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O primeiro programa do dia foi visitar a Laura na clínica onde ela está...
O grande líder da revolução haitiana que se iniciou em finais do séc ...
A praia La Flor localiza-se a vinte quilômetros ao sul de San Juan del S...
Palu (26/11)
Sorte de vcs terem conhecido bonito antes da popularizacao...
marco rodrigues (25/11)
Ana e Rodrigo, nosso Brasil é enorme, diversificado e lindo! Parabéns p...
Maria Cecilia Tosato (24/11)
A lagoa é fantástica ,as fotos , o mistério, a cõr ,profundidade ???....
Luis (21/11)
Fala Rodrigo! Onde estão agora? Se passar pelo PN das Emas tenho algumas...
Priscila (21/11)
Oi! Tudo bem? Estou querendo conhecer esse pedacinho do paraíso! Onde vc...
A Missão Franciscana de san Jose, perto de San Antonio, no sul do Texas, nos Estados Unidos
Os espanhóis conquistaram as Américas com três poderosos e eficientes exércitos. O primeiro eram os soldados propriamente ditos, “los conquistadores”. Com um punhado de soldados e alguns cavalos, mas com muita astúcia, Cortez e Pizarro derrotaram poderosos impérios que comandavam milhões de pessoas, os astecas e os incas, respectivamente. Outros povos menos conhecidos tiveram a mesma sorte (ou azar!) nas mãos e espadas dos espanhóis.
Guia leva grupo para conhecer a Mission de San Jose, perto de San Antonio, no sul do Texas, nos Estados Unidos
O segundo exército foram os germes e micróbios trazidos do velho mundo. Uma verdadeira guerra biológica que matou, em menos de um século, mais gente nas américas do que morreram nas duas guerras mundiais do séc XX somadas. Quem realmente conquistou o continente e colocou os antigos habitantes e civilizações da América de joelhos não foram espanhóis, portugueses ou ingleses, mas a varíola.
A Missão Franciscana de san Jose, perto de San Antonio, no sul do Texas, nos Estados Unidos
Por fim, na retaguarda, vinha o exército da cruz, padres, bispos e freis de diversas ordens religiosas que tinham por objetivo catequizar as populações locais, aumentando o rebanho da igreja e os súditos dos reis de Espanha. Traziam a fé católica e a cultura europeia, ajudando a “civilizar” os nativos, ensiná-los a usar roupas, cantar e rezar em latim. Mas, ironias à parte, não só isso, claro. Essas ordens foram alguns dos poucos movimentos a tentar proteger os índios da escravidão, a tentar preservar parte da sua cultura a ajudá-los a se adaptar ao novo modo de vida que lhes era imposto.
As belas janelas da Mission de San Jose, perto de San Antonio, no sul do Texas, nos Estados Unidos
Entre as ordens mais ativas, estavam jesuítas, franciscanos e dominicanos. Eles estabeleciam as chamadas missões ao longo das fronteiras e linhas de frente das colônias, muitas vezes sendo os primeiros a ter contato com a população nativa. Aprendiam seu idioma, para poder se comunicar melhor, assim como a sua cultura, até para ajudar a descobrir a melhor maneira de chegarem aos seus corações e mentes, para poder catequizá-los. Muitas vezes, eram empreitadas perigosas, e não são poucos os casos de padres que morreram a flechadas ou no caldeirão de alguma tribo antropófaga.
As belas janelas da Mission de San Jose, perto de San Antonio, no sul do Texas, nos Estados Unidos
Mas, de maneira geral, tiveram bastante sucesso naquilo que pretendiam. O catolicismo “conquistou” o continente, franciscanos e jesuítas os mais eficientes nesse processo. Ao longo de nossa viagem, estivemos em várias dessas missões, que se espalharam da Argentina à California. E chegaram aqui no Texas também, sob a mãos dos franciscanos. O Alamo, onde estivemos ontem, era originalmente uma missão. Mas não a maior delas. Essas, ficavam um pouco mais ao sul, onde estivemos hoje. A mais bela e famosa é a Mision de San Jose, muito bem restaurada. Nossa intenção era passar rapidamente e já seguir para a fronteira, para cruzar para o México ainda hoje. Mas gostamos tanto do que vimos que estendemos o passeio e resolvemos dormir ainda do lado de cá, na cidade de Laredo, ao lado do México, mas ainda nos Estados Unidos. Afinal, diz o bom senso, mais seguro do lado de cá que do lado de lá, principalmente de noite e colado na fronteira. Amanhã cedo, aí sim, entraremos com força total no mundo latino, do qual temos tantas saudades.
Cemitério da Mission San Jose, perto de San Antonio, no sul do Texas, nos Estados Unidos
Na Mision San Jose, acompanhamos um tour gratuito que é dado de hora em hora. Muito joia e elucidativo. Vimos como viviam os índios e frades aqui da Mision, como era o trabalho de catequese e a divisão de tarefas para manter tudo funcionando, população alimentada e vestida. Posso ter minhas críticas para o papel da igreja nesse processo de colonização, mas é impossível não reconhecer também os méritos. Eram eles os grandes e talvez os únicos protetores dos índios num mundo que não mais lhes pertencia. Não é a toa que, lá pelas tantas, jesuítas foram expulsos das colônias espanholas e portuguesas da América. Sem eles, seria mais fácil explorar os indígenas.
A fachada da Mission San Jose, perto de San Antonio, no sul do Texas, nos Estados Unidos
Mas, nem todos os indígenas precisavam da igreja para defendê-los. Muitos, nunca se converteram ou se “civilizaram”. Na verdade, as missões e os índios apaziguados e convertidos eram apena mais uma vítima de seus ataques e pilhagens. Exemplos assim se espalham pelo continente, mas aqui na América do Norte, o melhor exemplo são as tribos do oeste americano e, entre os mais ferozes, Comanches e Apaches.
Visitando a missão franciscana de San Jose, perto de San Antonio, no sul do Texas, nos Estados Unidos
Assim que os espanhóis começaram a colonizar o continente, no início do séc XVI, alguns de seus cavalos fugiram. Aos poucos, esses animais migraram para o norte, chegando às grandes pradarias, ambiente ideal para a espécie. Não demorou muito e já eram enormes manadas correndo livres pelos campos. Imagina o susto das tribos que ali viviam por milênios, sem nunca ter visto um animal parecido e, de repente, lá estão eles. Ao contrário de incas e astecas, que nunca tiveram tempo para se adaptar a esse novo animal e verdadeira máquina de guerra, pois foram conquistados logo no início, Apaches e Comanches tiveram alguns séculos para aprender a viver com cavalos e fazê-los parte de seu modo de vida. Quando a civilização finalmente os alcançou, em finais do século XVIII, já eram exímios cavalheiros.
Visitando a missão franciscana de San Jose, perto de San Antonio, no sul do Texas, nos Estados Unidos
Além disso, através do comércio com os brancos, também tiveram acesso às armas de fogo. Ou seja, dominavam bem duas das principais inovações que ajudaram espanhóis a derrubar de uma só vez as grandes civilizações pré-colombianas. De vítimas, passaram á algozes e os mexicanos eram suas vítimas preferenciais, mesmo antes da independência da Espanha. Por décadas e décadas, combateram em pé de igualdade, pilhagens para cá e expedições punitivas para lá. As missões... estavam no meio do caminho.
A Missão Franciscana de san Jose, perto de San Antonio, no sul do Texas, nos Estados Unidos
Bem, aos poucos, índios catequizados, as missões foram perdendo a importância e sendo desativadas e abandonadas. A de San José, após ser quase totalmente destruída pelo tempo, foi restaurada pelo governo americano, a partir da década de 50. Hoje, são um colírio para os olhos que quem as visita, um lembrete de que, do Paraguay (onde vistamos belíssimas missões jesuítas) ao Texas, foram os espanhóis os donos do pedaço. Quanto aos índios ferozes do norte, resistiram o quanto puderam. Mas acabaram, eles também, por sucumbir à civilização, ao General Custer, ao mais poderoso exército do mundo e ao Rin-Tin-Tin. É a marcha inclemente do progresso e da civilização, seja através da espada, da cruz ou da varíola.
Área central da Mission San Jose, perto de San Antonio, no sul do Texas, nos Estados Unidos
Sorriso depois do delicioso almoço na Playa de La Boca, ao final da Playa Santa Lucía, no costa nordeste de Cuba
Na madrugada de hoje, dia 25, nos despedimos pelo celular dos nossos amigos, companheiros de viagem e padrinhos de casamento, Rafa e Laura. O plano não era esse. A despedida deveria ter sido na animada noite de Havana, entre mojitos e boa música. Mas o destino e a companhia cubana de aviação não quiseram assim. Os dois ganharam um chá de cadeira no aeroporto de Santiago e, quando finalmente chegaram à Havana, já não havia mais tempo hábil de vir e voltar da cidade antes de embarcarem de volta ao Brasil.
Com o Rafa, buscando informações no livro durante passeio pelo centro de Havana - Cuba (foto de Laura Schunemann)
Os dois casais em táxi em Havana (foto de Laura Schunemann)
Essa é a segunda vez que eles vêm nos encontrar na parte internacional da nossa viagem. A outra tinha sido no Equador e em Galápagos. Antes disso, no Brasil, também tivemos o prazer de sua companhia no litoral norte paulista e na deliciosa Itaúnas, no Espírito Santo.
Com os amigos cubanos em boteco tradicional de Havana (foto de Laura Schunemann)
A bordo do avião rumo à Isla de La Juventud, em Cuba (foto de Laura Schunemann)
Aqui em Cuba foram doze dias de convivência, cortando a ilha de oeste à leste, dividindo o mesmo carro e as mesmas Casas de Hóspedes. Viajar acompanhado de outras pessoas quebra a nossa rotina de viagens nesses 1000dias. Passamos a compartilhar opiniões e momentos com mais pessoas, vemos outros pontos de vista, dividimos nossas conversas, compartimos nosso tempo.
A prisão onde ficou Fidel por quase dois anos, na Isla de La Juventud (foto de Laura Schunemann)
Visita ao mercado municipal de Cienfuegos - Cuba (foto de Laura Schunemann)
Aprendemos, ensinamos, discutimos, interagimos. O “mundo” fica mais complexo. Ao invés de satisfazer os desejos e curiosidades de duas pessoas, agora somos quatro. Cede-se aqui, ganha-se ali e, no fim, todos aprendemos e nos divertimos. Muito joia!
Café da manhã na Casa de Hóspedes de Cienfuegos - Cuba (foto de Laura Schunemann)
Bailando salsa em Playa Ancón, em Trinidad - Cuba (foto de Laura Schunemann)
Outra coisa muito legal é que eu e a Ana passamos a ser objeto de fotos também. Especialmente porque a Laura é amante da fotografia. Quando estamos viajando sós, para sairmos juntos em fotos, só pedindo para alguém nos fotografar. São fotos posadas. Belas, mas não naturais. Agora, viajando com uma fotógrafa, muitas vezes somos retratados no nosso cotidiano de explorações, algumas vezes sem nem sabermos que estamos sendo clicados. Momentos captados que serão guardados para sempre, ajudando a tornar mais vivas as memórias que levaremos conosco e que tendem a se desvanecer com o tempo.
Fim de tarde em Havana - Cuba (foto de Laura Schunemann)
Fim de tarde em Havana - Cuba (foto de Laura Schunemann)
Bom, queridos padrinhos, muito obrigado pela companhia novamente. Aguardamos ansiosos a próxima oportunidade, seja no Hawaii, seja no Alaska ou em qualquer outro lugar desse pequeno e vasto continente. Serão sempre benvindos! E não se esqueçam de trazer a máquina!
Com o nosso carro em Playa Ancón, em Trinidad - Cuba (foto de Laura Schunemann)
A Laura em um dos cinquentenários táxis de Havana (foto de Rafael Silva)
Cachoeira do Encontro, no rio da Cachoeira da Fumacinha, região de Ibicoara, na Chapada Diamantina - BA
A Cachoeira da Fumacinha fica no fundo de um comprido canyon na região de Brejão, distante quase 35 km de Ibicoara. Um trilha de cerca de 2 km leva até o leito de pedras do rio. Daí para frente, é por aí mesmo, de pedra em pedra, através de cada curva do canyon, até a cachoeira. Para conseguir fazer esse trajeto, o rio não pode estar muito cheio e nem as pedras podem estar molhadas.
Eram cinco da manhã quando partimos de Ibicoara, o dia começando a clarear e nuvens pesadas no céu, as montanhas escondidas na neblina. Pouco mais de meia hora mais tarde, já sob uma garoa fina, já estávamos na casa do Seu Luís, dono da fazenda Brejão. Era lá que deveríamos ter dormido, se tivéssemos conseguido organizar tudo ontem. Na casa, organizaram um café da manhã para nós enquanto a chuva caía mais forte lá fora, para preocupação do nosso guia Janu. Eram quase sete horas quando a chuva parou e a gente seguiu vale adentro, ainda de carro, alguns quilômetros até o início da trilha.
Rio avermelhado da Cachoeira da Fumacinha, região de Ibicoara, na Chapada Diamantina - BA
Os 2 km de trilha passaram rápido e chegamos ao rio de águas bem avermelhadas, quase negras. Ele estava bem volumoso. Mais tarde, o Janu me disse que nunca havia subido o rio com tanta água. Já não chovia, mas as pedras estavam extremamente escorregadias. Fomos seguindo bem lentamente o Janu, que escolhia o melhor caminho sobre as pedras. Após termos de cruzar o rio algumas vezes e tirar as botas e meias para fazer isso, resolvemos seguir descalços mesmo. Além de escorregar bem menos, evitava o trampo de tirá-las e recolocá-las.
Um dos poços no rio da Cachoeira da Fumacinha, região de Ibicoara, na Chapada Diamantina - BA
O ritmo aumentou bastante então, mas muitas horas já tinham se passado. Chegamos ao maior do poços do rio e o Janu disse que era melhor voltar, que não teríamos tempo de chegar. A paisagem era linda, paredes de pedra gigantes e o rio caudaloso, com pequenas quedas aqui e ali. Conversamos e decidimos seguir por mais uma hora. Não daria tempo de chegar, mas certamente poderíamos aproveitar mais aquele cenário grandioso.
Nadando na Cachoeira do Encontro, no rio da Cachoeira da Fumacinha, região de Ibicoara, na Chapada Diamantina - BA
Seguimos então até a Cachoeira do Encontro, onde o canyon bifurcava. Até lá, tinham sido quatro horas de caminhada. Segundo o Janu, 3/4 do caminho. O rio cheio e as pedras escorregadias nos atrasaram muito. Ele disse também que, mesmo em condições ideais, o melhor mesmo é vir preparado para dormir no caminho, em uma toca. Enfim, ali lanchamos e tomamos um belo banho. A Cachoeira da Fumacinha, linda pelas fotos que vimos, resolveu se guardar desta vez. Um estímulo a mais para voltarmos a essa região maravilhosa chamada Chapada Diamantina.
Caminhando ao longo do rio da Cachoeira da Fumacinha, região de Ibicoara, na Chapada Diamantina - BA
A volta foi mais rápida que a vinda e menos de 3 horas mais tarde já estávamos na casa do seu Luís novamente. Ali almoçamos e tivemos uma gostosa conversa com ele. Seu Luís nos contou que toda aquela região tinha sido desbravada pelo seu trisavô. As terras foram sendo divididas pela família até que seu pai ficou com a fazenda em que estávamos, a Brejão. O pai acabou vendendo a fazenda mas, anos mais tarde, Seu Luís conseguiu recomprá-la. Tem muita coisa lá dos tempos antigos. Inclusive, a tradição centenária de fazer uma pinga de alambique envelhecida no carvalho. Uma delícia! Ao final da conversa, eu que já tinha encomendado a pinga na noite anterior, quando voltávamos do Buracão, ganhei de presente uma garrafa dela. Hmmmmm! Estamos bem servidos por um bom tempo!
Caminhando ao longo do rio da Cachoeira da Fumacinha, região de Ibicoara, na Chapada Diamantina - BA
Voltamos para Ibicoara, deixamos o Janu por lá e seguimos de volta para Mucugê e de lá, para Igatu, a "cidade fantasma" da Chapada, toda de pedra. Já chegamos anoitecendo e fomos direto para a Pousada Pedras de Igatu, tão bem recomendada pela Mônica. Aproveitamos seu charme e conforto para descansar e nos recarregar para o dia seguinte, tão cheio de programações: explorar Igatu, visitar o Poço Azul e seguir até Feira de Santana, para fazer a revisão dos 20 mil km da Fiona.
Pé de abacaxi, na trilha para a Cachoeira da Fumacinha, região de Ibicoara, na Chapada Diamantina - BA
A praça central de Minas, no Uruguai
Aproveitamos nossa última manhã em Colonia del Sacramento para, pela internet, pesquisar, escolher e reservar um hotel na pequena e isolada Cabo Polonio, uma praia no Uruguai onde não se pode chegar de carro. Marcamos para a próxima quinta e sexta, portanto temos outros três dias para chegar até lá. Essa era nossa última preocupação para reservar hotéis aqui no país, já que nas outras cidades, teremos tempo e tranquilidade para definir nossa estadia no momento em que chegarmos. O pagamento, fizemos por um sistema que existe no Uruguai chamado Rede Pago, presente em todas as cidades. Pagamos aqui, em alguma casa comercial associada ao sistema e o dinheiro chega lá. Com esse assunto resolvido, hora de pegarmos estrada!
Antes de seguirmos para a praia, ainda queríamos passar no interior do país, em uma das poucas regiões de serra do Uruguai. Quando estamos explorando um país, é claro que gostamos de conhecer suas atrações mais conhecidas. Mas sempre procuramos também alguma região ou cidade desconhecida dos turistas. Quase sempre, é aí que chegamos mais perto da alma do país e de seus habitantes. Para descobri-lo, alguma pesquisa na internet, livros-guia e, principalmente, conversas com os habitantes locais. Normalmente, é daí que saem as melhores ideias. E foi assim que surgiu o nome de Minas. Mineiro que sou, já simpatizei logo de cara. Depois, ao descobrir que se tratava de uma região de serra, aí me decidi de vez! É para lá que vamos! Quem sabe, achamos até uma cachoeira e uma goiabada?
Chegando à fábrica da Patricia, a mais popular cervejaria do uruguai, na região de Minas, no sul do país
Cervejaria Patricia, estrategicamente construída ao lado do parque Salus, fonte da melhor água mineral do país, na região de Minas, no Uruguai
Minas fica a nordeste de Montevideo, na direção do interior. Nosso caminho de Colonia até lá não passa pela capital, desviando-se um pouco antes. São quase 300 quilômetros, ou cerca de três horas nas sempre tranquilas estradas uruguaias. Mas não fomos diretamente. Um pouco antes, paramos no parque Salus, onde está a principal fonte de água mineral do país. Aliás, é esta a água que bebemos em todo o Uruguai, a marca Salus, tão comum em restaurantes e supermercados. Uma boa maneira de começar a compreender um país é exatamente em seus supermercados, observando quais as marcas mais populares, de água a chocolate, de sabão em pó a cerveja. Aqui no Uruguai, a água é Salus e Salus é aqui de Minas. Aliás, o próprio nome da região e da cidade, Minas, refere-se às minas de água presentes nessa região serrana.
Chegando ao parque Salus, de onde vem a famosa água do país, na região de Minas, no Uruguai
Nós chegamos ao parque esperando encontrar uma das “instituições” uruguaias, mas, ao invés disso, encontramos duas delas! Isso porque, além da engarrafadora de água mineral, ali também está instalada a fábrica da Patrícia, a cerveja mais popular do Uruguai. Como todos sabemos, o principal ingrediente de uma cerveja é a água e a Patricia foi esperta o suficiente para fazer sua fábrica justamente ao lado da fonte mais saudável de seu principal ingrediente! Realmente, esse parque vale ouro para o país, hehehe!
A fonte de água mineral Salus, na região de Minas, no Uruguai
bebendo a água direto da fonte! No parque salus, região de Minas, no Uruguai
Nós não entramos na fábrica da Patricia e nos contentamos em fotografá-la de fora. Depois, fomos até a engarrafadora Salus. Com nossas garrafas em mãos, seguimos até a fonte pública e ali nos abastecemos da mais pura água uruguaia. Aproveitamos também para dar um bom passeio nos bosques e jardins do parque, repleto de flores. Não sei o quão popular é o parque entre os habitantes locais, mas hoje, uma segunda-feira, éramos só nós por ali, aproveitando o ar puro, água fresca, sombra e visual florido.
Muitas flores nos bosques e jardins do parque Salus, na região de Minas, no Uruguai
Muitas flores nos bosques e jardins do parque Salus, na região de Minas, no Uruguai
Depois do parque, rumo a Minas. É uma cidade pequena, cercada por serras e centrada em uma grande praça. Mais ou menos como o livro guia havia dito, “o principal charme dessa cidade pequena é exatamente ser uma cidade pequena”. Não sei se influenciado pelo nome, mas a minha sensação era a de estar em alguma cidade no interior da minha Minas Gerais. A praça, bem arborizada, está em frente à maior igreja da cidade. Ali do lado também está o principal hotel, o banco (no caso, não é o banco do Brasil, como seria, se estivéssemos mesmo em Minas Gerais), algumas lojas e restaurantes. Entre eles, o mais famoso de Minas. Na verdade, uma confeitaria, a Irisarri. Puro charme e tradição, foi aí que nos refestelamos em suas guloseimas, quando passamos pela cidade no dia seguinte. Não tinha a minha goiabada, mas o que não faltava em seus balcões eram doces. Respeitando as devidas proporções, vir a Minas e não parar na Irisarri é como ir ao Vaticano e não ver o papa!
Muitas flores nos bosques e jardins do parque Salus, na região de Minas, no Uruguai
Muitas flores nos bosques e jardins do parque Salus, na região de Minas, no Uruguai
Por fim, como não poderia deixar de ser, uma estátua adorna o centro da praça. Ela faz uma homenagem a uma batalha ocorrida a quase 190 anos, nos campos de Sarandi, não muito longe daqui. Outra vez, precisamos nos acostumar com a ideia de que, aqui no Uruguai, pelo menos na história, nós brasileiros somos os vilões. A batalha de Sarandi foi o primeiro grande combate entre os valentes uruguaios que buscavam sua independência e o exército imperial opressor dos brasileiros. O ano era 1825 e o resultado da batalha foi uma vitória acachapante uruguaia.
Muitas flores nos bosques e jardins do parque Salus, na região de Minas, no Uruguai
O Uruguai havia sido ocupado por tropas luso-brasileiras oito anos antes e seu herói nacional, o general Artigas, vencido e expulso para o Paraguai. A jovem nação tinha sido rebaixada e rebatizada como Província Cisplatina. Com a independência brasileira em 1822, o vasto Império do Brasil ia do Oiapoque ao Rio da Prata, uma promissora nação destinada a se tornar potência mundial. Mas sua fronteira sul enfrentava problemas e a também nascente nação argentina não se conformava com a perda dos territórios da Banda Oriental, como era conhecido Uruguai entre eles. O nome vinha do fato de se referir às terras situadas na margem oriental do rio Uruguay.
Estátua homenagenado a batalha de Sarandi, primeira grande vitória uruguaia na guerra de libertação contra as forças imperiais brasileiras, em 1825 (na praça central de Minas, no Uruguai)
Em 1825, um grupo de homens conhecido como os “Treinta y Tres Orientales” atravessaram o rio Uruguay, vindos de Buenos Aires e liderados por Lavalleja, e desembarcaram na Província Cisplatina. O intuito era iniciar a guerra de liberação do país. Rapidamente, as vilas do interior do Uruguai foram liberadas e as duas principais cidades do país, Montevideo e Colonia del Sacramento, cercadas. As tropas imperiais reagiram, uma coluna de 1.000 homens entrando na província rebelde vindos do Rio Grande do Sul e outra coluna de mesmo tamanho partindo da capital uruguaia rumo ao norte, para se juntar a seus compatriotas. Por mais que as tropas rebeldes de Lavalleja fustigassem as duas colunas, não conseguiram impedir que elas se encontrassem nas proximidades de Sarandi. Os revoltosos decidiram então, num ato de grande valentia, dar cabo desse grande exército reunido, num só golpe.
Estátua homenagenado a batalha de Sarandi, primeira grande vitória uruguaia na guerra de libertação contra as forças imperiais brasileiras, em 1825 (na praça central de Minas, no Uruguai)
Foi exatamente o que ocorreu em 12 de Outubro de 1825. Forças de tamanho similares se enfrentaram nos campos de Sarandi e, talvez pegos de surpresa pelo ataque impetuoso e inesperado, o exército brasileiro foi fragorosamente derrotado. Entre os dois mil combatentes imperiais, houve 400 mortes e outros 400 feitos prisioneiros, enquanto as baixas uruguaias ficaram em apenas 10% dessas cifras. A vitória catapultou a rebelião e, em breve, quase todo o território uruguaio estava em suas mãos. A última região a cair foi o nordeste do país, restando apenas as cidades de Montevideo e Colonia, que permaneceram sob cerco terrestre, mas sob domínio brasileiro, até o final da guerra, três anos mais tarde.
Gravura sobre a batalha de Sarandi, a primeira grande vitória dos uruguaios contra as tropas imperiais brasileiras, em 1825
As derrotas terrestres eram contrabalançadas pela superioridade naval do Império do Brasil. A ajuda escancarada dos argentinos na guerra fizeram com que o Brasil declarasse guerra àquele país e fizesse um bloqueio naval de sua principal cidade e porto, Buenos Aires. O cerco estrangulou a economia do país e, após três anos de hostilidades, o país vizinho estava pedindo água. Foi nesse impasse que a Inglaterra fez uso de sua poderosa diplomacia e “convenceu” os países beligerantes que a solução seria a criação de um terceiro país, o Uruguai. Nâo era esse o intuito inicial daqueles “33 orientales”, que sonhavam com uma república federalista e não centralizada, mas unida, de todas as províncias de língua espanhola na Bacia do Prata. Por fim, brasileiros ficaram felizes que o Uruguai não pertenceria à Argentina; argentinos ficaram felizes de ter seu porto liberado e que o Uruguai não pertenceria ao Brasil; uruguaios ficaram felizes de ter sua própria nação, livres do Império do Brasil e da Argentina de governo centralizado fortemente em Buenos Aires; e a Inglaterra ficou feliz de criar uma nação livre entre as duas maiores potências do continente e de mostrar ao mundo que ela ainda tinha força de exercitar sua diplomacia dentro do “quintal” da mais nova e emergente potência imperialista do mundo, os Estados Unidos e sua recém-criada doutrina Monroe (América para americanos).
Gravura sobre a batalha de Sarandi, a primeira grande vitória dos uruguaios contra as tropas imperiais brasileiras, em 1825. Eram 2 mil homens de cada lado e as tropas brasileiras sofreram mais de 400 mortes
Depois da aula de história, seguimos adiante. Minas não era nosso destino final hoje. Queríamos chegar verdadeiramente à região serrana do país e, para isso, precisávamos seguir mais alguns quilômetros. A pequena Villa Serrana e o Parque Salto del Penitente não estavam longe.
Almoçamos na Irisarri, a mais tradicional confeitaria de Minas, no Uruguai, uma verdadeira institução local
Praça em Oeiras, antiga capital do Piauí
Quanto mais conheço, mais reconheço o tanto que desconheço. Quando levava uma vida mais normalzinha, aquela rotina de acordar, ir trabalhar, voltar para casa e dormir, o meu mundo do dia à dia era mais limitado e, dentro desses limites, havia pouco para aprender. Parecia-me que eu sabia muito. Agora, todos os dias são diferentes. Todos os dias aprendo. Todos os dias fica claro o tanto que não sei, a minha mais profunda ignorância.
Igreja em Oeiras, antiga capital do Piauí
Falo de história, de geologia, de culinária, da botânica, da arquitetura, da literatura e de qualquer outro assunto que eu queira me aprofundar. No caso, acabo de aprender que o valoroso estado do Piauí teve como primeira capital a cidade de Oeiras. Aprendo também que Teresina foi a primeira cidade planejada do Brasil, muito antes de BH e Goiânia e mais de um século antes de Brasília. Aprendo que não foi apenas a Bahia que teve de lutar pela independência do Brasil. Não! No Piauí morreram centenas de brasileiros em guerra contra os portugueses, principalmente na Batalha do Jenipapo, quando combateram praticamente sem armas contra o exército lusitano.
Nossa pousada em Oeiras, antiga capital do Piauí
"Descobri" Oeiras ainda na Serra da Capivara, quando ela me foi apontada como um bom ponto para dormir, no nosso caminho para o Ceará. Foi aí que me disseram que era uma cidade histórica, antiga capital do estado. Para lá rumamos, eu e a Ana. Ficamos hospedados numa casa do séc. XIX, atualmente uma pousada (Pousada do Cônego), restaurada e bastante charmosa, bem na praça principal da cidade.
Com o João Oeiras, em Oeiras, antiga capital do Piauí
Em Oeiras, conhecemos o Bill e o Joca Oeiras. O primeiro ficou muito interessado na Fiona e assim nos conheceu. Gostou de nossa história e nos apresentou ao Joca Oeiras, paulista radicado em Oeiras, jornalista. Fizemos uma entrevista recíproca. A dele, logo a Ana colocará no site. A nossa, ele foi bem mais ágil que nós, já está no link:
http://www.fnt.org.br/artigos.php?id=677
Pena ter ficado tão pouco tempo. A parte histórica da cidade está muito bem conservada, casario antigo com cores vivas e harmoniosas. Como não poderia deixar de ser, faz um calor danado e o chuveiro do hotel nem tem necessidade de torneira de água quente. A fria já é morna. Cidade tranquila e religiosa. Visita bem agradável para quem está a caminho da Capivara.
Deixando Oeiras, antiga capital do Piauí
É uma vergonha que nem conste no Guia Quatro Rodas. Assim como é uma vergonha que eu não conhecesse a história da Batalha do Jenipapo. Felizmente, para a ignorância há remédio: aprende-se.
Atravessando a região da Araucania, famosa por seus pinheiros de araucária e também pelos valentes índios mapuche (região de Victoria, no Chile)
Na viagem de hoje entre Junín de Los Andes, na Argentina, e Victoria, no Chile, as estradas rurais por onde dirigimos passaram em meio a lindos bosques de um tipo de árvore muito conhecido no sul do Brasil: as araucárias. Essa é a árvore-símbolo do Paraná, o estado natal da Ana e o meu por adoção. Não por menos, ficamos encantados em ver tantas delas por lá, um delicioso sentimento de estar chegando em casa. Fora do sul do Brasil e de regiões serranas do sul de Minas, oeste do Rio de Janeiro e leste de São Paulo, a única outra araucária que tínhamos visto havia sido em Quito, capital do Equador, nos jardins de uma universidade. Certamente, um exemplar importado. Então, ver tantas delas hoje em seu ambiente natural foi realmente uma grata surpresa.
Uma legítima araucária na região de Junín de Los Andes, no sul da Argentina
Um pouco de pesquisa e passamos a entender um pouco mais do assunto. As araucárias daqui e as do Paraná são de espécies distintas, mas do mesmo gênero. O nome desse gênero é exatamente “Araucaria”, e ele se divide em 19 espécies que ainda vivem hoje. Dessas, 13 são nativas da Nova Caledônia, a maior (e mesmo assim, pequena!) das milhares de ilhas do Pacífico Sul. Soma-se a isso as duas espécies sul-americanas e outras quatro que vivem na Austrália e Nova Guiné. O isolamento da Nova Caledônia permitiu o aparecimento e sobrevivência de novas espécies de um gênero que já dominou o mundo, na época dos dinossauros. Com a quebra do super continente de Gondwana, há 100 milhões de anos, as populações remanescentes do gênero acabaram por se dividir entre América do Sul e Oceania e, após tanto tempo, as espécies de diferenciaram.
Atravessando a região da Araucania, famosa por seus pinheiros de araucária e também pelos valentes índios mapuche (região de Victoria, no Chile)
A espécie que vive no sul do Brasil é a “Araucaria Augustifolia”, também conhecida como Pinheiro-do-Paraná. A espécie que vive principalmente no Chile (de onde também é a árvore-símbolo!) é a “Araucaria Araucana”. O que diferencia as duas espécies é apenas a largura de suas folhas. Nada que um leigo como nós possa diferenciar em uma primeira vista. Para nós, é como se estivéssemos nos planaltos do interior do Paraná. Mas elas são mesmo espécies distintas e foram as árvores chilenas, descobertas na segunda metade do século XVIII por colonizadores europeus, que foram as responsáveis pelo nome do gênero e de todas as espécies a ele pertencentes: “Araucaria”.
Atravessando a região da Araucania, famosa por seus pinheiros de araucária e também pelos valentes índios mapuche (região de Victoria, no Chile)
Isso porque essas árvores foram primeiro observadas no Vale de Arauco. “Arauco” é uma palavra mapuche (os indígenas dessa parte do Chile) que quer dizer “água dura”, um termo pouco usado em português, mas comum em inglês (“hard water”). É uma água rica em sais de cálcio e magnésio e é comum em rios que atravessam cavernas. Era o caso do rio que formava esse vale onde esse novo tipo de árvores para os europeus foi observado. Foram batizadas de “araucárias”! Mas não foram só elas que herdaram o nome, não.
Atravessando a região da Araucania, famosa por seus pinheiros de araucária e também pelos valentes índios mapuche (região de Victoria, no Chile)
Toda a região no entorno do vale, ao sul e ao norte, passou a ser chamado de Araucania pelos espanhóis. E os habitantes da Araucania, “araucanos”! Eram os indígenas que aí habitavam já há milhares de anos e a principal etnia presente era a dos mapuches. Hoje, no Chile, eles continuam conhecidos com essas duas denominações, araucanos ou mapuches, e são um povo com uma história singular de resistência à colonização e conquista, não apenas pelos espanhóis, mas antes disso, pelos incas também.
Índios mapuches no final do século XIX, época que que a Araucania foi ocupada pelo exército chileno
Na verdade, há teorias que vão ainda mais além, propondo que foram confrontos bélicos entre os aguerridos mapuches e a civilização Tiahuanaco (passamos por lá nesses 1000dias! Veja o post aqui), no séc. IX, uma das causas do declínio dessa que foi a mais importante civilização pré-incaica da América do Sul. Esses confrontos são apenas uma teoria, mas o embate com outra civilização, a incaica, esse é conhecido e aceito pelos estudiosos.
O exército Inca, liderado por Apu Camac Inca, enfrenta guerreros mapuches na Batalha de Maule, no final do século XV
Os incas formaram a civilização mais conhecida do continente pré-colombiano. Ela começou a florescer a partir do séc. XIII, mas seu auge foi atingido no final do séc. XV e início do XVI, quando a chegada dos espanhóis ao continente causou sua vertiginosa e trágica derrocada. Pois bem, os incas formavam uma civilização militarista e expansionista, continuamente conquistando territórios vizinhos. O único povo que conseguiu resistir à sua expansão foi exatamente o mapuche, na sua fronteira sul. Na batalha do rio Maule, nas últimas décadas do séc. XV, finalmente o império encontrou um adversário à altura. Quarenta mil guerreiros, vinte mil de cada lado, digladiaram por três dias, sem que houvesse um vencedor. Os generais acharam por bem declarar uma trégua e o rio Maule foi estabelecido como fronteira sul do Império Inca. Nas poucas décadas que restaram ao Império Inca, suas novas conquistas foram sempre direcionadas para o leste e para o norte, onde chegariam até a Colômbia.
Conquistadores espanhóis e guerreros mapuches se enfrentam em batalha na Guerra de Arauco
Espiões mapuches viviam entre os incas quando os espanhóis chegaram. Observaram de perto a queda dos antigos inimigos, assim como o uso de técnicas e material bélico avançado por parte dos espanhóis. Ao regressarem para suas terras, contaram sobre a existência de cavalos e do ferro. Quando os conquistadores espanhóis chegaram ao sul, boa parte do efeito surpresa já não mais existia. Os mapuches começaram a se preparar para enfrentar mais um império expansionista.
O grande líder mapuche Caupolicán é executado por impalamento pelos espanhóis
Nesses nossos 1000dias pelo continente, lemos e aprendemos muito sobre como se deu a colonização e conquista dos povos que aqui viviam. A espada e as doenças europeias causaram um dos maiores morticínios da história da humanidade. Mais gente morreu por aqui no séc. XVI do que a soma das mortes ocorridas nas guerras mundiais do séc. XX. E foi um conflito onde os europeus eventualmente perdiam batalhas, mas sempre venciam a guerra, seja no meio oeste americano, no Caribe, na América Central, nos Andes ou na costa brasileira. Mesmo civilizações poderosas e que viviam no seu apogeu, como incas e astecas, foram dizimadas em poucas décadas. Sempre procurei uma exceção à regra, um mísero exemplo de que os europeus com suas técnicas e micróbios superiores não tivessem sido invencíveis em território americano, mas as páginas dos livros de história só me mostravam desgraças e mais desgraças, povos conquistados, humilhados, escravizados e aniquilados. Quando já tinha perdido as esperanças, eis que passamos pelo Chile e, mais especificamente, pela Araucania.
Mapa mostrando as cidades espanholas no sul do Chile. Todas as cidades ao sul do rio Bio Bio tiveram de ser abandonadas após a vitória mapuche ao final do século XVI
Na verdade, eu já conhecia por alto a história de resistência dos araucanos desde a minha outra viagem por aqui, há duas décadas. Mas sempre achei que, na verdade, foram os espanhóis que não se interessaram pelo território, a periferia da periferia de um império ultramarino. Teriam mandado para cá soldados de terceira categoria, percebido que não valia o esforço e pronto, simplesmente deixaram para lá. Mas agora, sabendo da história com mais detalhes, vi que estava redondamente enganado. Justiça seja feita, os guerreiros mapuches resistiram sim, e por 300 anos, á subjugação por estrangeiros.
Logo após a queda do império Inca e, os espanhóis mandaram para cá alguns de seus mais experientes guerreiros, liderados por Pedro de Valdivia, um dos principais auxiliares de Pizarro durante a conquista do Perú. Valdivia fundou várias cidades, entre elas, a capital Santiago. Mas foi no sul do rio Maule que ele mais se interessou, pois foi aí que foi encontrado ouro. Mas essa também era a região central do povo mapuche, que prontamente passaram a oferecer uma encarniçada resistência. Como de costume, os espanhóis foram vencendo as batalhas, escravizando indígenas e fundando fortes e cidades. Mas eles não contavam com a fúria e gênio militar de um indígena chamado Lautaro.
Lautaro, o maior general mapuche, que introduziu o uso do cavalo e técnicas militares modernas entre seu povo
Quando jovem, Lautaro viveu como pajem de militares espanhóis. Observador, aprendeu suas técnicas militares e o uso do cavalo nas batalhas. Quando a guerra entre espanhóis e mapuches começou, ele voltou para seu antigo povo e logo estava liderando batalhas montado em seu cavalo. Sob seu comando, os mapuches passaram a usar armas feitas de ferro roubadas de seus inimigos, muito mais eficientes que as antigas, feitas de bronze, pedra ou madeira. Em uma batalha, o grande Pedro de Valdivia foi capturado. Lautaro deu a ele o mesmo fim que espanhóis costumavam dar a líderes indígenas capturados. Foi torturado barbaramente até a morte. Dizem que o índio até o fez engolir areia misturada com pó de ouro, o metal que tanto procurava nas terras mapuches. Depois disso, a revolta mapuche aumentou e a cidade de Concepción, a mais importante no sul do Chile, foi destruída. Lautaro queria chegar até Santiago, mas aliados de outras tribos descontentes com amaneira como ele liderava o abandonaram e ele teve de desistir de conquistar a capital. Por fim, caiu em uma armadilha e foi morto.
Exército chileno e tropas mapuches se enfrentam na época da "Ocupação e Pacificação da Araucania", no final do século XIX
A guerra continuou com vitórias de ambos os lados e breves períodos de paz por meio século até que outro famoso conquistador foi enviado para esmagar a rebelião. Martin Garcia de Loyola havia sido o responsável pela captura do último dos incas na selva amazônica peruana, Tupac Amaru, em 1572, posteriormente executado na praça central de Cusco. Loyola se embrenhou com um pequeno exército na região da Araucania, mas foi morto em combate em 1598. Novamente, os índios mapuche souberam aproveitar o momento e, nos próximos cinco anos, destruíram todas as cidades espanholas ao sul do rio Bio Bio. O rei Felipe II, que há tempos se lamentava pelo número de espanhóis mortos nessa guerra, ordenou que fosse feito a paz. A Araucania teve sua independência reconhecida, tendo como fronteira norte o rio Bio Bio. Apenas o forte de Valdivia, ao sul do rio, foi reocupado pelos espanhóis (que temiam que ele fosse ocupado por holandeses ou ingleses) e permaneceu sitiado pelos próximos 200 anos. Os únicos espanhóis que se aventuraram além da fronteira ao longo dos próximos séculos foram missionários jesuítas.
Mulheres e crianças mapuches após a "Pacificação da Araucania", no final do século XIX
Os mapuches permaneceram independentes ao longo de todo o período colonial e também durante as primeiras décadas da República do Chile como nação soberana. Foi apenas no contexto das campanhas militares conhecidas como “Ocupação e Pacificação da Araucania”, já na segunda metade do séc. XIX, é que eles foram submetidos. Na mesma época, do outro lado dos Andes, eles também lutavam contra o exército argentino nas campanhas militares chamadas de “Ocupação do Deserto” (post aqui). O Chile finalmente unia seu território central com a Ilha de Chiloé e com o sul da patagônia, onde está Punta Arenas, enquanto caía o último território indígena livre das Américas. As campanhas custaram dezenas de milhares de vítimas mapuches e os sobreviventes foram colocados em pequenas reservas, onde tiveram de abandonar seu antigo estilo de vida semi-nomádico. Ao final, mais uma vez, vencia o homem branco, mas que resistência lhe impôs esse valente povo!
Um incêncio na periferia de Victoria, cidade chilena na região de Araucania
Suas antigas terras foram ocupadas por imigrantes vindos da Europa, mas os mapuches sobrevivem como povo. Como tantos outros povos indígenas espalhados pelo mundo, com graves problemas para se adaptar a uma sociedade, cultura e costumes que nunca foram os seus. Esse é um problema enfrentado não apenas por países menos desenvolvidos, como Brasil ou Chile, mas também por nações do chamado 1º mundo, como EUA, Canadá, Austrália ou Nova Zelândia: como conviver com seus próprios indígenas, culturas tão distintas vivendo em um mesmo espaço? Na prática, ainda não houve uma resposta satisfatória para essa questão e, até agora, o lado da corda sempre arrebentou do lado mais fraco. Vivendo nas grandes cidades, essa não é uma questão premente para nós, mas para quem bota o pé na estrada, chega logo à conclusão: não é fácil nascer apache, maia, aymará, guarani, mapuche, maori ou aborígene australiano nos dias de hoje.
A neozelandesa Cheli, nossa líder de expedição, no almoço festivo de chapéus criativos no deck do Sea Spirit, na baía de Deception Island, na Antártida
Apesar do dia ter começado cedo e já temos remado e caminhado em Deception Island, ainda tínhamos muito por fazer hoje, uma tarde de programação intensa nos esperando. Assim, quando voltamos ao Sea Spirit pouco depois do meio dia, o negócio foi respirar fundo e nos preparar para a próxima atividade.
Chegando de volta ao Sea Spirit em Deception Island, na Antártida
Nossa amiga Kim fica tentada pela apetitosa piscina no convés do Sea Spirit, em Deception Island, na Antártida
Normalmente, quando voltamos ao navio, pelo menos para quem vem nas primeiras turmas, ainda dá para dar um mergulho rápido na piscina. Ainda mais hoje, com o céu azul e o ar gélido, a piscina com água renovada e aquele cenário ao nosso redor por inspiração. A tentação era grande, mas tínhamos de nos preparar para o almoço especial programado para o deck do navio.
Navio da marinha chilena na baía de Deception Island, na Antártida
Navegando pela baía de Deception Island, na Antártida
Uma espécie de almoço festivo, todo mundo comendo no convés aberto ao invés do restaurante fechado no andar de baixo. A ideia era mesmo aproveitar o lindo visual ao nosso redor enquanto comíamos. O Sea Spirit iria dar uma volta em toda a baía interna de Deception Island, chamada Port Foster. É um imenso mar interno, quase um lago, com 9 quilômetros de comprimento por 6 de largura. É incrível imaginar que tudo isso era a caldeira de um vulcão. Imagina só o tamanho do vulcão! Enfim, o Sea Spirit daria a volta nessa imensa baía, uma parte dela coberta por grandes plataformas de gelo frequentadas por focas crabeater e por pinguins.
Nossos amigos tripulantes do Sea Spirit, em Deception Island, na Antártida
Estação de pesquisa em Deception Island, na Antártida
Mas o almoço não seria “apenas” isso. Seria um almoço festivo, cada passageiro devendo comparecer com algum chapéu. Como ninguém trouxe chapéu para uma viagem à Antártida, a ordem era improvisar, botar a imaginação para trabalhar. E assim foi, todos nós tentando inventar alguma coisa nessa hora entre voltarmos ao navio e o almoço começar a ser servido. E depois desse almoço à fantasia com vista de luxo para as encostas internas de um antigo e gigantesco vulcão, ainda iríamos navegar para outra ilha no arquipélago de Shetland do Sul, chamada Half Moon Island, para mais uma atividade de desembarque e, se as condições do mar ajudarem, outra sessão de caiaque. Enfim, um dia para ninguém botar defeito!
Plataforma de gelo se quebra na baía de Deception Island, na Antártida
Focas Crabeaters descansam em plataforma de gelo na baía de Deception Island, na Antártida
Foca crabeater desliza sobre plataforma de gelo em Deception Island, na Antártida
O passeio ao redor da antiga caldeira foi mesmo espetacular. O cenário é sempre grandioso, as enormes paredes do vulcão cobertas por gelo e neve, o mar azul, penhascos e falésias e, aqui ou ali, alguma base de pesquisa muito bem instalada nesse cenário de cartão postal. Era difícil não querer se levantar da mesa para tirar mais e mais fotos.
Almoço festivo de chapéus criativos no deck do Sea Spirit, na baía de Deception Island, na Antártida
Almoço festivo de chapéus criativos no deck do Sea Spirit, na baía de Deception Island, na Antártida (foto de France Dione)
Outro evento que nos atraiu foi quando navegamos ao lado de uma plataforma de gelo, uma imensa vastidão branca a se perder de vista, onde um grupo de focas descansava e tomava um bronze. Eram as tais focas crabeater, uma espécie que ainda faltava em nosso álbum de focas. Infelizmente, ainda não conseguimos vê-las de perto, mas oportunidades não faltarão amanhã.
Val, nossa guia dos caiaques, no almoço festivo de chapéus criativos no deck do Sea Spirit, na baía de Deception Island, na Antártida (foto de Senteney)
O holandes Sail no almoço festivo de chapéus criativos no deck do Sea Spirit, na baía de Deception Island, na Antártida (foto de Senteney)
Essa é a foca mais comum da Antártida e, possivelmente, do mundo. São focas de porte médio, pouco mais de 2 metros de comprimento, e adoram sobre e sob as plataformas de gelo flutuantes. É aí que tentam escapar de seus dois principais predadores: a foca leopardo e a orca. O primeiro ataca principalmente os filhotes. Já as orcas, o que cair na rede é peixe. Com sua inteligência, são capazes até de produzir grandes ondas para derrubar uma foca de uma plataforma de gelo e assim, poder alcançá-la.
A Cheli, líder da expedição, no almoço festivo de chapéus criativos no deck do Sea Spirit, na baía de Deception Island, na Antártida (foto de Senteney)
Almoço festivo de chapéus criativos no deck do Sea Spirit, na baía de Deception Island, na Antártida
Apesar do sugestivo nome da espécie (em português, o nome é “foca-caranguejeira”), esses animais não comem caranguejos (crabs). Elas desenvolveram dentes especiais e se alimentam de krill, ama espécie de minúsculo crustáceo muito abundante em águas antárticas. A existência de tantas crabeaters por aqui é um forte indicativo de que ainda há muito krill por essas águas!
Almoço festivo de chapéus criativos no deck do Sea Spirit, na baía de Deception Island, na Antártida
Nossos disfarces no almoço festivo de chapéus criativos no deck do Sea Spirit, na baía de Deception Island, na Antártida (foto de Senteney)
Por fim, além das focas, do gelo e das estações científicas, foram as fantasias e a imaginação das pessoas que fizeram nosso almoço ainda mais animado. Houve gente usando de tudo e é mais fácil perceber isso pelas fotos desse post do que pela minha descrição. Eu usei uma pequena mochila como chapéu. Quem será que consegue identificar o que a Ana usou? E os outros passageiros? Enfim, foi uma grande festa. Mais uma aqui no nosso querido Sea Spirit...
Arrasando no almoço festivo de chapéus criativos no deck do Sea Spirit, na baía de Deception Island, na Antártida
Com o sobrinho Lulu, em Ouro Preto - MG. Ao final da viagem ele já será mais alto que eu?
Enquanto estamos viajando aqui por perto, entre Paraná, São Paulo, Minas e Rio, tem sido usual encontrar parentes. Programamos passagens em Curitiba, Ribeirão, Poços, Mauá e São Paulo justamente para encontrá-los. Afinal, virá um grande período sem ver parentes e é melhor aproveitar agora. Depois, só se forem nos visitar na nossa "casa", a Fiona!
Mas esta sexta ocorreu um encontro não planejado. Pelo menos, não com antecedência. Soubemos há poucos dias que nosso querido sobrinho, uma peça que atende pela alcunha de Lulu, estava viajando com a escola por essas bandas. Estava um pouco à frente de nós. Passou um dia antes de nós pelo Caraça e um dia antes de nós pela Mina da Passagem, em Mariana.
Com o sobrinho Luís Paulo em Ouro Preto - MG
Resolvemos então furar o tempo, cortar caminho e ir encontrá-lo em Ouro Preto. Jantamos lá hoje com ele essa turma de escola. Trocamos impressóes sobre as viagens e assuntos gerais. Foi muito jóia, encontrá-lo por aqui. Algo meio insólito. No final do jantar, eu e a Ana ainda tivemos a sorte e o prazer de ouvir ele e seus colegas, regidos por seus professores, ensaiarem um coral que faz parte de uma peça de teatro que estão montando. Em pleno restaurante!
Turma do Lulu em Ouro Preto - MG fazendo um belo coral, em pleno rstaurante
Muito jóia mesmo. Encontros assim tornam a viagem muito mais humana. E ainda tive a chance de ver meu sobrinho, por enquanto mais baixo do que eu. Não sei se será assim da próxima vez...
Com o Rafa em praia de Oahu, no Havaí - foto de Laura Schunemann
Hoje bem cedo, antes do sol nascer, seguíamos com tristeza para o aeroporto de Honolulu, para embarcar para Los Angeles. Tristeza por deixar o Havaí, tristeza pela separação do casal amigo, Laura e Rafa, que voariam de tarde para a Big Island e tristeza por perdermos essa chance de ouro de ver o torneio de Pipe Master, na praia de Pipeline, na costa norte de Oahu. O destino nos pregou essa peça! O mar esteve calmo enquanto estivemos aqui e, justo hoje, dia do nosso voo, o swell resolveu aparecer de novo. Não conseguimos mudar nosso voo e ficamos só na vontade. Ao contrário do Rafa e da Laura, que ainda tinham essa manhã aqui na ilha. Eles nos deixaram no aeroporto e seguiram para Pipeline, dedos cruzados para que as ondas aparecessem mesmo. Enquanto isso, nós, no avião, na maior curiosidade para saber o que tinha acontecido.
Assistindo ao pôr-do-sol em Honolulu, em Oahu, no Havaí - foto de Laura Schunemann
Pois bem, dias depois conseguimos nos comunicar com o casal novamente. O campeonato tinha acontecido sim, e tinha sido um show. Eu pedi que a Laura me enviasse algumas fotos e contasse algo daquele dia, para eu poder escrever um post. Mas, gostei tanto do relato dela, sua emoção e suas palavras, que prefiro que ela mesmo conte a história, As excelentes fotos são todas dela também! Divirtam-se! Volto no final do texto...
“Chegamos às 7h pra conseguirmos estacionar relativamente perto da praia. . Seguimos pro North Shore logo depois de tê-los deixado no aeroporto as 5h30.
As 7h da matina: evento ainda em stand by e mar flat…mas a praia começando a lotar com a promessa do swell. Chegamos à praia às 7h e pegamos um bom lugar pra assistir ao campeonato. Cavamos vários canais na areia pra nos protegermos de uma ou outra onda mais forte que resolvesse encharcar a plateia na areia (valeu a pena, nossa estrutura segurou uns 3 episódios!!!).
As 8h30 anunciavam no alto-falante: confirmada a final com início às 9h! As ondas apareceram, mas não tinham o tamanho que imaginávamos… Confesso que fiquei um pouco decepcionada. Mas ficamos firmes pra ver o que rolaria.
Gabriel Medina (um dos dois atletas brasileiros) concentra antes do início de sua bateria. A esta altura, logo antes do início do campeonato, como que por mágica, o mar cresceu, Muito. Mesmo.
Gabriel Medina, surfista brasileiro, se prepara para sua bateria na praia de Pipeline, na North Shore de Oahu, no Havaí - foto de Laura Schunemann
Josh Kerr, confiante, entrando pra disputar a primeira bateria do dia.
Josh Kerr, surfista australiano na praia de Pipeline, na North Shore de Oahu, no Havaí - foto de Laura Schunemann
Aliás, vale informar que, pra nossa alegria, a primeira bateria do dia teve a disputa entre EUA, AUS E BRA. Disputaram Josh Kerr (australiano), Kelly Slater (americano) e o Medina (brasileiro).
Brasil, Austrália e EUA representados em bateria na praia de Pipeline, na North Shore de Oahu, no Havaí - foto de Laura Schunemann
Kelly Slater, seguido por uma multidão de fãs enlouquecidos, chega pra bateria.
O grande Kelly Slater na praia de Pipeline, na North Shore de Oahu, no Havaí - foto de Laura Schunemann
Josh Kerr volta pra areia logo após o início da bateria. Depois de uma queda homérica (daquelas que fazem a multidão na praia se calar completamente) ele sai da água sentindo muita dor no pescoço e nos braços. Todos se preocuparam e os médicos o aconselharam a ir pro hospital. Mas 5 minutos depois ele decidiu que voltaria pra finalizar a bateria e, foi assim que, remando com apenas um dos braços na maior parte do tempo, ele não só finalizou como ganhou esta bateria… Logo em seguida ele foi pro hospital e, medicado, voltou para, na fase "mata-mata", eliminar Kelly Slater do campeonato (ainda com formigamento, contrariando ordens médicas e e remando com um braço só. O aussie é guerreiro…virei fã ;-)
Eis o momento da vaca histórica que quebrou o Josh Kerr (australiano). Juro, com os corais super rasos e considerando o tempo que ficou embaixo d'água, não sei como o cara sobrevive. O preparo deles é absurdo. Conheci um ninja de verdade ;-)
Josh Kerr cai em onda na praia de Pipeline, na North Shore de Oahu, no Havaí - foto de Laura Schunemann
Kelly entubando uma.
Tubo de Kelly Slater na praia de Pipeline, na North Shore de Oahu, no Havaí - foto de Laura Schunemann
e mais uma.
na praia de Pipeline, na North Shore de Oahu, no Havaí - foto de Laura Schunemann
E o mar continua crescendo. Volume de água absurdo, Todos entrando e saindo de tubos violentos e tal...
Damo Hobgood em ação na praia de Pipeline, na North Shore de Oahu, no Havaí - foto de Laura Schunemann
Vaca atrás de vaca e os caras não desistiam… Tá aí o Kelly, no meio da primeira bateria do dia, pedindo outra prancha pra continuar surfando.
Kelly Slater sai com a prancha quebrada na praia de Pipeline, na North Shore de Oahu, no Havaí - foto de Laura Schunemann
Miguel Pupo entubando na sua primeira bateria do dia.
O surfista brasileiro Miguel Pupo em ação na praia de Pipeline, na North Shore de Oahu, no Havaí - foto de Laura Schunemann
50: Pessoal não tira os olhos da água durante o campeonato
Platéia atenta no torneio de Pipe Masters na praia de Pipeline, na North Shore de Oahu, no Havaí - foto de Laura Schunemann
Medina se joga dropando a ondinha
Pupo dsce onda na praia de Pipeline, na North Shore de Oahu, no Havaí - foto de Laura Schunemann
Mais uma do Medina (o cara tem 18 aninhos… pensa só). Os surfistas brasileiros estão sendo chamados no meio profissional de "BRAZILIAN STORM". Eles surfam com explosão, muitas manobras, muitos aéreos… enfim, deixam os outros atletas boquiabertos com o estilo brasileiro (e bem agressivo) de surfar.
Pupo em ação na praia de Pipeline, na North Shore de Oahu, no Havaí - foto de Laura Schunemann
Pupo concentra antes de sua segunda bateria.
Concentração do surfista brasileiro Miguel Pupo antes de entrar no mar na praia de Pipeline, na North Shore de Oahu, no Havaí - foto de Laura Schunemann
Miguel Pupo encara a parede de água salgada.
Pupo enfrenta o mar na praia de Pipeline, na North Shore de Oahu, no Havaí - foto de Laura Schunemann
Pupo e Kelly Slater procurando a onda perfeita pra pontuar no final da bateria mata-mata (BR x EUA). Infelizmente o Pupo foi eliminado, mas com estilo.
Pupo e Slater buscam a melhor onda na praia de Pipeline, na North Shore de Oahu, no Havaí - foto de Laura Schunemann
Fãs de todas as idades assediam Slater sempre que entra ou sai da água. E ele, super solícito, para para fotos, autógrafos e tudo mais.
Fãs correm em direção a Slater na praia de Pipeline, na North Shore de Oahu, no Havaí - foto de Laura Schunemann
Pupo sai da água aplaudido pelo público após ter sido eliminado por Kelly Slater.
Pupo sai do mar na praia de Pipeline, na North Shore de Oahu, no Havaí - foto de Laura Schunemann
Platéia não paga ingresso e tem os melhores lugares ;-)
na praia de Pipeline, na North Shore de Oahu, no Havaí - foto de Laura Schunemann
- O Josh Kerr - australiano que se machucou - que está nas fotos - foi pra final. Só perdeu, por pouco, pro campeão - o Joel Parkinson. Mas esta bateria final não assistimos…
- Uma curiosidade. O Medina, quando foi eliminado, foi pela diferença de 1 ponto. Só que aconteceu algo muito inusitado - que com certeza influenciou a pontuação final dele: lembram da foto d Kelly Slater com a prancha quebrada? Pois é: o Medina passou por cima da outra metade da prancha - que estava boiando por lá - quando saída de um tubo. E, claro, caiu. Deu pena dele, kkk.
Nosso vôo pra Big Island seria as 16h e combinamos de sair da praia as 13h pra, com uma margem de manobra, voltarmos pra Honolulu, devolvermos o carro e fazermos o check in. Mas tava difícil de ir embora… a final estava prevista para as 15h - quando a maré estaria cheia e as ondas perfeitas. Estávamos percebendo que a cada bateria as ondas cresciam, chegando à 5m. E sabíamos que ia melhorar… protelamos mais um pouco mas o Rafa, em um dado momento, me puxou pelo braço, me mandou desligar a câmera e, cabisbaixos, tivemos que ir.
A experiência foi emocionante. o Rafa, que sempre surfou de brincadeira e dizia quo os surfistas profissionais tinham a vida que qualquer um pediu à Deus: viajando constantemente para lugares paradisíacos e vivendo em contato com a natureza e do surf. Mas saiu de lá com um outra impressão: a de que estes atletas trabalham muito duro pra conseguirem o preparo necessário pra enfrentar a natureza desta maneira. Arriscam, diariamente, suas vidas pelo esporte. É quase como se, lá na água, não fossem humanos.
Entendemos a aura de encantamento que esses caras causam. E é merecido, viu?
E então, o casal mais desorientado (no bom sentido) possível, atravessou a ilha sem problemas até Honolulu. Comemorei o feito uma vez que estávamos sem GPS (que foi de volta pra Fiona com vcs). Fomos entregar o carro na locadora quando percebemos que precisaríamos encher o tanque antes… Perguntamos por um posto de gasolina ali perto e saímos novamente (aí já com o tempo apertado). Só que, sem GPS, fizemos algo de errado e, quando percebemos, estávamos em uma estrada. E nada de retorno. E a mão suando… 40 minutos depois voltamos - de tanque cheio - e devolvemos a viatura. O voo estava um pouquinho atrasado, então deu tudo certo. Estávamos exaustos e, enquanto o Rafa esperava, fui comprar um presente pro meu tio. De repente ouço chamarem nosso voo. Passo minha mochila pelo detector, entro na sala de embarque… e nada do Rafa. A fila d pessoas já embarcando e eu procurando a figura. E nada. Fiquei preocupada. Terminando o embarque eu peço pro segurança me deixar sair pra procurá-lo. Saio gritando: Apaaaaa, Apaaaa (bem louca pelo aeroporto). E nada. F... - pensei - vamos perder o voo…
Aos 45 do segundo tempo encontro a belezura deitada num canteiro de flores, dormindo profundamente… Devia estar sonhando com a final - sei lá. Só sei que acordou no susto pra embarcar. E deu tudo certo!! Seguimos pra big Island - que vcs já conhecem - pra ver coisas ainda mais incríveis!!!!!
E foi assim nosso dia em Oahu sem vcs. Fizeram falta.”
Nossa fotógrafa em ação durante o Pipe Masters, na praia de Pipeline, em Oahu, no Havaí
Um muito obrigado à Laura pelo relato e fotos tão legais. Nós não estivemos lá pessoalmente, mas através dos seus olhos, pudemos ao menos captar um pouco da emoção. Muito joia! Que venham muitas outras viagens juntos!
Nosso delicioso jantar na primeira noite em Honolulu, em Oahu, no Havaí
Mesmo com a manhã chuvosa, pronta para mais um dia de explorações na Reserva do Mamirauá, na região de Tefé, no Amazonas
Na chegada ao aeroporto de Tefé, a principal cidade no Médio Solimões, oeste do Amazonas, lá estava o pessoal da Pousada Uacari para nos receber. Não somente a nós, mas aos outros turistas que chegavam para a temporada de 5 dias na reserva. A Pousada Uacari trabalha com pacotes que incluem pensão completa. Pode ser de dois dias (fim de semana), cinco dias (segunda a sexta) e uma semana (de segunda a domingo). Boa parte dos visitantes chega à região de avião, é pega no aeroporto e transferida para o porto da cidade, de onde segue de voadeira para a pousada, a cerca de uma hora de distância.
Em Tefé, pronto para seguir para a Reserva de Mamirauá, no Amazonas
A caminho da Reserva de Mamirauá, na região de Tefé, no Amazonas
A única outra alternativa é chegar em Tefé de barco, já que não há estradas que liguem a cidade ao resto do país. Quando chegamos ao porto, transferidos do aeroporto, encontramos alguns turistas que tinham optado por esse caminho. Essa foi a nossa opção para o final da temporada, na sexta-feira, quando desceremos o Rio Solimões por quase dois dias, confortavelmente instalados em alguma rede no convés de um dos muitos barcos que fazem esse percurso.
Porto de Tefé, no Amazonas
Tranporte de passageiros no rio Solimões, na região de Tefé, no Amazonas
Agora com todo o grupo reunido, seguimos na canoa motorizada até a pousada, localizada nos meandros de rios e “lagos” entre o Rio Solimões e Rio Japurá, que se encontram justamente em Tefé. Após muitas curvas de um rio todo ladeado por uma floresta exuberante, avistamos as casas da pousada, erguidas sobre grandes troncos amarrados entre si e à borda do rio. Isso mesmo, a Pousada Uacari é flutuante! Uma ótima ideia em uma região onde o nível das águas varia mais de dez metros entre o inverno e o verão e que, durante o período de cheia, não possui um mísero centímetro quadrado de terra firme.
A bela Pousada Uacari, em plena Reserva do Mamirauá, na região de Tefé, no Amazonas
Nosso quarto na Pousada Uacari, na Reserva do Mamirauá, na região de Tefé, no Amazonas
Depois de todos instalados em seus confortáveis quartos, hora para um briefing sobre como funciona a pousada e sobre como será nossa rotina ao longo dos próximos dias. O café é sempre servido bem cedo, para que logo estejamos todos a bordo de pequenas canoas à remo ou motorizadas para o passeio da manhã. Voltamos para um pequeno descanso na pousada e em seguida é servido o almoço, sempre com comida típica da região. Pausa para a merecida siesta e, no meio da tarde, mais uma oportunidade de passeio pelos rios e floresta alagada de Mamirauá. No final do dia, nos espera o jantar e, para quem ainda estiver com pique, a possibilidade de assistir a alguma palestras ou filmes.
Delicioso café da manhã na Pousada Uacari, na Reserva de Mamirauá, perto de Tefé, no Amazonas
Um saboroso almoço na Pousada Uacari, na Reserva do Mamirauá, na região de Tefé, no Amazonas
Nessa época do ano, com os rios cheios, os passeios são todos fluviais. Não há nenhuma chance de fazer alguma trilha, já que ninguém aprendeu a caminhar sobre a água. Os passeios na água podem ser feitos de duas maneiras: em um grupo grande, nas canoas motorizadas, ou em dupla, acompanhado de um guia, em canoas a remo. As canoas motorizadas são usadas para nos levar a distâncias maiores, como às comunidades ribeirinhas ou a um lago nas proximidades. Quando saímos nelas, ficamos apenas nas águas abertas, rios ou lagos, observando a floresta de longe. Já quando saímos nas pequenas canoas a remo, ficamos por perto mesmo, mas é quando temos a chance de entrar dentro da floresta alagada e por ela navegar, chegando mais perto do que nunca da flora e fauna local.
A "frota" de barcos da Pousada Uacari, na Reserva do Mamirauá, na região de Tefé, no Amazonas
Entrando de canoa na floresta alagada, na Reserva do Mamirauá, região de Tefé, no Amazonas
As noites, como já disse, eram devotadas a documentários e palestras. Assistimos uma sobre a Amazônia e outra sobre a própria Reserva do Mamirauá, contando a história, características geográficas e informações sobre fauna e flora. Muito interessante. Mas a que mais nos empolgou foi uma palestra sobre as onças pintadas do parque, dada pelo maior especialista no assunto que, para nossa sorte, estava esses dias por lá. Nós, que estamos procurando esse animal por todo o continente (e ainda não achamos...) ficamos vidrados! Aí aprendemos como a onça se adapta a um ambiente sem terra firme, caminhando apenas sobre árvores a aproveitando-se do fato que é excelente nadadora. Que animal formidável! No futuro, com a ajuda de radio-transmissores, o plano é implantar um turismo por aqui especialmente voltado para o avistamento desses felinos furtivos. Já vi tudo: vamos ter de voltar!
Palestra de recepção na Pousada Uacari, na Reserva do Mamirauá, na região de Tefé, no Amazonas
Palestra sobre a região amazônica, na Pousada Uacari, na Reserva do Mamirauá, egião de Tefé, no Amazonas
Enfim, ficamos muito bem instalados nesses cinco dias por aqui. Os quartos tem varandas com redes de onde admiramos o rio e floresta à nossa frente. A sensação de contato com a natureza, mesmo sem sair da pousada, é enorme. Afinal, estamos cercados de sons e cheiros da floresta o tempo todo. No céu, pássaros passam todo o tempo. Ao longe, macacos gritam. E, das palafitas e pontes que ligam as construções da pousada, podemos admirar visitantes inofensivos, como sapos ou caranguejos fluviais, e aqueles nem tão amistosos, como os jacarés que adoram descansar sob a construção da cozinha. Todas as noites, nova sessão de fotos, para alegria dos turistas presentes.
De noite, um sapo vem nos visitar na Pousada Uacari, na Reserva do Mamirauá, região de Tefé, no Amazonas
De noire, um jacaré descansa sob uma das construções da Pousada Uacari, na Reserva do Mamirauá, região de Tefé, no Amazonas
Melhor que isso, só ver a chuva cair, do conforto dos nossos quartos, varandas ou do restaurante. Água caindo sobre água, seguida pelo sol e pelos cantos da floresta, natureza no seu estado mais puro. Foi atrás disso que viemos, aqui em Mamirauá. E foi o que achamos...
A varanda do nosso delicioso quarto na Pousada Uacari, na Reserva do Mamirauá, região de Tefé, no Amazonas
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