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Karina (27/09)
Olá, também estou buscando o contato do barqueiro Tatu para uma viagem ...
ozcarfranco (30/08)
hola estimado, muy lindas fotos de sus recuerdos de viaje. yo como muchos...
Flávia (14/07)
Você conseguiu entrar na Guiana? Onde continua essa história?...
Martha Aulete (27/06)
Precisamos disso: belezas! Cultura genuína é de que se precisa. Não d...
Caio Monticelli (11/06)
Ótimo texto! Nos permite uma visão um pouco mais panorâmica a respeito...
Pablo Neruda e sua esposa, Matilde Urrutia
Um dos pontos altos do nosso dia em Santiago hoje foi a visita à casa onde morava Pablo Neruda, carinhosamente apelidada por ele de La Chascona. A casa fica aos pés do cerro San Cristobal e foi construída pelo poeta no início da década de 50 para abrigar a sua amante na época e futura esposa Matilde Urrutia. O nome da casa é uma homenagem a Matilde, que tinha os cabelos vermelhos e rebeldes. “Chascona” é uma palavra chilena de origem quéchua que significa exatamente isso: “cabelos revoltos”.
La Chascona, a casa de Neruda no bairro de Bella Vista, em Santiago, capital do Chile
La Chascona virou um museu a atrai visitantes de todo o mundo. Nós caminhamos por todos os cômodos da casa, que permanece como eram na época que o poeta vivia ali. Cada visitante recebe um áudio-guia que vai nos explicando sobre detalhes da casa e também sobre a vida de um dos maiores escritores do século XX, ganhador do prêmio Nobel de Literatura de 1971 e que morreu de câncer, dois anos mais tarde.
La Chascona, a charmosa casa de Pablo Neruda em Santiago, capital do Chile
Pablo Neruda nasceu Neftali Ricardo Basolato em 1904, e já mostrava seus dotes de poeta na adolescência, quando adotou seu codinome que, mais velho, seria transformado em nome oficial. Com menos de 30 anos já trabalhava no serviço diplomático, sendo cônsul chileno na Espanha, bem nos anos que precederam a sangrenta guerra civil naquele país. Vivendo em um país e num continente em que as diferenças políticas se exacerbaram ao máximo, numa guerra mortal entre comunismo e nazismo, identificou-se fanaticamente com os primeiros e assim permaneceu durante toda a sua vida. Escreveu odes a Lenin e Stalin, sendo um dos últimos grandes intelectuais de esquerda ocidentais a reconhecer os desvios do ditador soviético.
La Chascona, a charmosa casa de Pablo Neruda em Santiago, capital do Chile
No Chile, sempre foi um ativo político do Partido Comunista, tendo sido exilado por vários anos por suas convicções. Na eleição de Allende, abdicou de sua candidatura para apoiar o amigo e foi seu embaixador na França durante os primeiros anos de governo. Já era uma personalidade mundial muito antes disso, tanto política como artística. Em um de seus grandes momentos, foi chamado a discursar em um evento no estádio do Pacaembu, em 1945, em homenagem a Luís Carlos Prestes, quando leu seus poemas para uma multidão de 100 mil pessoas.
Um dos encontros de Neruda e Vinícius de Moraes, sempre regado a bons vinhos
Sua ligação com o Brasil era forte, tendo sido muito amigo de personalidades como Jorge Amado e Vinícius de Moraes. Com esses, mas também com outros intelectuais de todo o mundo, sempre tinha encontros calorosos, regados a boa bebida e muita alegria. Enfim, viveu bem esse grande homem. O auge veio com o Prêmio Nobel, em 71. Foi uma premiação muito controversa, principalmente pela recusa de Neruda em condenar a política soviética de censurar escritores daquele país que não se alinhavam com o partido. Mas no final, sua indiscutível capacidade literária venceu as questionáveis posições políticas. Quando voltou à Santiago após receber o prêmio, foi recebido como herói, declamando seus poemas novamente para uma multidão, dessa vez 60 mil pessoas no Estádio Nacional.
Visitando La Chascona, a casa de Neruda em Santiago, capital do Chile
A vida privada também era bastante agitada, com vários amores. O último e maior deles foi com Matilde, a chascona. O romance secreto teria se iniciado enquanto Neruda ainda era casado. Por isso construiu essa casa em Santiago. Alguns anos mais tarde, já separado, pode assumir o romance que duraria até sua morte. Foram 15 anos recebendo os amigos para conversas e jantares animados na casa que mais amava, construída bem ao seu gosto. Não poderia faltar objetos que remetessem ao mar, uma de suas grandes paixões, e aos bares, outra delas. A própria sala de jantar tinha o formato de um barco, enquanto na parte mais alta do terreno foi feito um bar com vista para a cidade.
Visita ao tradicional restaurante Venezia, em Santiago, capital do Chile
Infelizmente, esse homem que teve uma vida tão intensa não teve um final feliz. Enfrentava um câncer de próstata quando o governo que apoiava foi derrubado em um dos mais sangrentos golpes de estado no nosso continente. Allende morreu dentro do Palacio de la Moneda, e o general Pinochet assumiu o governo, logo transformado em uma ditadura. Neruda assistiu tudo pelo rádio e TV, convalescendo em uma de suas casas, em Isla Negra. Não demorou muito e sua casa foi invadida por agentes do novo governo, que procuravam “material subversivo”. O velho poeta, indignado, disse: “Olhem a sua volta! Não há nada de perigoso aqui, exceto poesia!”. Alguns dias mais tarde, foi internado e acabou morrendo no hospital, 12 dias após o golpe.
Com o Pablo, almoçando no tradicional restaurante Venezia, em Santiago, capital do Chile
Sempre houve uma suspeita de que ele teria sido envenenado pela ditadura, que temia a oposição e a língua ferina do mais famoso chileno vivo, mas uma autópsia recente não corroborou essa tese. Aparentemente, foi mesmo a tristeza de ver o governo popular pelo qual havia tanto lutado ser derrubado que acelerou a ação de seu câncer. Enquanto ele convalescia no hospital, a Chascona foi atacada por um grupo de vândalos e parcialmente destruída. Sua valente esposa, apesar das ameaças do novo governo, fez questão de organizar o velório na casa e, com isso, mostrar a toda imprensa internacional o que estava ocorrendo no país. O estado deplorável da Chascona era um exemplo vivo do que se passava no Chile. No enterro do poeta, repleto de agentes e policiais, deu-se o primeiro protesto público contra a ditadura que apenas se iniciava no Chile, a última façanha desse que foi o poeta maior da América Latina.
A mesa preferida de Pablo Neruda no restaurante Venezia, em Santiago, capital do Chile
Hoje, tivemos não só o prazer de conhecer a Chascona, os livros, móveis e fotografias que viviam ao redor desse valente casal, mas também um dos restaurantes preferidos de Neruda, o Venezia, onde era comum que ele almoçasse ou tomasse uns tragos. Aì, na sua mesa cativa, brindamos ao poeta à sua esposa, aquela de cabelos vermelhos e rebeldes, homenageada por um quadro presenteado por Neruda, que a retrata com duas faces, aquela que era vista em público e a outra, que apenas o poeta via. É, tantas viagens, tantos livros, tantos prêmios, tantos amores...que bela vida teve Neruda.
O famoso quadro de Matilde Urrutia, na Chascona, em santiago, no Chile
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