0 O Outro Chacaltaya - 2a Parte - Blog do Rodrigo - 1000 dias

O Outro Chacaltaya - 2a Parte - Blog do Rodrigo - 1000 dias

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O Outro Chacaltaya - 2a Parte

Bolívia, Chacaltaya

Admirando a paisagem da região do Chacaltaya, na Bolívia

Admirando a paisagem da região do Chacaltaya, na Bolívia


A Fiona foi ficando para trás e para baixo, em um trecho de estrada onde ainda batia o sol, enquanto nós caminhávamos com cuidado pela pista tomada pelo gelo e pela neve e escondida pela sombra da montanha. Fixávamos bem o pé no chão e nos apoiávamos em nossos sticks de caminhada, pois qualquer deslize para o “lado errado” e escorregaríamos por dezenas de metros. O que era supostamente uma estrada, larga o suficiente para um carro como a Fiona, agora era apenas uma estreita e escorregadia trilha sobre o gelo.

Aproximando-se do pico de montanha na região do Chacaltaya, na Bolívia

Aproximando-se do pico de montanha na região do Chacaltaya, na Bolívia


Finalmente, ultrapassamos o trecho de sombra e, sob o sol, lá do outro lado, a neve havia derretido e podíamos pisar no solo novamente. A pior parte tinha ficado para trás! Pelo menos, da parte de estrada. Isso porque ela terminava logo ali, numa pequena área de construção. Mas a montanha continuava, e muito, para cima!

Com calma, descendo montanha na região do Chacaltaya, na Bolívia

Com calma, descendo montanha na região do Chacaltaya, na Bolívia


Esforço para subir montanha na região do Chacaltaya, na Bolívia

Esforço para subir montanha na região do Chacaltaya, na Bolívia


Se a montanha continuava, decidimos continuar também! Até aquele trecho da estrada tomada pelo gelo, eu ainda tinha esperança de estarmos no Chacaltaya. Mas agora, com o fim da estrada, tive mesmo de admitir que a montanha era outra. Ou, na melhor das hipóteses, uma subida alternativa, pelo outro lado, à famosa montanha. De qualquer maneira, só descobriríamos isso mais para cima e para lá seguimos!

Aproximando-se do cume de montanha na região do Chacaltaya, na Bolívia

Aproximando-se do cume de montanha na região do Chacaltaya, na Bolívia


No cume de montanha, a mais de 5.300 metros, na região do Chacaltaya, na Bolívia

No cume de montanha, a mais de 5.300 metros, na região do Chacaltaya, na Bolívia


No início, ainda seguíamos uma espécie de trilha, poucos e pequenos rastros de que, não muito tempo atrás, alguém tinha passado por ali. Mas depois, até essas pequenas pegadas sumiram. Então, deixei de procurá-las e passei em me concentrar na procura do melhor caminho para cima. Os lugares menos íngremes, com menos barrancos e pedras, com menos neve. Quando não dava para escapar de algum barranco ou degrau de pedras, a estratégia era achar as passagens ou “escadas” naturais. Outro ponto importante era tentar marcar na memória alguma rocha com formato distinto, para ter pontos de referência desse caminho que estávamos inventando para, na volta, não ficarmos perdidos.

A mais de 5.300 metros de altitude, no topo de montanha na região do Chacaltaya, na Bolívia

A mais de 5.300 metros de altitude, no topo de montanha na região do Chacaltaya, na Bolívia


Felicidade por chegar ao topo da montanha na região do Chacaltaya, na Bolívia

Felicidade por chegar ao topo da montanha na região do Chacaltaya, na Bolívia


E assim, com todo o cuidado, superamos os dois maiores degraus de pedras, na verdade paredes de rocha com alguns metros de altura e atingimos um terreno mais regulas, uma subida com pouco menos de 45 graus de inclinação e pequenas pedras espalhadas pelo terreno. Aí, o cuidado era apenas de encontrar as partes com solo exposto, driblando a neve e o gelo, sempre muito escorregadios. Agora, um escorregão nos levaria a mais de cem metros abaixo!

No alto da montanha, admirando a beleza da região do Chacaltaya, na Bolívia

No alto da montanha, admirando a beleza da região do Chacaltaya, na Bolívia


No alto da montanha, admirando a beleza da região do Chacaltaya, na Bolívia

No alto da montanha, admirando a beleza da região do Chacaltaya, na Bolívia


Finalmente, a inclinação começou a diminuir e as últimas manchas de neve ficaram para baixo. Estávamos chegando ao pico e o cume era todo “careca”, sem nenhum gelo, provavelmente porque aí o sol incidente e o vento não deixavam a neve acumular. Um último esforço e chegamos ao ponto mais alto da montanha, uma magnífico panorama ao nosso redor, visão ampla de montanhas ao longe e dos vales abaixo, um verdadeiro prêmio para quem chega àquele lugar ermo e longínquo.

Descanso e reflexão no topo de montanha na região do Chacaltaya, na Bolívia

Descanso e reflexão no topo de montanha na região do Chacaltaya, na Bolívia


Para nossa sorte, não ventava e a temperatura estava agradável. Deveríamos estar a uns 5.350 metros de altitude e, logo ali do nosso lado, a poucas centenas de metros, estava o verdadeiro Chacaltaya, poucos metros acima de nós. Tínhamos mesmo subido uma outra montanha, um “outro” Chacaltaya, um pouco mais baixo mas bem mais exclusivo! E a visão lá de cima era de tirar o fôlego!

Com a mão sobre o verdadeiro pico Chacaltaya, na Bolívia

Com a mão sobre o verdadeiro pico Chacaltaya, na Bolívia


Foi o local perfeito para um pequeno lanche, para muitas fotografias e, mais que tudo, para inesquecíveis momentos de contemplação, uma natureza grandiosa à nossa frente. É de pontos como esse que podemos ver com mais clareza como o mundo é grande e sem fronteiras ou porteiras, no seu estado bruto e natural. O ar é puro, a atmosfera é límpida, as cores são mais intensas , os contornos mais definidos e as formas mais claras. Cercados de tanta beleza, a vontade e o desejo eram de ficarmos por ali, aproveitar cada minuto e cada ângulo nesse lugar sensacional.

A paisagem grandiosa da região do Chacaltaya, na Bolívia

A paisagem grandiosa da região do Chacaltaya, na Bolívia


A paisagem grandiosa da região do Chacaltaya, na Bolívia

A paisagem grandiosa da região do Chacaltaya, na Bolívia


Mas, não podemos nos enganar. A noite ali deve ser gélida. Com a chegada do vento, o frio deve ser insuportável e, além do mais, tínhamos de seguir nosso caminho. E isso significava descer! De novo, com todo o cuidado, buscarmos nossos próprios rastros, a via que havíamos aberto na subida. Antes disso, uma última olhada na paisagem e também no próprio Chacaltaya. Que bom que havíamos errado de montanha! As minhas antigas e sagradas memórias de 23 anos atrás continuariam intocadas, enquanto eu ganhava nossas memórias, fresquinhas, de uma outra montanha conquistada junto com minha linda e amada Ana. A combinação não poderia ter sido mais perfeita!

A magnífica região do Chacaltaya, na Bolívia

A magnífica região do Chacaltaya, na Bolívia


O caminho para baixo foi, evidentemente, mais tranquilo. Mesmo quando nos perdemos de nossos próprios rastros e tivemos de encontrar uma via alternativa para descer um dos barrancos de pedra. Superado esse obstáculo, voltamos á rota e chegamos à estrada. Aí, foi só passar por aquela parte de sombra, com mais gelo e neve, e alcançarmos a Fiona que, como sempre, nos esperava fielmente. Também ela estava feliz, ao sol, nos seu recorde de altitude. Novamente, nos levou em segurança através da estreita estrada que corre ao lado de belíssimos lagos e tenebrosos precipícios. Meia hora de caminho até o fundo da vale, aquele que tinha uma porteira fechada, mas que podíamos contornar numa espécie de caminho alternativo.

A mais de 5.300 metros de altitude, no topo de montanha na região do Chacaltaya, na Bolívia

A mais de 5.300 metros de altitude, no topo de montanha na região do Chacaltaya, na Bolívia


Iniciando a descida de montanha na região do Chacaltaya, na Bolívia

Iniciando a descida de montanha na região do Chacaltaya, na Bolívia


O Chacaltaya ficava definitivamente para trás e sua última tentativa de não nos deixar partir foi um grande rebanho de ovelhas e lhamas fechando a estrada. Pode ser uma cena normal por aqui, no alto dos Andes, mas para nós, brasileiros, ver uma estrada interrompida por lhamas é sempre um evento digno de fotografias, hehehe. Ainda mais em meio a uma paisagem dessas, tantas montanhas nevadas no horizonte. Espetacular! O mais interessante é que eles parecem tão ou mais curiosas conosco do que nós com elas. Afinal, também não é todo dia que elas veem uma Hilux brasileira por aquelas bandas!

Lhamas e ovelhas bloqueiam estrada aos pés do Chacaltaya, na Bolívia

Lhamas e ovelhas bloqueiam estrada aos pés do Chacaltaya, na Bolívia


Lhama nos olha curiosa na região do Chacaltaya, na Bolívia

Lhama nos olha curiosa na região do Chacaltaya, na Bolívia


Por fim, abriram caminho para que passássemos e nós aceleramos de volta para o caminho de terra principal. Lá chegando, tomamos a direção à Coroico, mas já não tínhamos tempo de chegar até lá. Pelo menos, não com luz. E não havia nenhum sentido em descer a “Carretera de la Muerte” (o caminho para lá) no escuro, sem nenhuma vista. Tínhamos de encontrar algum lugar para dormir e continuarmos a estrada no dia seguinte.

Abrindo passagem entre lhamas e ovelhas em estrada na região do Chacaltaya, na Bolívia

Abrindo passagem entre lhamas e ovelhas em estrada na região do Chacaltaya, na Bolívia


O problema é que, naquele verdadeiro (e magnífico!) fim de mundo onde estávamos, não havia nenhuma perspectiva de encontrarmos algum hotel ou pousada. Mas, surpresa geral, eis que aparece uma placa apontando para uma hospedaria, um lugar chamado Pampalarama.

Lhamas e ovelhas bloqueiam estrada aos pés do Chacaltaya, na Bolívia

Lhamas e ovelhas bloqueiam estrada aos pés do Chacaltaya, na Bolívia


O caminho para esse lugar com nome saído de um conto de fadas nos desviava de nossa estrada, mas quem iria reclamar numa hora dessas? Ninguém pode reclamar de um milagre e encontrar um lugar para dormir naquela situação era um milagre! Aliás, era disso mesmo que se tratava, um milagre de conto de fadas, ainda mais quando percebemos o setting maravilhoso do tal Pampalarama. Fomos subindo por um vale até o final da estrada, já encostado nas montanhas nevadas e ao lado de um lago que espelhava essas montanhas. Parecia muito bom para ser verdade!

Estrada de terra corta as montanhas entre o Chacaltaya e Pampalarama, na Bolívia

Estrada de terra corta as montanhas entre o Chacaltaya e Pampalarama, na Bolívia


Barco para hóspedes do hotel em Pampalarama, em lago do belíssimo vale nos Andes bolívianos

Barco para hóspedes do hotel em Pampalarama, em lago do belíssimo vale nos Andes bolívianos


Pois é, era uma espécie de refúgio para paceños (habitantes de La Paz) ricos e com espírito de aventura. E estava fechado. Quer dizer, estava fechando! Encontramos a menina que tomava conta do lugar no seu último minuto antes de fechar a porta, trancar a porteira e caminhar vale abaixo, onde ficava a pequena vila onde morava. Como não haviam hóspedes para hoje, tinha tirado a noite de folga. Mas agora, diante de nossos insistentes pedidos, acabou ligando para o chefe, que autorizou nossa estadia. Tínhamos arrumado um lugar para ficar! Um lugar não, uma verdadeira paisagem de cinema!

Em noite estrelada, a Fiona dorme aos pés de montanha gelada em Pampalarama,, na Bolívia

Em noite estrelada, a Fiona dorme aos pés de montanha gelada em Pampalarama,, na Bolívia


Depois da dura caminhada, descanso merecido em Pampalarama, com vinho e aquecedor, nas montanhas da Bolívia

Depois da dura caminhada, descanso merecido em Pampalarama, com vinho e aquecedor, nas montanhas da Bolívia


É claro que não havia comida por ali, mas nós tínhamos a nossa, um macarrão que havia sobrado das compras que tínhamos feito para a caminhada lá em Choquequirao, no Peru. Para tornar tudo ainda mais perfeito, eles não tinham comida, mas tinham vinho! Então, aos 4.200 metros de altitude, noite de céu claro e montanhas nevadas iluminadas por intenso luar, frio de zero graus, lá estávamos nós, ao redor de um aquecedor, sala aconchegante e um bom vinho para degustar. Nem parecia verdade!. Foi um daqueles dias em que tudo deu certo, mesmo quando parecia estar dando errado, hehehe!

O nosso hotel, localizado no alto de um vale na região de Pampalarama, nos Andes bolivianos

O nosso hotel, localizado no alto de um vale na região de Pampalarama, nos Andes bolivianos


AS montanhas da região de Pampalarama, nos Andes bolivianos

AS montanhas da região de Pampalarama, nos Andes bolivianos


Chegando perto das montanhas nevadas da região de Pampalarama, nos Andes bolivianos

Chegando perto das montanhas nevadas da região de Pampalarama, nos Andes bolivianos


Hoje cedo, ainda tivemos tempo para explorar um pouco esse lugar que parece ter saído dos sonhos. Eu caminhei montanha acima, tentando chegar mais perto da neve e tendo uma visão mais ampla do hotel e do vale lá embaixo. Já a Ana, foi caminhar ao redor do lago, tendo a chance de ver e fotografar algumas das mais belas paisagens. Com o ar bem parado pela manhã, as águas do lago estavam imóveis, formando um perfeito espelho para as montanhas ao redor. Uma chance de ouro muito bem aproveitada pela esposa fotógrafa.

Um lago de águas limpas e geladas forma incríveis reflexos da magnífica paisagem do vale de Pampalarama, na Bolívia

Um lago de águas limpas e geladas forma incríveis reflexos da magnífica paisagem do vale de Pampalarama, na Bolívia


Um lago de águas limpas e geladas forma incríveis reflexos da magnífica paisagem do vale de Pampalarama, na Bolívia

Um lago de águas limpas e geladas forma incríveis reflexos da magnífica paisagem do vale de Pampalarama, na Bolívia


Depois do passeio matinal, hora de estrada novamente. Tínhamos que retornar um pouco, voltar à estrada principal e seguirmos até o ponto onde se inicia a descida dos Andes. É ali que começa a famosa Estrada da Morte, a estrada que já estava nos nossos planos desde que iniciamos esses 1000dias. Finalmente, havia chegado o dia!

Um lago de águas limpas e geladas forma incríveis reflexos da magnífica paisagem do vale de Pampalarama, na Bolívia

Um lago de águas limpas e geladas forma incríveis reflexos da magnífica paisagem do vale de Pampalarama, na Bolívia

Bolívia, Chacaltaya, trilha, montanha, Pampalarama

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O Antigo e Verdadeiro Chacaltaya (1990)

Comentários (3)

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  • 03/10/2013 | 21:13 por mabel

    Lindo!!!!!!!!!!!! Que fotos!!!!!!! O relato foi tão perfeito que me senti no lugar.

    Abraços

    Resposta:
    Oi Mabel

    Que bom! Essa é nossa intenção, que vc viaje conosco!!!

    Um abs

  • 03/10/2013 | 18:03 por suzana

    Olá!!!

    As fotos ficaram belíssimas . Parabéns!!!

    Mas bateu uma curiosidade, vcs pesquisam sobre músicas locais? Sou muito ligada a música e instrumentos musicais, qdo viajo fico fissurada em conhecer os artistas locais e os instrumentos típicos da região.

    Abs

    Resposta:
    Oi Suzana

    Nós também gostamos muito de música, mas na pressa que sempre estamos, não conseguimos pesquisar muito, infelizmente.

    Sempre estamos escutando radios locais e indo à bares para ouvir música do própio país. Quando gostamos, vamos comprando CDs ou copiando músicas, fazendo uma discoteca das Américas...

    Mas, confesso, gostaria de ter mais tempo para isso...

    Um abs

  • 03/10/2013 | 14:12 por Rubens Werdesheim

    Incrível. O mais legal é a grandiosidade de vcs compartilharem tudo isso !Que tudo continue dando certo por aí !

    Resposta:
    Olá Rubens

    Compartilhar faz a noss viagem ficar muito mais interessante! É nosso jeito de agradecer essa chance que estamos tendo, poder mostrar às pessoas todas essas belezas no caminho!

    Um grande abraço

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