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Mergulho Técnico em La Taina

República Dominicana, Santo Domingo

A Ana se esgueira nas estreitas passagens da caverna La Taina, em Santo Domingo, capital da República Dominicana

A Ana se esgueira nas estreitas passagens da caverna La Taina, em Santo Domingo, capital da República Dominicana


Desde que fizemos nosso curso de mergulho em cavernas, há mais de três anos, no Brasil, que começamos a nos informar sobre onde estão alguns dos melhores pontos desse tipo de atividade pelo mundo afora. O Brasil, por exemplo, tem dezenas de belíssimas cavernas inundadas com uma água cristalina, um verdadeiro paraíso para mergulhadores. Só que, já faz algum tempo, a atividade de mergulho está interditada em todas elas, por força de lei. Pelo menos até que se faça o estudo de impacto ambiental que esse tipo de atividade causaria. É um estudo caro e os donos das áreas onde estão as cavernas não querem fazer esse investimento. Resultado: tudo fechado!

Preparando-se para mergulhar na caverna La Taina, em Santo Domingo, capital da República Dominicana

Preparando-se para mergulhar na caverna La Taina, em Santo Domingo, capital da República Dominicana


Fora do Brasil, aqui nas Américas, dois dos melhores lugares para esse tipo de mergulho são a Flórida, nos EUA, e o Yucatán, no México. Nós estivemos nos dois. As cavernas do Yucatán são mesmo impressionantes, um outro mundo aqui, tão perto do nosso e, ao mesmo tempo, tão desconhecido de todos. Aí estivemos há poucos meses, fizemos o curso de mergulho avançado em cavernas e nos certificamos para ir mais longe. Estávamos loucos para botar em prática os novos conhecimentos.

Início de mergulho, com tanques duplos e stage para descompressão, na caverna La Taina, em Santo Domingo, capital da República Dominicana

Início de mergulho, com tanques duplos e stage para descompressão, na caverna La Taina, em Santo Domingo, capital da República Dominicana


Essa chance apareceu aqui, na República Dominicana, outro lugar rico em cavernas submersas. A atividade está longe de ser desenvolvida como nos EUA e México, mas ao menos as cavernas não são proibidas como no Brasil. Na verdade, há apenas um operador no país para esse tipo de mergulho e nós já tínhamos entrado em contato com eles antes mesmo de voar para cá. Não queríamos perder essa chance e, ao final, deu tudo certo e fomos mergulhar hoje na caverna La Taina, na periferia de Santo Domingo.

O tradicional sinal de aviso no início de todas as cavernas, em La Taina, em Santo Domingo, capital da República Dominicana

O tradicional sinal de aviso no início de todas as cavernas, em La Taina, em Santo Domingo, capital da República Dominicana


O mergulho nessa caverna tem uma profundidade média bem maior do que os mergulhos que fizemos no México. Para quem entende do assunto, isso só pode significar duas coisas: ou fazemos um mergulho mais rápido, para nos manter nos limites não descompressivos, ou fazemos um mergulho técnico, com paradas descompressivas. Já tínhamos feito esse tipo de mergulho no mar, mas nunca em cavernas. Bom, sempre há uma primeira vez e achamos que aqui seria um ótimo lugar. Afinal, depois de tanto esforço, queríamos poder ficar mais tempo embaixo d’água e poder conhecer essa bela caverna cujo nome é uma homenagem aos antigos habitantes da ilha.

Formações submersas na bela caverna La Taina, em Santo Domingo, capital da República Dominicana

Formações submersas na bela caverna La Taina, em Santo Domingo, capital da República Dominicana


Quando mergulhamos, estamos em um ambiente de maior pressão. Quanto mais fundo, mais pressão, Basicamente, a cada dez metros, ganha-se outra pressão atmosférica. Quanto mais pressão, mais os nossos tecidos absorvem o nitrogênio que está no ar que respiramos. Antes de sair da água, é preciso dar tempo aos tecidos para “devolver” esse nitrogênio à corrente sanguínea e daí, ao ar que expiramos. Se sairmos da água com o nitrogênio ainda em nossos tecidos, aqui do lado de fora ele vai se transformar em bolhas, causando desconforto, dor, lesão e até causando a morte do mergulhador. É por isso que, quando mergulhamos mais fundo, ou ficamos pouco tempo por lá, para não dar tempo aos tecidos de absorverem muito nitrogênio, ou ficamos bastante tempo no final do mergulho a uma profundidade menor, para dar tempo ao organismo de se livrar do nitrogênio.

Mergulhando na caverna La Taina, em Santo Domingo, capital da República Dominicana

Mergulhando na caverna La Taina, em Santo Domingo, capital da República Dominicana


Há uma maneira simples de contornar esse problema. Se a dificuldade está no nitrogênio, que tal mergulhar sem ele? Para isso, temos de mergulhar com uma mistura diferente de gases do que estamos acostumados na nossa atmosfera. Substituímos o nitrogênio por outro gás. A primeira opção é o próprio oxigênio. Acontece que o oxigênio se torna tóxico ao organismo sob pressões mais elevadas. Então, ele só é uma opção para mergulhos mais rasos. A outra opção é o hélio. Mas o hélio é caro! Então, se não quisermos pagar muito caro pelo mergulho, temos de achar uma solução “intermediária”: mergulhamos com ar normal, mesmo, pelo menos enquanto estamos na parte mais profunda. Ficamos por lá o tempo necessário para fazermos nossos explorações e depois, com os tecidos repletos de nitrogênio, voltamos à parte mais rasa. Aí, ao invés de ficar esperando uma hora para o corpo de livrar do nitrogênio, passamos a respirar uma mistura rica em oxigênio, com bem pouco nitrogênio. Com isso, conseguimos nos livrar mais rapidamente desse gás e perder menos tempo por ali. O que seriam 40 ou 50 minutos de descompressão se tornam 10 ou 15 minutos!

A Ana se esgueira nas estreitas passagens da caverna La Taina, em Santo Domingo, capital da República Dominicana

A Ana se esgueira nas estreitas passagens da caverna La Taina, em Santo Domingo, capital da República Dominicana


Enfim, dificultamos um pouco a logística do mergulho, mas ganhamos bastante em tempo de fundo e economizamos em “tempo de raso”. Além dos nossos tanques duplos com ar “normal”, levamos outro, menor, com ar rico em oxigênio. Deixamos essa garrafa extra nos esperando no ponto onde faremos a mudança e percorremos a caverna apenas com nossos tanques duplos. Essa troca de garrafas, como disse acima, já tínhamos feito no mar, no nosso curso de mergulho técnico. Mas em cavernas, misturando agora nossos diversos conhecimentos, foi a primeira vez. Até por isso, ao invés de virmos solos, preferimos vir com um guia, profundo conhecedor da caverna.

Com o nosso guia, mergulhando na caverna La Taina, em Santo Domingo, capital da República Dominicana

Com o nosso guia, mergulhando na caverna La Taina, em Santo Domingo, capital da República Dominicana


A experiência foi fantástica! A caverna não é tão bonita como as mexicanas, mas também tem suas áreas cheias de espeleotemas, as formações de calcário como colunas, estalactites, estalagmites e outras, prova indubitável que já esteve, durante muito tempo, acima do nível do mar. Falando em mar, para nós, o mais belo e impressionante é quando, durante o mergulho, cruzamos a chamada “haloclina”, a fronteira entre a água doce e a salgada, que não se misturam. Ela é muito mais marcante aqui do que no México e, por uma feliz coincidência, uma parte grande dos túneis submersos está exatamente nessa profundidade. Isso quer dizer que estamos cruzando a haloclina o tempo todo, para cima e para baixo. Fantástico! É difícil descrever, mas a sensação é de que a água fica “embaralhada”, apesar de estar limpa como sempre. Mergulhando atrás da Ana, quando ela passava para o lado de lá, eu quase não a via mais. O que explica isso é a diferença de densidade dos dois tipos de água. É como quando vemos o ar “tremendo” encima de uma churrasqueira. Só que aqui, quem “treme” é a água.

Formações submersas na bela caverna La Taina, em Santo Domingo, capital da República Dominicana

Formações submersas na bela caverna La Taina, em Santo Domingo, capital da República Dominicana


Os túneis de La Taina também eram bem mais estreitos que no México, o que nos deu uma sensação completamente diferente. Em alguns pontos, precisávamos nos esgueirar. Mas passamos por salões grandes também, finalmente deixamos a haloclina para trás e chegamos a 40 metros de profundidade! Nesse ponto, a mais de 500 metros de distância da entrada da caverna e da confortável atmosfera, nem é bom pensar no quão estamos longe do “mundo normal”. Lá embaixo, confiança total em nossos equipamentos, companheiros e técnicas e protocolos aprendidos ao longo de tantos mergulhos. Enfim, era como se estivéssemos em Marte. Depois, na volta, toda a diversão da haloclina novamente até chegarmos aos tanques ricos em oxigênio. Uns dez minutos de “descompressão” e pudemos voltar para a superfície, muito felizes de termos completado com sucesso nosso primeiro mergulho técnico em cavernas. Inesquecível! Um motivo a mais para a República Dominicana estar, para sempre, na nossa memória, com direito a lugar de honra!

República Dominicana, Santo Domingo, Mergulho, Caverna

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Comentários (2)

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  • 31/10/2014 | 13:35 por Sheila Moralles

    Muito legal!! E descrição perfeita para quem não entende nada de mergulho como eu!
    Adoro mas ainda estou somente na contemplação, pronta para me matricular em uma boa escola de mergulho, e super inspirada por vocês....

    Resposta:
    Oi Sheila

    Faça mesmo o curso e aprenda a mergulhar. Lembre-se que 2/3 da Terra estão embaixo da água. É ali que está o planeta de verdade. O estranho e exótico é aqui encima, hehehe

    Brincadeiras a parte, vale muito a pena mergulhar!

    Beijos

  • 22/05/2013 | 13:14 por Luiz Jr. (Blog Boa Viagem)

    Fantásticas e indescritíveis sensações que conseguiram ser tão claramente narradas! Tem certos sentimentos que eu simplesmente consigo imaginar fazendo um mergulho como esse! Parabéns pela matéria completíssima e com riqueza de detalhes!

    Resposta:
    Olá Luiz

    Que legal que vc tenha gostado. Mergulhar em cavernas é uma experiência incrível, mas tentar passer isso a quem nos lê é tão ou mais difícil do que o próprio mergulho!

    Um grande abraço

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