0 Chegando e Saindo de Cabo Polonio - Blog do Rodrigo - 1000 dias

Chegando e Saindo de Cabo Polonio - Blog do Rodrigo - 1000 dias

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Chegando e Saindo de Cabo Polonio

Uruguai, Cabo Polonio

A cada meia hora, novo caminhão com turistas chega a Cabo Polonio, no litoral do Uruguai

A cada meia hora, novo caminhão com turistas chega a Cabo Polonio, no litoral do Uruguai


Quando eu estive no Uruguai, no início de 2006, tive uma grande surpresa. E essa surpresa tinha nome: Cabo Polonio. Naquela época, eu não achava que existia algo verdadeiramente interessante no litoral do Oceano Atlântico ao sul de Santa Catarina. Algumas praias bonitas, certamente, mas eu as imaginava geladas, próprias apenas para algumas fotos e nada mais. Combinariam mais com focas, baleias e pinguins. Algo assim como a Península Valdés, na Argentina, paraíso da vida selvagem, maravilhosa para se visitar e se encantar com a fauna, mas de modo algum própria para um bom banho de mar.

Entrada do Parque Nacional de Cabo Polonio, no litoral do Uruguai

Entrada do Parque Nacional de Cabo Polonio, no litoral do Uruguai


Na entrada do parque, esperando o horário do nosso caminhão para Cabo Polonio, no litoral do Uruguai

Na entrada do parque, esperando o horário do nosso caminhão para Cabo Polonio, no litoral do Uruguai


Pois é... aqueles dias de verão no Uruguai me fizeram ver que eu estava redondamente enganado. Pequenas cidades praianas como Punta del Diablo e La Pedrera não devem nada às nossas praias de Santa Catarina ou Nordeste. Claro, estou falando exclusivamente do verão, pois no resto do ano elas se assemelham mais ao que eu imaginava antes. Mas durante os meses quentes do ano, não só a temperatura da água é agradável, mas as próprias cidades são interessantes, clima festivo e jovial, descontraído, gente bonita e boas opções de estadia e comida. E nesse litoral que tanto me surpreendeu, havia uma “joia da coroa”. Estou falando de Cabo Polonio, um pequeno povoado de pescadores, longe de tudo e de todos, quase isolada da civilização, sem estradas, sem asfalto, sem luz elétrica.


Na foto do satélite é possível ver o caminho de areia que o caminhão segue do estacionamento do parque até a praia. Daí ele segue, ao lado do mar, até o pequeno povoado de Cabo Polonio, no litoral do Uruguai

Na foto do satélite é possível ver o caminho de areia que o caminhão segue do estacionamento do parque até a praia. Daí ele segue, ao lado do mar, até o pequeno povoado de Cabo Polonio, no litoral do Uruguai


Era a dificuldade de acesso que a tornava ainda mais especial. O povoado se desenvolveu ao redor de um farol, a única construção que está ligada à rede elétrica, em meio a uma área que hoje é um parque nacional no país e que, na época, ainda era apenas uma reserva. A área é protegida devido ao ambiente frágil, composto pelas maiores dunas de areia do Uruguai. O visual é quase nordestino, ou então, bem parecido com a pequena Itaúnas, no norte do Espírito Santo, ou ao Farol de Santa Marta, no sul de Santa Catarina. Com a diferença de que é muito menor, principalmente devido às dificuldades e limitações de acesso e construção de novas moradias.

A estrada de areia que nos leva a Cabo Polonio, no litoral do Uruguai

A estrada de areia que nos leva a Cabo Polonio, no litoral do Uruguai


A estrada de areia que nos leva a Cabo Polonio, no litoral do Uruguai

A estrada de areia que nos leva a Cabo Polonio, no litoral do Uruguai


Pois esse é exatamente o primeiro e um dos maiores charmes de Cabo Polonio: a dificuldade de se chegar até lá. Em 2006 eu estava em um carro pequeno, um Fox, que dificilmente enfrentaria a trilha de areia fofa que liga a rodovia à praia. Não é longe, cerca de oito quilômetros, mas a chuva deixa poças profundas e as trilhas mudam constantemente de lugar, buscando os trechos mais secos. Aí, o perigo é mesmo a areia fofa. Pois bem, naquela época, ali onde terminava o asfalto, o carro ficava estacionado e nós seguíamos em camionetes ou caminhões tracionados. Primeiro até a praia e, depois, através dela, até o farol e o pequeno povoado.

O Joca e a Ixa, pais do Rodrigo, no caminhão em direção a Cabo Polonio, no litoral do Uruguai

O Joca e a Ixa, pais do Rodrigo, no caminhão em direção a Cabo Polonio, no litoral do Uruguai


O Joca e a Ixa no caminhão para Cabo Polonio, no litoral do Uruguai

O Joca e a Ixa no caminhão para Cabo Polonio, no litoral do Uruguai


Como eu não conhecia o lugar, acabei reservando apenas uma tarde para conhecê-lo. Que arrependimento e que vontade de ficar mais! Mas sem reservas, com o carro esperando e a agenda apertada, tive de voltar no final do dia, com o coração apertado e a promessa de, um dia, voltar. Agora, no final dos 1000dias, chegou a hora de cumprir aquela promessa. Só que agora, de uma maneira muito melhor. Primeiro, porque eu não poderia estar melhor acompanhado, com a Ana e meus pais. Segundo porque, como dessa vez eu já conheço o paraíso, reservamos muito mais tempo para ficar em Cabo Polonio. Há alguns dias atrás, quando estávamos em Colonia del Sacramento, conseguimos reservar uma boa pousada, por dois dias e noites. Pouso reservado, só faltava chegar até aqui.

1000dias no caminhão em direção a Cabo Polonio, no litoral do Uruguai

1000dias no caminhão em direção a Cabo Polonio, no litoral do Uruguai


Pois é, dessa vez, estamos de Fiona. E se a Fiona chegou até o Alaska, certamente seria capaz de vencer aquele pequeno trecho de trilhas até a praia. Na verdade, faria isso com um pé nas costas, com todo o conforto e segurança. Então, tratei de me informar sobre isso. Foi quando descobri que Cabo Polonio virou um parque e que o acesso por carros é bastante restringido. É permitido apenas para os moradores e para a frota de caminhões 4x4 que faz o serviço de transporte. A razão dessas limitações é bem simples: preservação. Se a Fiona é capaz de fazer o percurso, outras milhares de camionetes também são. Isso significaria um tráfego intenso através de uma região de ecossistema frágil. Seria como matar a galinha dos ovos de ouro.

Chegando à praia, Cabo Polonio, no litoral do Uruguai, já aparece no horizonte

Chegando à praia, Cabo Polonio, no litoral do Uruguai, já aparece no horizonte


Cabo Polonio, no litoral do Uruguai

Cabo Polonio, no litoral do Uruguai


Então, ao transformar a área em um parque e proibir o acesso à carros particulares, o governo também construiu uma espécie de terminal de passageiros. Fica na saída da rodovia e na entrada do parque. Ali há banheiros, estacionamento e todas as informações sobre o parque, geologia, história, fauna e flora, turismo, etc... Também está aí a bilheteria e é onde pegamos o nosso “caminhão” de transporte. Uma experiência e tanto para meus octogenários e aventureiros pais. Trocaram o ar condicionado da Fiona pelo ar puro dos caminhões abertos, em forma de gaiolas. E fizeram isso com toda a esportiva!

Já no trecho de praia, no caminhão em direção a Cabo Polonio, no litoral do Uruguai

Já no trecho de praia, no caminhão em direção a Cabo Polonio, no litoral do Uruguai


Nós saímos cedo de La Pedrera, mais ao sul, e em menos de meia hora já chegávamos ao moderno terminal. Compramos nossas passagens e, enquanto não chegava nosso horário (são bem frequentes nesse época!), ainda tivemos tempo de ver e ler todas as informações sobre Cabo Polonio, desde as fotos históricas até a grande maquete. Depois, quando chegou nosso transporte, já estávamos a postos para pegar os melhores lugares, meus pais bem acomodados e seguros no meio do caminhão e eu e a Ana no telhado, bem em cima do motorista, o melhor lugar para tirar fotos e admirar a paisagem.

Praça central, onde para o caminhão em Cabo Polonio, no litoral do Uruguai

Praça central, onde para o caminhão em Cabo Polonio, no litoral do Uruguai


Mochileiros chegam a Cabo Polonio, no litoral do Uruguai

Mochileiros chegam a Cabo Polonio, no litoral do Uruguai


O caminhão encheu e partimos. Deve caber quase umas 30 pessoas e ele segue bem lentamente, vencendo as poças e navegando pelo verdadeiro emaranhado de trilhas que corta a região. Em menos de de 10 minutos chegamos ás dunas, onde a vegetação fica bem mais escassa e um mar de areia nos cerca. Outros minutos mais e o farol aparece, atrás de uma grande duna, ainda bem distante. Mais um pouco e chegamos ao mar e à praia. Aí, é só virar a esquerda e seguir aquela grande avenida natural, praia de areia bem firme, boa para se dirigir e também para caminhar. O farol vai ficando cada vez maior e começamos a perceber as pequenas casas ao seu redor. O povoado, quase sem ruas, se espalha por uma pequena campina onde se assenta o farol e em frente à praia do lado de lá.

Mais um caminhão com turistas chega à Cabo Polonio, no litoral do Uruguai

Mais um caminhão com turistas chega à Cabo Polonio, no litoral do Uruguai


A cada meia hora, novo caminhão com turistas chega a Cabo Polonio, no litoral do Uruguai

A cada meia hora, novo caminhão com turistas chega a Cabo Polonio, no litoral do Uruguai


A chegada é bem interessante, os moradores nos observando pendurados no caminhão e nós, os turistas, observando não só os moradores, mas também a estranha cidade aos nossos pés, arquitetura peculiar, umas poucas ruas de areia, o farol reinando sobre a colina que divide e praia em duas. Tudo isso cercado pelo mar infinito à nossa frente e por um oceano de dunas às nossas costas. A praça onde o caminhão para é uma torre de babel, hippies e mochileiros do mundo inteiro andando para lá e para cá, uma fila de passageiros prontas para embarcar e nós, ávidos para descer.

A Ixa, mãe do Rodrigo, de mochilas prontas para partir de Cabo Polonio, no litoral do Uruguai

A Ixa, mãe do Rodrigo, de mochilas prontas para partir de Cabo Polonio, no litoral do Uruguai


Esperando o horário de partida do caminhão em Cabo Polonio, no litoral do Uruguai

Esperando o horário de partida do caminhão em Cabo Polonio, no litoral do Uruguai


Descemos com nossas mochilas e vamos nos instalar em nossa pousada. Aqui, todo mundo anda a pé. No início, estamos meio perdidos, mas não demora muito para se ambientar. Duas horas por ali e já nos sentimos veteranos, olhando com certo desprezo os turistas que chegam nos diversos caminhões, de meia em meia hora no horário de “pico”. Durante o dia, os caminhões chegam cheios e partem praticamente vazios. No fim de tarde, isso se inverte. Mas o tráfego é mais ou menos constante. A cada caminhão que parte, me dá aquela felicidade de não estar nele. Além disso, principalmente ao final do dia, é bem legal ver a cidade se esvaziar, pois muita gente ainda vem no bate-volta, sem reserva para passar a noite. Dá para perceber em suas faces que o arrependimento é quase geral, como foi o meu, oito anos atrás.

O Joca e a Ixa, pais do rodrigo, já instalados no caminhão que nos levará embora de Cabo Polonio, no litoral do Uruguai

O Joca e a Ixa, pais do rodrigo, já instalados no caminhão que nos levará embora de Cabo Polonio, no litoral do Uruguai


A Ana ocupa seu lugar no telhado do caminhão que nos levará embora de Cabo Polonio, no litoral do Uruguai

A Ana ocupa seu lugar no telhado do caminhão que nos levará embora de Cabo Polonio, no litoral do Uruguai


Infelizmente, nosso tempo por aqui também passou, embora dessa vez tenha durado mais. Dois dias depois de chegarmos, tivemos de partir. Então, de volta àquela praça e todos a bordo do caminhão. Partimos muito mais experientes do que chegamos, em todos os aspectos, até na “arte” de andar de caminhão. Tivemos uma ótima temporada por aqui, com chuva, sol, pôr-do-sol, caminhadas e caipirinhas (vou relatar nos próximos posts), Cabo Polonio continua linda como sempre e a vontade de voltar, quando a vemos pela última vez do alto do caminhão, é mais forte do que nunca. Voltaremos!

Mais um caminhão abarrotado de turistas chega a Cabo Polonio, no litoral do Uruguai

Mais um caminhão abarrotado de turistas chega a Cabo Polonio, no litoral do Uruguai

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