0
Arquitetura Bichos cachoeira Caverna cidade Estrada história Lago Mergulho Montanha Parque Patagônia Praia trilha vulcão
Alaska Anguila Antártida Antígua E Barbuda Argentina Aruba Bahamas Barbados Belize Bermuda Bolívia Bonaire Brasil Canadá Chile Colômbia Costa Rica Cuba Curaçao Dominica El Salvador Equador Estados Unidos Falkland Galápagos Geórgia Do Sul Granada Groelândia Guadalupe Guatemala Guiana Guiana Francesa Haiti Hawaii Honduras Ilha De Pascoa Ilhas Caiman Ilhas Virgens Americanas Ilhas Virgens Britânicas Islândia Jamaica Martinica México Montserrat Nicarágua Panamá Paraguai Peru Porto Rico República Dominicana Saba Saint Barth Saint Kitts E Neves Saint Martin San Eustatius Santa Lúcia São Vicente E Granadinas Sint Maarten Suriname Trinidad e Tobago Turks e Caicos Uruguai Venezuela
Karina (27/09)
Olá, também estou buscando o contato do barqueiro Tatu para uma viagem ...
ozcarfranco (30/08)
hola estimado, muy lindas fotos de sus recuerdos de viaje. yo como muchos...
Flávia (14/07)
Você conseguiu entrar na Guiana? Onde continua essa história?...
Martha Aulete (27/06)
Precisamos disso: belezas! Cultura genuína é de que se precisa. Não d...
Caio Monticelli (11/06)
Ótimo texto! Nos permite uma visão um pouco mais panorâmica a respeito...
A casa de Chico Mendes, em Xapuri, no estado do Acre
Na noite do dia 22 de Dezembro de 1988, na pequena Xapuri, no sul do Acre, Chico Mendes conversava com sua esposa e brincava com a filha de quatro anos de idade, na sala da casa simples onde moravam na cidade. Nessa época, o seringueiro, sindicalista e ambientalista já tinha ganho fama internacional por sua luta em defesa da floresta e da criação de reservas extrativistas. Porém, os prêmios, homenagens e notoriedade que havia recebido não o tinham afastado de sua vida simples em Xapuri, e nem das constantes ameaças de morte que recebia na região.
Visitando o Memorial de Chico Mendes, em Xapuri, no estado do Acre
Frase de Chico Mendes, em em memorial em sua homenagem, em Xapuri, no estado do Acre
Chico era filho de imigrantes cearenses e já havia nascido em Xapuri. Desde criança, acompanhava o pai nas longas incursões pela floresta, sempre em busca das seringueiras de onde extraíam o látex, matéria-prima para a confecção da borracha. Assim, desde cedo, não só aprendeu o seu ofício, mas também os segredos da floresta amazônica. Como era norma por ali, não teve chance de aprender a ler e escrever, já que não existiam escolas nos seringais. Isso mudou no início da vida adulta, quando Chico conheceu e se tornou discípulo de Euclides Távora, um comunista das antigas, que havia lutado ao lado de Prestes, na Intentona de 1935. Falhado o golpe, Távora mudou-se para a Bolívia, onde participou da Revolução de 1952. Finalmente, voltou para o Brasil, pelo Acre, onde se estabeleceu em Xapuri, dedicando-se a alfabetizar os seringueiros. Um de seus alunos foi exatamente Chico Mendes.
Visitando a casa de Chico Mendes, onde ele viveu e foi assassinado, em Xapuri, no estado do Acre
Agora, Chico já não era mais um seringueiro “típico”, pois sabia ler, escrever e pensar longe. Essa transformação veio justamente quando a classe mais precisava de um líder. Afinal, estávamos na década de 70, quando havia um grande estímulo oficial à imigração e “desenvolvimento” do Acre. Traduzindo, a floresta estava sendo devastada para dar lugar à criação de grandes fazendas de gado. Sem a floresta, quem também perdia eram os seringueiros, expulsos das terras onde trabalhavam há gerações. Junto a outros líderes locais, Chico Mendes começou a organizar a resistência a esse movimento. As duas principais armas eram os “empates” e a atração da opinião pública nacional e internacional para o que se passava por ali.
Praça central de Xapuri, no estado do Acre
Os “empates” eram manifestações onde as pessoas protegiam as árvores com seus próprios corpos, impedindo que retroescavadeiras e tratores fizessem seu trabalho sujo. A tática teve seu mérito de salvar partes da floresta e, mais que tudo, em unificar a população em torno de uma causa. Mas o principal mérito foi o de atrair a atenção da mídia e de organizações estrangeiras. A fama e a pressão internacional fez com que bancos estrangeiros retirassem seu apoio a “projetos de desenvolvimento” na região, o que muito enfureceu os grandes proprietários de terra de Xapuri. A resposta veio através de ameaças, processos judiciais, violência e assassinatos.
O Nilson, primo de Chico Mendes, nos mostra uma seringueira no Seringal Cachoeira, próximo à Xapuri, no estado do Acre
Passeio na mata do Seringal Cachoeira, próximo à Xapuri, no estado do Acre
Pois bem, mesmo depois dos diversos prêmios internacionais, lá estava Chico Mendes na sua casinha simples em Xapuri, brincando com sua filha. Já era tarde, hora de tomar um banho e dormir. A casa não tinha banheiro interno, o chuveiro ficava do lado de fora, no quintal. Com a toalha nos ombros, Chico começou a descer a pequena escada nos fundos da casa, mas não chegou até o fim dela. Na sombra de uma árvore, lhe esperava em tocaia um capanga de um fazendeiro da região. Dois tiros de escopeta lhe atingiram em cheio. Chico ainda teve tempo de voltar para dento de casa e morrer nos braços da esposa e da filha. Morria um grande brasileiro que, entre seus principais legados, teve o mérito de idealizar e ajudar a implantar as chamadas Reservas Extrativistas, que hoje se espalham pelo país e que, ao mesmo tempo, protegem o meio ambiente e os que nele trabalham, de maneira sustentável, em comunhão com a natureza.
O Nilson nos mostra como se extrai o látex de uma seringeira, no Seringal Cachoeira, próximo à Xapuri, no estado do Acre
O látex escore de uma seringeuira no Seringal Cachoeira, próximo à Xapuri, no estado do Acre
A forte pressão internacional fez com que o crime fosse resolvido, ao contrário de tantos outros que o precederam. O mandante era mesmo um fazendeiro e o capanga, o seu próprio filho! Foram julgados e condenados. Alguns anos depois, fugiram da cadeia! Mas nova pressão internacional praticamente obrigou a justiça brasileira a recapturá-los. Presos, cumpriram sua sentença e hoje, vivem em liberdade. Inadvertidamente, deram ainda mais fama à sua vítima, fazendo com que sua luta prosperasse ainda mais. Os seringais do Acre agradecem à Chico Mendes, aos seus ideais e sua luta, mesmo depois de sua morte.
Uma gigantesca Samaúma no Seringal Cachoeira, próximo à Xapuri, no estado do Acre
Hoje, nós fomos à Xapuri conhecer essa história mais de perto. A casa onde o líder seringueiro vivia ainda está lá. Sua simplicidade espanta e comove. É difícil imaginar onde e como viveria Chico se ainda estivesse vivo, mas o fato é que, pelo mesmo até àquela época, toda a fama não o tinha afastado de suas raízes. É de tirar o chapéu! Em frente à casa, um memorial ajuda a contar a história, com várias fotos e frases marcantes de Chico Mendes. São visitas rápidas, mas de grande valor.
A lua brilha através da copa das árvores no Seringal Cachoeira, próximo à Xapuri, no estado do Acre
Em seguida, seguimos para o Seringal Cachoeira, a poucas dezenas de quilômetros da cidade. Foi justamente esse o Seringal que foi desapropriado do fazendeiro mandante do crime, alguns meses antes do assassinato. Ainda hoje está lá, um monumento de preservação em honra ao líder assassinado. Mais interessante ainda, lá vive e trabalha o simpático primo de Chico, Nilson Mendes. Ele leva turistas e visitantes à passeios pela floresta, para mostrar os segredos das árvores e ervas que ali crescem e, claro, nos ensinar como se extrai o látex das seringueiras.
Visita ao Seringal Cachoeira, próximo à Xapuri, no estado do Acre
Nosso chalé no Seringal Cachoeira, próximo à Xapuri, no estado do Acre
Há uma deliciosa pousada, que pertence à comunidade, no local. Assim, ficamos muito bem instalados no meio da mata. Nós chegamos ali já no final da tarde, bem no momento que o Nilson saía com dois outros visitantes para um passeio. Mais do que depressa, juntamo-nos ao grupo e tivemos uma verdadeira aula de ciências naturais. A quantidade de remédios que existe ali dentro é impressionante. É de partir o coração quando pensamos na quantidade de plantas e conhecimento que já se perdeu até hoje, com a intensa destruição de florestas, não só por aqui, mas por todo o planeta. Enfim, a esperança é a última que morre e a própria existência do Seringal Cachoeira nos mostra que ainda há pelo quê lutar! Passar duas horas caminhando por ali, acompanhado de uma verdadeira enciclopédia que é o Nilson Mendes, essa é uma experiência que eu recomendo a todas as pessoas!
Saindo de Xapuri, no estado do Acre, a caminho da fronteira com o Peru
Chegando à fronteira do Brasil e Peru, em Assis Brasil, no Acre
Quanto a nós, depois desse dia intenso, descansamos felizes em meio ao seringal que tão bem representa a vida e a morte desse incrível homem de nome Francisco. No dia seguinte, de almas purificadas, seguimos nossa viagem de conhecimento e auto-conhecimento pelas Américas. Uma vez mais, era hora de deixar o Brasil para trás e voltarmos às terras dos nossos hermanos e vizinhos. A Estrada Interoceânica, ou Carretera Transoceânica, como eles a chamam, liga o Brasil ao Peru, um novo caminho para nos levar de volta até os Andes. Assim, fomos até Assis Brasil, na fronteira, passamos pela ponte e, num passe de mágica, estávamos no Peru! Cusco é “logo ali”, mas no caminho ainda tem a simpática Puerto Maldonado. Pelo próximo mês, nossa língua volta a ser o castelhano!
De volta ao Peru, na Carretera Transaoceanica, a caminho de Puerto Maldonado
2012. Todos os direitos reservados. Layout por Binworks. Desenvolvimento e manutenção do site por Race Internet