte da cidade. Um enorme teleférico é o caminho mais curto para se chegar até o alto e, lá encima, parece que mudamos de cidade, de país e de galáxia. O barulho das buzinas é substituído pelo canto dos pássaros, o ar poluído fica puríssimo e pode-se ver toda a cidade, mil metros abaixo de nós.

O parque Francisco Miranda, o maior de Caracas, na Venezuela, é conhecido pela sua botânica variada, principalmente de cactos

O parque Francisco Miranda, o maior de Caracas, na Venezuela, é conhecido pela sua botânica variada, principalmente de cactos


A noitada foi em uma vizinhança conhecida por sua infinidade de bares, de todos os estilos. Nós rodamos e vimos vários, mas acabamos escolhendo um em que tocava uma banda brasileira! Na verdade, já estavam radicados na Venezuela há muito tempo, mas sempre sobreviveram com a música da terra natal. Quando desceram do palco, ficamos amigos do vocalista que, entre conversas e cervejas, nos contou uma história bem interessante! Na década de 80, quando já morava na cidade, foi chamado para cantar em um evento que homenageava um convidado ilustre: o rei Pelé! No final do show, teve até a chance de conhecer o maior futebolista da história. Pois bem, pouco mais de dez anos depois, eis que o Pelé estava de volta à Caracas, para mais um evento. Outra vez, nosso amigo estava presente, mas dessa vez, apenas para assistir. E não é que, no meio do evento, o Pelé foi até ele e disse: “Não sei se você se lembra, mas a gente já se conhece!” Hehehe, nosso amigo ficou sem ter o que falar...

Descanso no parque Francisco Miranda, o maior de Caracas, na Venezuela (2007)

Descanso no parque Francisco Miranda, o maior de Caracas, na Venezuela (2007)


No nosso último dia em Caracas, fomos de metrô ao mais popular parque da capital, o Parque Generalissimo Francisco Miranda, mais conhecido como Parque del Este. Ele é famoso por sua botânica variada e jardins de cactos. Entre esquilos e crianças, foram momentos de paz e tranquilidade. Depois, era hora de pegar o metrô para voltarmos ao hotel e, de lá, ao aeroporto. Pois é, o mané aqui estava com carteira recheada no largo bolso da bermuda. Só faltava uma placa escrita: “Roubem-me!”. Não precisou da placa, não! Ao entrar no vagão do metrô, o que parecia uma estação vazia de repente se encheu, senti um empurra-empurra e um bolso mais leve. Bastaram poucos segundos para ficar duzentos dólares mais pobre, além de perder documentos e cartões de crédito. Assim que senti o bolso vazio, parti em perseguição de uma pessoa que saía rapidamente do vagão. A Ana, no último segundo antes que as portas se fechassem, saiu atrás de mim. Mas a pessoa que eu perseguia era apenas a isca. Seus colegas e minha carteira partiam no metrô que já estava em movimento.

Hora da leitura durante passeio no parque Francisco Miranda, o maior de Caracas, na Venezuela (2007)

Hora da leitura durante passeio no parque Francisco Miranda, o maior de Caracas, na Venezuela (2007)


Pois é, acabei, eu também, virando parte das estatísticas. Sinceramente, culpa minha mesmo. Vivendo e aprendendo! Felizmente, os passaportes estavam no hotel. Mas o resto, já era. Já com hora marcada para viajar, no meio da tarde, não deu tempo de fazer muita coisa a respeito. Seguiríamos para Los Roques com o pouco de dinheiro que a Ana ainda conseguiu tirar no caixa eletrônico. O problema é que, nas ilhas, em 2007, não havia bancos, nós não tínhamos hotéis reservados e apenas os meus cartões eram “internacionais”. Como nós iríamos nos virar por lá, isso ainda teríamos de descobrir. Assunto para eu pensar no avião, pelo menos nos poucos minutos em que eu conseguisse me esquecer do ódio que sentia dos ladrões e de minha própria estupidez...

Deliciosa refeição no parque El Avila, nas montanhas ao redor de Caracas, na Venezuela (2007)

Deliciosa refeição no parque El Avila, nas montanhas ao redor de Caracas, na Venezuela (2007)

Venezuela, Caracas, cidade, ViagemAntiga

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Los Roques 2007

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