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Karina (27/09)
Olá, também estou buscando o contato do barqueiro Tatu para uma viagem ...
ozcarfranco (30/08)
hola estimado, muy lindas fotos de sus recuerdos de viaje. yo como muchos...
Flávia (14/07)
Você conseguiu entrar na Guiana? Onde continua essa história?...
Martha Aulete (27/06)
Precisamos disso: belezas! Cultura genuína é de que se precisa. Não d...
Caio Monticelli (11/06)
Ótimo texto! Nos permite uma visão um pouco mais panorâmica a respeito...
Ana participa de banda de jazz em New Orleans, na Louisiana - Estados Unidos
Sempre achei que algumas poucas cidades dos Estados Unidos eram especiais, diferentes das outras. Entre elas, San Francisco, Nova Iorque e New Orleans. As duas primeiras eu já conhecia e realmente são incríveis. Mas New Orleans e sua famosa Bourbon Street, cidade de origem francesa onde se respira o jazz, essa eu só conhecia pela fama. Desde o início da nossa viagem dos 1000dias, estava no topo da lista de cidades que queríamos passar aqui no Tio Sam. Finalmente, chegou a hora e esses dois dias por aqui apenas confirmaram as nossas expectativas. New Orleans é especial!
Despedida do Andrew, em frente à sua casa em Tuscaloosa, no Alabama - Estados Unidos
Chegando à Louisiana, no sul dos Estados Unidos
A gente saiu ontem pela manhã de Tuscaloosa, depois de nos despedirmos do Andrew e Jen e nos prometer que o próximo encontro não demorará outros 13 anos. Cruzamos o Alabama, passamos outra vez pelo Mississipi e chegamos à Louisiana, estado à beira do Golfo do México. Não demorou muito e já estávamos cruzando a longa ponte sobre o lago Ponchartrain que nos leva até New Orleans, na boca do rio Mississipi.
A longa ponte para chegar à New Orleans (que já aparece ao fundo!), na Louisiana - Estados Unidos
O Superdome, qie ficou famoso na época do Katrina (em New Orleans, na Louisiana, nos Estados Unidos)
Passamos pelo Super Dome, enorme ginásio coberto que ficou famoso na época do Katrina e fomos para o Garden District, onde estão as melhores opções de hospedagem na cidade, charmosas casas transformadas em hotéis e pousadas. Não demorou muito para descobrirmos que chegar à New Orleans às vésperas de um final de semana sem reserva não é uma boa. Em todos os hotéis que averiguamos até havia lugar para a noite de ontem, mas para a de hoje, estavam lotados. Finalmente, depois de uma hora de procura, achamos um hostal meio escondido, numa rua lateral. Ótima opção, preço razoável, localização excelente.
Casa típica do Garden District, em New Orleans, na Louisiana - Estados Unidos
Afinal, além da vizinhança charmosa do Garden District, com suas casas centenárias, estávamos a um quarteirão da linha de bonde, o mais que simpático transporte para o French Quarter, o centro da cidade. Uns 10 minutos de bonde, ou trinta minutos de caminhada. É lógico que preferimos o bonde e assim foi nesses dois dias, bonde na ida e táxi na volta, já de madrugada.
Pegando o bonde em New Orleans, na Louisiana, nos Estados Unidos
O simpático bonde de New Orleans, na Louisiana, nos Estados Unidos
New Orleans tem origem francesa, os primeiros colonizadores de toda a região ao longo do Mississipi. A cidade era a mais importante em todo o curso do rio, pois controlava sua foz e portanto, o acesso à navegação do Mississipi. Em 1760, com a derrota na Guerra dos 7 Anos, a França cedeu todas as suas colônias na América do Norte, a parte ao leste do Mississipi para a Inglaterra e ao oeste para a Espanha. New Orleans passou a ter um governador espanhol.
Homenagem aos grandes nomes do jazz em New Orleans, na Louisiana, nos Estados Unidos
Quarenta anos mais tarde, o cenário tinha mudado. Os Estados Unidos tinham conseguido sua independência e controlavam todo o território ao leste do Mississipi. O rio já era uma importante artéria de comércio, toda a produção ao oeste dos Apalaches fluindo por suas águas. Para o novo país, era essencial manter o acesso livre no rio. Enquanto isso, na Europa, a França vivia sob Napoleão, mais forte do que nunca, mas sempre às turras com a Inglaterra. Os franceses tinham acabado de perder sua mais rica colônia no Caribe, o Haiti, depois de uma violenta rebelião dos escravos (o Haiti foi o segundo país das Américas a conseguir sua independência, logo depois dos EUA). Napoleão tinha grandes planos para o Novo Mundo e isso incluía o Haiti e a Louisiana, região onde está New Orleans, então sob controle espanhol.
St Louis Cathedral, em New Orleans, na Louisiana - Estados Unidos
Sob forte pressão francesa, os espanhóis acabaram cedendo toda a região novamente, num tratado secreto. Ao mesmo tempo, Napoleão mandou seus soldados reconquistarem o Haiti, que seria o centro do império francês nas Américas. A Louisiana serviria apenas para abastecê-lo. Para os americanos, um péssimo cenário, com uma grande potência logo ali do lado e controlando a foz do rio que já era vital para sua economia. Mas os planos de Napoleão foram vencidos pela febre amarela. Quase dois terços de seus soldados morreram no Haiti, depois de vitórias militares, mas sem saber lidar com a doença. Voltaram para casa de mãos abanando. Sem a posse da ilha, Napoleão já não via muito sentido na posse da Louisiana. Os americanos viram a grande oportunidade e se ofereceram para comprar a cidade e arredores. Para sua surpresa, Napoleão ofereceu muito mais: toda a região que ia da foz do rio até a fronteira atual com o Canadá, ao norte, e até as Montanhas Rochosas no oeste (claro que ninguém perguntou para os índios que ali moravam o que eles achavam do negócio...). Sem acreditar em tamanha sorte, os americanos não titubearam e fecharam negócio na hora. Por 15 milhões de dólares, duplicaram seu território e ainda garantiram a posse da tão ambicionada New Orleans. Junto com a terra, vieram algumas dezenas de milhares de católicos de origem francesa e espanhola, o que mudaria para sempre a composição da população americana, que na época era quase completamente protestante. Já Napoleão, usou todo o dinheiro da venda para financiar sua tão sonhada invasão da Inglaterra, o que nunca aconteceu. Muito pelo contrário, a França acabou ficando sem o Haiti, sem a Louisiana e sem Napoleão, vencido e preso pelos ingleses.
Banda de jazz toca nas ruas de New Orleans, na Louisiana - Estados Unidos
A posse da cidade era tão importante que foi justamente ali que se deu a principal vitória americana na guerra contra os ingleses, em 1811. A guerra terminou empatada, com algumas vitórias e derrotas para os dois lados. A capital, Washington, foi ocupada e queimada, mas New Orleans e o controle do rio resistiram ao ataque e, desde então, nada mais ameaçou a posse americana da região. Ao contrário, foi exatamente essa batalha que ajudou a cimentar o sentimento de nacionalidade americana entre os habitantes da região.
Homenagem a Louis Armstrong no parque que leva o seu nome, em New Orleans, na Louisiana - Estados Unidos
Outro componente essencial de New Orleans foi sua população negra. Os espanhóis transformaram a cidade no seu centro de distribuição de escravos. Então, quando a cidade passou para as mãos dos americanos, os negros já eram sua maioria. Na Guerra da secessão, New Orleans começou ao lado dos confederados, mas foi logo conquistada pela União. O caldeirão de culturas da cidade, espanhola, francesa, americana e africana, católica e protestante acabou criando, entre outras coisas, o jazz, música-símbolo de todo o país. Criou também o “Madrigas”, ou carnaval americano. Nasceu numa praça de New Orleans, hoje chamada de Congo Square, único lugar da cidade, e provavelmente do país, onde a população escrava podia se divertir de forma permitida e oficial, por alguns dias. As festas que ali faziam continuaram depois da abolição da escravatura, sempre com muita música. Acabou virando um festival e o maior carnaval do país.
Marujos caminham na famosa Bourbon Street, em New Orleans, na Louisiana, nos Estados Unidos
Casa de shows na Bourbon Street, em New Orleans, na Louisiana, nos Estados Unidos
Nessa cidade passamos dois deliciosos dias. Íamos de bonde para o centro e caminhávamos pela Bourbon Street. A mais famosa rua da cidade está tomada de bares que oferecem cerveja barata e shows de reputação duvidosa, meninas na porta, sempre com pouca roupa, convidando solteiros e casados a entrarem e darem uma olhada. A concorrência é enorme, não só na oferta, mas também na demanda. Afinal, são milhares de pessoas caminhando por ali, desde marinheiros nos dias de folga até excursões de estudantes vindas de todo o país. Soma-se a isso turistas de todo o mundo, famílias caminhando juntas e os convidados das dezenas de casamentos que são realizados na cidade todos os finais de semana (New Orleans concorre com Las Vegas como centro “casamenteiro” mais querido do país) e tem-se a Torre de Babel misturada com Gomorra que é a Bourbon Street. Sempre ao som de jazz que escapa das dezenas de bares e das bandas que se apresentam pela rua.
Congo Square, um raro lugar de diversão para os escravos em New Orleans, na Louisiana - Estados Unidos
Para poder respirar um pouco, seguíamos para as ruas laterais, para admirar a arquitetura completamente distinta da cidade, nada de arranha-céus envidraçados e lojas de fast-food. Pelo menos, não ali no centro histórico. Aliás, falando em comida, come-se muito bem por ali, cozinha típica do sul. Nosso jantar na noite de hoje, no Irene´s, fez cada minuto de espera ter valido à pena, um verdadeiro banquete, não na quantidade, mas na qualidade da comida. Uma delícia! Já de dia, ficávamos com os sanduíches locais, conhecidos como po´boys.
Po-Boy e cerveja da Louisiana em New Orleans, na Louisiana - Estados Unidos
Imperdível também é um passeio pela orla do Mississipi, quase em frente à principal praça da cidade, a belíssima Jackson Square. Por ali passam réplicas dos famosos barcos com aquelas enormes rodas d’água na popa. Hoje esses barcos levam turistas rio acima, mas por dezenas de anos eram o transporte mais conhecido da região, um verdadeiro símbolo de uma época e da navegação no Rio Mississipi.
Vendedor de rosas na Bourbon Street, em New Orleans, na Louisiana, nos Estados Unidos
O barco tradicional do Mississipi, que hoje faz passeios com turistas em New Orleans, na Louisiana - Estados Unidos
De noite, a melhor pedida é seguir para a Frenchmen Street, a poucos quarteirões dali. A rua se parece com o que deveria ser a Bourbon Street antes de ser tomada pelos shows de reputação duvidosa. São vários pequenos bares, um ao lado do outro, tocando excelente música e com plateia bonita e animada. Para quem gosta de jazz, vai adorar. Para quem não gosta, vai aprender a gostar! São jovens e velhos, homens e mulheres, brancos e negros, todos se misturando em bandas ecléticas tocando música da melhor qualidade. O prazer em transitar entre esses bares foi o mesmo que tivemos em Memphis, quando estávamos no meio do Blues. Que delícia ver com os próprios olhos (e ouvir com os próprios ouvidos!) que existe muita música além do rock. Ou, para baixar o nível, além do sertanejo e do Michel Teló. Não só existe a música como também uma legião de fãs entusiasmados que sabem apreciá-la.
Muito jazz nos bares da Frenchman Street, em New Orleans, na Louisiana, nos Estados Unidos
Muito jazz nos bares da Frenchman Street, em New Orleans, na Louisiana, nos Estados Unidos
Falando em música, ainda de tarde tivemos a sorte de passar pela catedral da cidade, justo na hora em que a banda da Marinha se apresentava por ali, aproveitando a excelente acústica do interior da prédio. Igreja lotada para o concerto, no meio da multidão dois brasileiros deslumbrados pela oportunidade de ouvir clássicos do jazz tocados de forma primorosa por uma banda de mais de 50 marinheiros. Muito joia!
Interior lotado da St. Louis Cathedral, em dia de apresentação de banda da marinha (em New Orleans, na Louisiana, nos Estados Unidos)
Apresentação da banda da marinha na St. Louis Cathedral, em New Orleans, na Louisiana, nos Estados Unidos
Amanhã cedo deixamos a cidade rumo à Flórida. Mesmo antes de sair daqui, já estamos com saudades. O clima festivo de New Orleans é contagiante, assim como o prazer de caminhar nas suas ruas charmosas onde as pessoas descansam em suas varandas e leem jornais na porta das casas, num ritmo de vida mais adaptado ao calor, sem o frenesi nova-iorquino, um tipo de ritmo baiano em pleno Estados Unidos. Só trocaram o axé pelo jazz...
Tarde de leitura em New Orleans, na Louisiana - Estados Unidos
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