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Karina (27/09)
Olá, também estou buscando o contato do barqueiro Tatu para uma viagem ...
ozcarfranco (30/08)
hola estimado, muy lindas fotos de sus recuerdos de viaje. yo como muchos...
Flávia (14/07)
Você conseguiu entrar na Guiana? Onde continua essa história?...
Martha Aulete (27/06)
Precisamos disso: belezas! Cultura genuína é de que se precisa. Não d...
Caio Monticelli (11/06)
Ótimo texto! Nos permite uma visão um pouco mais panorâmica a respeito...
Um Southern Giant Petrel (Petrel Gigante) voa sobre o Sea Spirit um dia antes de chegarmos às Ilhas Malvinas
Bastaram dois dias a bordo do Sea Spirit para eu já mudar duas ideias pré-concebidas que tinha dessa viagem. Primeiro, que não veríamos nada ou quase nada em alto-mar, nos percursos entre Buenos Aires e as Malvinas e depois, entre as Malvinas e a Geórgia do Sul. Segundo, que seria uma viagem de pouco aprendizado teórico e muita aprendizagem empírica, fruto da observação da vida selvagem e geologia das ilhas que vamos visitar. Pois é, tudo errado!
O irlandes Jim dá sua primeira palestra sobre pássaros do Atlântico Sul, no trecho entre Buenos Aires e as Ilhas Malvinas
Slide informativo na palestra sobre pássaros do Atlântico Sul, no trecho entre Buenos Aires e as Ilhas Malvinas
Slide informativo na palestra sobre pássaros do Atlântico Sul, no trecho entre Buenos Aires e as Ilhas Malvinas
Enquanto estamos longe de terra firme, nosso tempo no navio é preenchido por diversas palestras interessantíssimas sobre os mais diversos assuntos que se relacionam com essa viagem: vida selvagem, geologia das ilhas, glaciologia (estamos indo para uma região polar!) e história política e da exploração dessas regiões isoladas do mundo. As palestras são dadas por especialistas do assunto e que são os nossos guias nessa viagem. Por exemplo, temos o Jim, um simpático irlandês que é um ornitólogo apaixonado por pássaros do mundo inteiro. Ou o inglês Damien, historiador que estava na Geórgia do Sul quando a ilha foi invadida pelos argentinos em Abril de 1982. Ou ainda a Natalie e o Colin, biólogos marinhos especialistas em mamíferos, como baleias, golfinhos e leões marinhos. O Colin foi, nada mais nada menos, que o principal responsável pelo treinamento da orca Keiko (a famosa “Free Willy” dos cinemas!) para ele se readaptar à vida selvagem, quando ele foi solto nos mares da Islândia. Enfim, estamos muito bem acompanhados!
Um pássaro dá um rasante sobre o mar no trecho entre Buenos Aires e as Ilhas Malvinas (foto de JPSalakari)
Observando pássaros no trecho entre Buenos Aires e as Ilhas Malvinas (foto de Ken Haley)
Nas palestras, muitas fotos, dados e curiosidades sobre os animais que vamos e estamos encontrando no caminho, sobre o comportamento do gelo e aquecimento global, sobre como e quando os primeiros exploradores chegaram à Antártida, ou sobre as desavenças políticas e geográficas entre argentinos e ingleses. E o melhor de tudo é ter esses conhecimentos teóricos para, em seguida, observar aqueles mesmos pássaros e baleias dos slides voando e nadando ao nosso lado, ao vivo e a cores, ou pisar no mesmo pedaço de terra por onde caminharam os lendários exploradores Amundsen ou Shackleton e os soldados que lutaram e morreram na triste guerra de três décadas atrás. Teoria e prática perfeitamente combinadas!
As telas do Sea Spirit anunciam a programação do dia 05/11, com palestras de geologia e sobre cetáceos pela manhã e filmes de tarde e de noite
Palestra sobre cetáceos no auditório do Sea Spirit, no trecho entre Buenos Aires e as Ilhas Malvinas
Logo pela manhã, ou na verdade, na noite anterior, já ficamos sabendo da programação do dia, inclusive das palestras que serão proferidas. Agora no início da viagem, aprendemos muito sobre os pássaros que nos acompanham em alto mar e as baleias que migram por essas águas em busca do alimento abundante da costa da Antártida. Pouco antes de chegar ás Malvinas, aprendemos sobre a geologia e história política dessas ilhas perdidas, mas muito disputadas, no Atlântico Sul. Auditório sempre cheio, primeiro para ouvir os avisos que devem ser dados e depois, pela verdadeira aula que se segue.
Observando e fotografando aves no trecho entre Buenos Aires e as Ilhas Malvinas
Ao longe, baleias soltam seus enormes esguichos, para alegria dos viajantes do Sea Spirit, um dia antes de chegarmos às Ilhas Malvinas
Depois, com todo mundo já afiado no assunto de pássaros e baleias, é hora de subir ao deck munido de binóculos e câmeras fotográficas e começar a olhar para os céus e para o mar, em busca dos animais que acabamos de estudar. E aí é que entra aquela outra ideia que eu tinha, de que nada ou pouco veríamos em alto-mar. Ledo e grato engano!
Golfinhos nadam submersos ao lado do Sea Spirit, no trecho entre Buenos Aires e as Ilhas Malvinas
Um golfinho nada ao lado do Sea Spirit no trecho entre Buenos Aires e as Ilhas Malvinas (foto de Ken Haley)
Em primeiro lugar, conseguimos sim avistar algumas baleias ao longe, aquele esguicho de vapor característico nos chamando logo a atenção. Depois de uma longa temporada nos mares quentes da Bahia onde tem seus filhotes e os amamentam longe dos predadores, agora é a época de retornar aonde está seu alimento, nos mares gelados do sul. Passam meses quase sem se alimentar e nessa época do ano estão famintos, nadando a toda velocidade em direção à Antártida. Nós estamos um pouco cedo na temporada de baleias aqui no sul, mas devemos ver sim algumas delas, pelo menos as mais adiantadas e esfomeadas. Para quem tem esse como principal objetivo, é melhor vir um pouco mais tarde.
Diferentes espécies de pássaros acompanham o Sea Spirit um dia antes de chegarmos às Ilhas Malvinas
Diferentes espécies de pássaros acompanham o Sea Spirit um dia antes de chegarmos às Ilhas Malvinas
Além das baleias, também vimos alguns golfinhos, esses muito mais próximos do barco. São espécies bem diferentes das que estamos acostumados, que preferem as águas quentes de Fernando de Noronha ou do Havaí. Mas são igualmente belos, ágeis e curiosos, dando seus pulos ao lado do Sea Spirit e tentando averiguar do que se trata esse enorme monstro de metal locomovendo-se em seu território. E ainda aproveitam para achar e comer algum peixe que esteja também curioso pelas águas mexidas pelo movimento do barco.
Muitas aves voam próximas do Sea Spirit no trecho entre Buenos Aires e as Ilhas Malvinas
Muitas aves voam próximas do Sea Spirit no trecho entre Buenos Aires e as Ilhas Malvinas
É esse mesmo movimento que atrai centenas de pássaros ao nosso encontro. Muito mais do que golfinhos e baleias, são eles que nos acompanham, mais de dez espécies diferentes, de todos os tamanhos e com uma categoria impressionante de simplesmente planar no ar, raramente usando suas asas. O movimento do barco mexe com o plâncton, o que atrai os pequenos peixes e seus predadores. Os pássaros já sabem disso e vêm de longe dar uma olhada no navio e no rastro que deixa para trás. E nós, lá no nosso deck de observação, a mais de 1.000 km de qualquer terra firme, ficamos cercados por pássaros. É impressionante!
Pássaros voam perto do Sea Spirit no trecho entre Buenos Aires e as Ilhas Malvinas
Pássaro se aproxima do Sea Spirit no trecho entre Buenos Aires e as Ilhas Malvinas (foto de Mitch Jasechko)
Não fosse pela palestra da manhã com o Jim, lá estaríamos admirando tudo, mas sem entender nada. Mas aprendemos que várias dessas espécies de pássaros, que para olhos e mentes menos treinadas parecem estar perdidas no meio do nada, na verdade vivem por aqui. São pássaros que passam meses a fio em alto mar, nem sombra de terra por perto. Voam e planam por milhares de quilômetros, quase sem gastar energia e se alimentando de peixes. Volta e meia, pousam na água, refrescam-se e descansam um pouco para, em seguida, alçar voo novamente. A facilidade com que planam minutos sem uma única batida de asas é mesmo incrível. Parecem ver as correntes de ar e de vento e usam sua força para flutuar no ar. Um completo domínio de seu centro de gravidade, inclina daqui, inclina dali e conseguem acelerar ou frear, virar a esquerda e a direita sem nenhum esforço aparente. Um verdadeiro show de aeromodelismo!
Um Black-browed Albatross (Albatroz de Sobrancelha) voa sobre o Sea Spirit um dia antes de chegarmos às Ilhas Malvinas
Muitos Southern Giant Petrel (Petrel Gigante) acompanham o Sea Spirit um dia antes de chegarmos às Ilhas Malvinas
O mar é seu ambiente natural. Vão para terra firme apenas para se reproduzir e os que nascem, aí passam a sua infância. Mas adolescentes e adultos, esses ficam mesmo, boa parte do tempo, no oceano. Pássaros marcados com radiotransmissores indicam que eles tem a mais perfeita noção de onde estão, apesar de que, no mar, sem terra a vista, tudo parece igual. Não para eles que, além de “ver” o vento, parecem “ver” também o campo magnético da Terra. E assim conseguem se orientar, algumas vezes voando mais de 2 mil km em linha reta até alguma ilha, outros mil até outra ilha e ouros dois mil até o ponto inicial, descrevendo um perfeito triângulo de enormes proporções sobre esse mundo formado de água. Olhar esse traçado no mapa chega a ser emocionante, uma inteligência cercada de habilidades se escondendo atrás de penas e bicos. Incrível!
Um magnífico Black-browed Albatross (Albatroz de Sobrancelha) plana sobre o Sea Spirit um dia antes de chegarmos às Ilhas Malvinas
O belo Great Shearwater (Pardela de Bico Preto) sobrevoa o Sea Spirit um dia antes de chegarmos às Ilhas Malvinas
Como eu já disse, são várias espécies de pássaros que tem esse comportamento semelhante e a nossa diversão é tentar identificá-las em pleno voo. É claro que o Jim, nosso ornitólogo preferido, ajuda bastante. Sua presença ali no deck e a animação com que identifica e descreve cada um desses pássaros nos contagia. Alguns dos pássaros que ali vemos são os maiores do mundo, pelo menos em envergadura. São os albatrozes e, de ponta a ponta das asas, chegam quase a incríveis 4 metros! Muitos desses pássaros que vimos por aqui, acabamos aprendendo primeiro seus nomes em inglês (com sotaque irlandês, hehehe), para só depois, com ajuda da internet, descobrir seus nomes em português. Vimos vários tipos de albatrozes (Black-Browed, Grey Headed, Southern e Northern Royal), pardelas (Great, Manx, Sooty, Southern Fulmar) e petrels (Northern e Southern Giant, Cape, White-chinned, Wilson, Atlantic, Soft-plumaged, Black-bellied, Thin-billed). Até mesmo pinguins, mas esses, como todos sabem, não voam. Eram pinguins-de-magalhães e ainda vamos ver centenas deles, dessa e das outras espécies de pinguins, a ave-símbolo da Antártida. É só chegarmos mais perto de terra firme.
Muitas aves voam próximas do Sea Spirit no trecho entre Buenos Aires e as Ilhas Malvinas
O belo Great Shearwater (Pardela de Bico Preto) sobrevoa o Sea Spirit um dia antes de chegarmos às Ilhas Malvinas
Enfim, a brincadeira é fazer uma lista de todas as espécies que vemos e ir aumentado a tal lista todos os dias. Ao final do terceiro dia, já tínhamos 4 espécies de mamíferos e 22 de aves. É um bom começo, não? Por enquanto, as aves vão dando um show, ainda mais agora que nos aproximamos das Malvinas. Elas estiveram conosco toda a manha e principalmente pela tarde. Embelezaram ainda mais o pôr-do-sol e, mesmo com a tímida luz da lua, continuavam a nos acompanhar. É o paraíso para os amantes dos pássaros, sem dúvida!
Durante o entardecer, os pássaros continuam a nos acompanhar um dia antes de chegarmos às Ilhas Malvinas
Um pássaro, já com a lua brilhando, voa sobre o Sea Spirit um dia antes de chegarmos às Ilhas Malvinas
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