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Karina (27/09)
Olá, também estou buscando o contato do barqueiro Tatu para uma viagem ...
ozcarfranco (30/08)
hola estimado, muy lindas fotos de sus recuerdos de viaje. yo como muchos...
Flávia (14/07)
Você conseguiu entrar na Guiana? Onde continua essa história?...
Martha Aulete (27/06)
Precisamos disso: belezas! Cultura genuína é de que se precisa. Não d...
Caio Monticelli (11/06)
Ótimo texto! Nos permite uma visão um pouco mais panorâmica a respeito...
Dirigindo na Praia do Cassino que, com mais de 250 km de extensão, é a mais longa do mundo. Fica entre Chuí e Rio Grande, no Rio Grande do Sul
Desde quando descobri que a praia mais longa do mundo ficava no Brasil que ansiava conhecê-la e percorrê-la. Enquanto crescia, minha família sempre viajava para praias no Sudeste do país e era uma questão de honra, pelo menos uma vez na temporada, caminhar naquela praia de ponta a ponta. Ao menos nos lugares que frequentávamos, as praias não passavam dos 10 km de tamanho e nunca encontramos alguma que nos “vencesse”.
A Fiona pronta para enfrentar os mais de 200 km da Praia do Cassino, a mais longa do mundo, entre Chuí e Rio Grande, no Rio Grande do Sul
Dirigindo na Praia do Cassino que, com mais de 250 km de extensão, é a mais longa do mundo. Fica entre Chuí e Rio Grande, no Rio Grande do Sul
Curioso sobre as maiores praias, perguntava ao meu pai qual era a maior que ele conhecia e a resposta era “Praia Grande”. No litoral de São Paulo, ela tem algumas dezenas de quilômetros de extensão, mas nunca fomos até lá, pelo menos não naquela época. Já mais velho e iniciando minhas viagens ao Nordeste, comecei a me deparar com praias bem maiores. O desafio da infância continuava e, uma vez, caminhei pela praia de Prado ao Arraial d’Ajuda, no sul da Bahia, sempre pela costa. É um percurso de quase 100 km e demorei alguns dias, acampando no caminho. Mas não é uma praia única e sim uma coleção delas. Enfim, aquela longa caminhada me fez querer descobrir qual a praia mais longa no Brasil. Em um mundo sem internet ou google, não foi fácil descobrir, mas enfim veio a resposta: a Praia do Cassino, no sul do Rio Grande do Sul. E, para minha surpresa, ela não era apenas a mais longa do Brasil, mas do mundo, com seus 250 km de extensão. Nascia então a promessa de, um dia, conhecer essa verdadeira campeã.
Trecho de areia fofa e lombadas naturais na Praia do Cassino, entre o Chuí e Rio Grande, no Rio Grande do Sul
Praia do Cassino, a mais longa do mundo, entre Chuí e Rio Grande, no Rio Grande do Sul
O conceito de “praia” não é muito preciso e isso sempre gera dúvidas sobre sua verdadeira extensão. Onde ela começa e onde ela acaba? No conceito mais simples, uma praia é uma faixa de areia ao longo de um corpo d’água (mar, rio ou lago) delimitada por acidentes geográficos. Assim, o que determina onde começa e acaba uma praia seria um rio ou costão de pedras ou simplesmente o fim da faixa de areia. Mas que tamanho deve ter esse rio para que seja considerado o fim da praia? Qualquer riacho serve? Sabemos intuitivamente que não, mas como definir? Por exemplo, por que Ipanema e Leblon não são uma única praia? Aquele pequeno canal já é o bastante? E a tal Praia Grande, referência da minha infância? Diversos riachos dividem a enorme praia em várias praias menores, com nomes e tudo. Mas não seria uma praia só? Não só os rios são confusos, mas uma grande rocha que nos impede o caminho também pode ser. Por exemplo, muitas vezes podemos caminhar durante a maré baixa, apenas pela faixa de areia, de uma praia à outra. Depois, com a maré cheia, temos de subir nas pedras. São duas praias ou uma só?
Nosso caminho entre o Chuí e Rio Grande, longe da estrada e através dos 250 km de areia da praia mais longa do mundo. A mesma praia muda de nome ao longo do percurso, quando mudamos de município, de Chuí para Sta Vitoria do Palmar para Rio Grande
Além dessas dúvidas causadas por acidentes geográficos de definição imprecisa, ainda há um outro tipo. Ao longo do tempo, foram sendo construídos balneários ao longo de várias praias brasileiras. Muitos deles, na mesma faixa de areia, mas separados por alguns quilômetros de distância. Cada qual batizava a praia em frente (a mesma praia!) com um nome diferente. E aí, com o tempo, viraram praias “diferentes”. Mas para a mãe natureza, sempre foram e continuarão a ser uma única praia. O litoral do Paraná e o litoral sul de São Paulo são exemplos clássicos disso. Onde havia duas ou três praias, hoje são umas trinta.
O longo caminho através da Praia do Cassino, a mais extensa do mundo, entre o Chuí e Rio Grande, no Rio Grande do Sul
Dirigindo na Praia do Cassino que, com mais de 250 km de extensão, é a mais longa do mundo. Fica entre Chuí e Rio Grande, no Rio Grande do Sul
Toda essa conversa para dizer que nosso “orgulho nacional”, a maior praia do mundo, aqui no extremo sul do país, também “nasceu” única, mas virou várias. Para complicar a situação, não é que há vários balneários nela. Não! De tão longa, são vários municípios! Cada um puxando a sardinha para seu lado e querendo que ela seja conhecida com o nome dado em seu município. Isso porque a praia ficou conhecida internacionalmente desde que saiu no Guinness Book como a maior praia do mundo. Estão todos disputando a fama e as benesses econômicas advindas disso. Mas uma coisa é certa e posso atestar, já que percorri toda a sua extensão: é uma única faixa de areia, portanto, é UMA praia. E tem algo próximo de 250 quilômetros! Então, não importa o nome, ou os nomes, é mesmo uma praia só e merecidamente está lá no livro dos recordes.
Encontrando tráfego na Praia do Cassino, entre Chuí e Rio Grande, no Rio Grande do Sul
Quase não há pessoas, mas há muitos pássaros na praia do Cassino, entre Chuí e Rio Grande, no Rio Grande do Sul
O nome que devemos dar a essa gigante, eis aí a questão! Tradicionalmente, ela é conhecida como Praia do Cassino. Começa lá na barra do rio Chuí, na fronteira do Brasil com o Uruguai, e vai até Rio Grande, na boca da Lagoa dos Patos. O nome vem do início do século passado. O balneário da Praia do Cassino foi o primeiro do Brasil, criado em 1890. O maior e mais tradicional hotel do balneário era o Atlântico e nele funcionava uma grande sala de jogos, pelo menos até que essa atividade fosse proibida no país, na década de 40. Quase um cassino. Sua fama na região deu nome a longa praia. Acontece que, muitos anos depois e muitos quilômetros ao sul, um outro balneário apareceu na mesma praia, mas em outro município, Santa Vitoria do Palmar. Era o balneário do Hermenegildo (que nome!). A praia ganhou o mesmo nome, pelo menos na sua extensão contida nesse município. Por fim, a pequena cidade de Chuí também ganhou sua autonomia, bem recentemente. Aquele trecho da praia gigante em seu território também foi rebatizado. Os habitantes de Santa Vitoria argumentam que o maior trecho da praia está em seu município, então, se for para ter um nome só, deve ser o seu, apelidado de “Hermena”. `Ou então, que seja considerado três praias, pois mesmo assim, dividida, a Hermena vai figurar entre as maiores do mundo, embora perderá o título...
Mais um encontro com um grupo de centenas de pássaros na Praia do Cassino, ao sul de Rio Grande, no Rio Grande do Sul
Mais um encontro com um grupo de centenas de pássaros na Praia do Cassino, ao sul de Rio Grande, no Rio Grande do Sul
Bom, deixe que eles briguem entre si que nem a praia, nem nós dos 1000dias damos muita bola para isso. O importante mesmo é percorrer a praia, a maior do mundo e do nosso continente querido, esse que temos explorado nesses 1000 dias de jornada americana. Para quem quer conhecer todo o continente, era uma obrigação passar por aqui também, certo? Faltava decidir como! De carro ou a pé? Resposta fácil, essa...
Cruzando com uma garça na Praia do Cassino, entre Chuí e Rio Grande, no Rio Grande do Sul
Passando ao largo da Estação Ecológica do Taim, na Praia do Cassino, entre Chuí e Rio Grande, no Rio Grande do Sul
Ao contrário da minha longa caminhada pelas praias do sul do Bahia, onde cada curva era um cartão postal, a água do mar era quente e o vento agradável, aqui nada disso é verdade. A praia é enorme e tem sua beleza, mas é uma grande reta sem fim. Caminhar esses 250 km, além de demorar uns 10 dias, seria um teste de paciência. Alguns aventureiros o fazem, mas nós, definitivamente, não estávamos com esse pique. Ainda mais, acompanhados dos meus pais. Então, resolvido, de Fiona, uma verdadeiro camarote. Nada de vento ou de frio. A questão, então, passou a ser: dá para dirigir por toda a praia?
Localização da Estação Ecológica do Taim, entre a Lagoa Mirim e o Oceano Atlântico, ao longo da Praia do Cassino, no sul do Rio Grande do Sul
A Estação Ecológica do Taim é um grande banhado (planície alagada) entre a Lagoa Mirim e o oceano, ao norte da Lagoa da Mangueira, no Rio Grande do Sul, lar de milhares de pássaros, capivaras e outros animais (fotomontagem da Internet)
Uma rápida pesquisa pela internet e uma preciosa confirmação boca a boca com gente que vive por aqui nos deixou seguros que sim, que era possível. Ainda mais num carrão como a Fiona. O único ponto era estar ligado na maré. Quanto mais baixo o mar, mais dura e firme a areia. A maré alta nos empurra para a areia fofa, principalmente em certos trechos. Mas a não ser que estivéssemos falando de uma maré alta de lua, a Fiona conseguiria se virar bem.
Um dos faróis na Praia do Cassino, entre o Chuí e Rio Grande, no Rio Grande do Sul
Um belíssimo arco-íris nos acompanha na travessia da Praia do Cassino, entre Chuí e Rio Grande, no Rio Grande do Sul
Então, sem mais delongas, bem pertinho da barra do Chuí, onde estivemos no final da manhã, deixamos a estrada para trás e entramos na areia. Ali estava nossa nova rodovia pelos próximos 250 quilômetros. Dia de sol e vento, mas não dentro da Fiona. Alguns minutos dirigindo e já tínhamos deixado para trás os últimos sinais de civilização do balneário da Barra do Chuí e estávamos sós, nós, a praia, o mar e o vento. Uma natureza vasta, quase infinita. Praia do Cassino ou Praia do Hermenegildo, para nós era, simplesmente, “a praia”.
Pescadores aproveitam a calma da Praia do Cassino ao sul de Rio Grande, no Rio Grande do Sul
Pescadores aproveitam a calma da Praia do Cassino ao sul de Rio Grande, no Rio Grande do Sul
Foram dezenas de quilômetros sem encontrar absolutamente ninguém. Aqui e ali, rastros de carros, único sinal que havia mais gente além de nós no mundo. Mundo sem gente, mas com muita vida, principalmente de pássaros. Além deles, uma manada de vacas. Pastando areia? Bebendo água do mar? Vai saber... Mas são mesmo os pássaros os senhores da praia. Pássaros pequenos e grandes. Pássaros voando sós ou em grandes grupos. Pássaros descansando e pescando. Era só a Fiona se aproximar que logo vinha o espetáculo da revoada.
Ao sul de Rio Grande, na Praia do Cassino, encontro com o navio encalhado há quase 40 anos, o Altair, no litoral do Rio Grande do Sul
Junto ao navio encalhado Altair, na Praia do Cassino, ao sul de Rio Grande, a Ixa mostra nossa posição no mapa da Fiona (litoral do Rio Grande do Sul)
Um pouco antes da metade do caminho, a grande estrela da região: a Estação Ecológica do Taim. É uma reserva de proteção de uma vasta área que fica entre a Lagoa Mirim e o Oceano Atlântico, ao norte de uma bela lagoa de água bem limpa e doce, a Lagoa Mangueira. Aqui pelo lado da praia a gente vê as placas de sinalização da reserva, mas a entrada principal está do lado da rodovia, então não pudemos entrar. Eu sei que os jipeiros da região costumam atravessar a reserva uma vez por ano, em trilhas no meio do mato e do banhado. Mas tem de saber os caminhos e fazer na época certa, o que não era o caso.
Ao sul de Rio Grande, na Praia do Cassino, encontro com o navio encalhado há quase 40 anos, o Altair, no litoral do Rio Grande do Sul
Ao sul de Rio Grande, na Praia do Cassino, encontro com o navio encalhado há quase 40 anos, o Altair, no litoral do Rio Grande do Sul
É uma área de banhado, o nome que se dá aqui no sul para as planícies alagadas. O lugar fervilha de vida animal, principalmente de pássaros. São dúzias de espécies e dezenas de milhares deles. Mas têm muito mamífero também, como capivaras, cachorros-do-mato, ratão-do-banhado e até lontras. Para quem gosta de répteis, numa área com tanta água, não poderiam faltar tartarugas, cobras e, claro, jacarés!
Explorando os escombros do Altair, barco encalhado desde 1976 na Praia do Cassino, no Rio Grande do Sul
Cada vez mais próximos de Rio Grande, primeiro encontro com tráfego na Praia do Cassino, no Rio Grande do Sul
Foi apenas quando passamos pela estação ecológica que mudamos de município e entramos, oficialmente, na Praia do Cassino. Tem até um farol (são dois ou três, ao longo de todo o percurso) nesse ponto, o que torna mais fácil a identificação de tão controversa “fronteira”, fim de uma praia e início da outra. Começa a aparecer um carro ou outro, quase todos de pescadores em busca de um bom ponto na praia. Não deve ser difícil encontrar... Coincidentemente, foi também nesse ponto que um gigantesco e nítido arco-íris apareceu no céu. Era para nos dar as boas vindas à maior praia do mundo?
Cada vez mais próximos de Rio Grande, cada vez mais movimento de pescadores e banhistas na Praia do Cassino, no Rio Grande do Sul
Cada vez mais próximos de Rio Grande, cada vez mais movimento de pescadores e banhistas na Praia do Cassino, no Rio Grande do Sul
Finalmente, já a menos de 20 quilômetros do final, chegamos a um dos principais pontos de referência dessa praia inacabável: o naufrágio do navio Altair. Desde Julho de 1976 ele está lá, apodrecendo e enferrujando sob a ação das ondas e da maresia inclemente. Foi uma ótima oportunidade para esticarmos as pernas e respirarmos ar puro. Sessão de fotos e exploração da carcaça do barco, bem no limite da água e da areia. Depois, de volta para a Fiona para os quilômetros finais.
Monumento no trecho inicial da Praia do Cassino, já bem próximos de Rio Grande, no Rio Grande do Sul
Monumento no trecho inicial da Praia do Cassino, já bem próximos de Rio Grande, no Rio Grande do Sul
Pois é, quanto mais perto do balneário do Cassino, maior o movimento. Muito carro na praia. Aqui, começo a aprender com os próprios olhos algo que a Ana já conhecia e me ensinava: o conceito de “praia de gaúcho”. Nesse estado, leva-se o carro para dentro da praia. Como as faixas de areia são largas e firmes, tudo é transformado em um enorme estacionamento. As pessoas armam suas barracas e cadeiras do lado de seus veículos. A quantidade de pescadores também é enorme. Também...com o vento e o frio, o mar é muito mais para peixe do que para gente!
Ao chegar em rio Grande, fim de viagem na Praia do Cassino, a mais longa do mundo, com mais de 250 km de extensão, no Rio Grande do Sul
Enfim, chegamos ao final do trecho permitido para carros. Já se vê os gigantescos moles que marcam o fim da praia e o canal de água que liga a Lagoa dos Patos ao mar. Deixamos a areia para trás e entramos no avô de todos os balneários brasileiros. Hoje, virou um grande bairro, com mais de 20 mil habitantes. Daí para o centro da cidade são poucos quilômetros. É para lá que seguimos, depois de percorrer a praia mais extensa do mundo, um sonho antigo que, enfim, se realizou!
Chegando à cidade de Rio Grande, importante porto no litoral do Rio Grande do Sul
Muito bom ver este lado do caminho.... já tínhamos ido de Porto Alegre para o Chuí pela BR116, também muito interessante.
Aprendi muito com vocês sobre a história da região.
Abraços
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