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Mariposa Grove: Aqui, Tudo Começou

Estados Unidos, Califórnia, Yosemite National Park

As milenares sequoias do Mariposa Grove, no Yosemite National Park, na Califórnia, nos Estados Unidos

As milenares sequoias do Mariposa Grove, no Yosemite National Park, na Califórnia, nos Estados Unidos


A previsão de tempo acertou em cheio e o dia amanheceu chuvoso hoje. Ainda bem que fizemos a caminhada ontem, pois nesta manhã só veríamos nuvens... Com o tempo assim, aproveitamos para dormir até mais tarde e rumarmos para a Mariposa Grove, o maior bosque de sequoias de Yosemite.

Com o amigo Greg, em dia chuvoso no Yosemite National Park, na Califórnia, nos Estados Unidos

Com o amigo Greg, em dia chuvoso no Yosemite National Park, na Califórnia, nos Estados Unidos


Antes disso, ainda em frente ao lodge que ficamos dentro do parque, Fiona já pronta para sair, reencontramos nossos amigos de ontem, os paramédicos Greg e Ellen, que nos “salvaram” com suas lanternas. Moram em Santa Cruz, um pouco ao sul de San Francisco, e nos convidaram para conhecer sua cidade. Ontem de noite tínhamos ficado até bem tarde no restaurante da área, bebemorando nosso encontro. Foi joia!

Com o Greg e a Ellen, que nos salvaram com suas lanternas na noite anterior, no Yosemite National Park, na Califórnia, nos Estados Unidos

Com o Greg e a Ellen, que nos salvaram com suas lanternas na noite anterior, no Yosemite National Park, na Califórnia, nos Estados Unidos


A primeira parada da viagem de hoje ainda foi dentro do Yosemite Valley. Bem em frente a uma das mais conhecidas cachoeiras do parque, a Bridelveil Falls. É a cachoeira que “recebe” todos que chegam ao vale. Uma pequena caminhada de 200 metros leva até um mirante para observá-la. Chato mesmo era só a chuva fina que nos atrapalhava a fotografar.

Caixas lacradas, a prova de ursos negros, para estocar comida no Yosemite National Park, na Califórnia, nos Estados Unidos

Caixas lacradas, a prova de ursos negros, para estocar comida no Yosemite National Park, na Califórnia, nos Estados Unidos


Saindo do vale rumo ao sul do parque, passamos por um mirante chamado “tunnel”. O nome vem do fato de estar bem na saída de um túnel de quem vem em sentido contrário. O túnel foi estrategicamente construído para causar impacto em quem passe por ele, chegando ao vale. Afinal, vai descortinar uma impressionante paisagem, todas as grandes montanhas que circundam Yosemite à vista, assim como a Bridelveil Falls. Hoje, com o tempo do jeito que estava, o “impacto” não era tão grande, mas não deixava de ser impressionante também. As montanhas, picos, cachoeiras e florestas do parque sumiam e reapareciam atrás de uma teimosa névoa. É como diz um dos painéis explicativos espalhados pelo mirante: “Yosemite nunca é o mesmo, mudando todas as estações, todos os dias!”.

A Bridalveil Falls, no Yosemite National Park, na Califórnia, nos Estados Unidos

A Bridalveil Falls, no Yosemite National Park, na Califórnia, nos Estados Unidos


Daí seguimos para o extremo sul do parque, onde está a Mariposa Grove, o local que deu origem ao Yosemite National Park e, ainda mais, foi o precursor de todos os parques nacionais do país. A história é bem interessante e a personagem principal, além das sequoias, é um homem chamado Galen Clark.

Muita névoa no Yosemite National Park, na Califórnia, nos Estados Unidos

Muita névoa no Yosemite National Park, na Califórnia, nos Estados Unidos


Clark havia se mudado para a California na época da Gold Rush de 1849, atrás da fortuna fácil. Acabou trabalhando em um mina, trabalho pesado que lhe rendeu uma tuberculose severa. Com menos de 40 anos de idade, os médicos lhe davam apenas mais seis meses de vida. Um pouco mais, talvez, se fosse viver nas montanhas e respirar ar puro.

Meio desanimado com as nuvens sobre a grandiosa paisagem do Yosemite National Park, na Califórnia, nos Estados Unidos

Meio desanimado com as nuvens sobre a grandiosa paisagem do Yosemite National Park, na Califórnia, nos Estados Unidos


Sem outras opções, ele foi. E escolheu a área de Mariposa, aos pés da Sierra Nevada. Dessa área vinham relatos esparsos de uma gigantesca árvore, maior do que qualquer coisa que se conhecesse. A história já tinha atravessado o país e era conhecida na costa leste como “California Hoax”, ou a “farsa da California”. Ninguém acreditava ser possível uma árvore daquele tamanho. Pois Clark decidiu que gastaria seus últimos meses de vida descobrindo se a tal história era mesmo falsa ou não.

Sempre feliz quando se está próximo às maravilhosas sequoias, na Mariposa Grove, no Yosemite National Park, na Califórnia, nos Estados Unidos

Sempre feliz quando se está próximo às maravilhosas sequoias, na Mariposa Grove, no Yosemite National Park, na Califórnia, nos Estados Unidos


Três meses de árdua procura, andando no meio do mato e finalmente ele topou com a Mariposa Grove. Ali, cresciam não apenas uma, mas centenas de sequoias. A visão das imponentes árvores fez muito bem à saúde de Clark e ele decidiu passar o resto de sua vida lutando para protegê-las. E foi da sua luta e das insistentes cartas que enviou ao Congresso americano que em 1864, ainda em plena Guerra Civil, o presidente Lincoln assinou a lei de proteção à área (incluindo o Yosemite Valley), cedendo o espaço ao estado da Califórnia, mas com a premissa de que ele seria mantido para o usufruto das futuras gerações. Essa lei foi o embrião da criação do parque de Yellowstone, seis anos mais tarde, e de todos os parques nacionais que se seguiram. E adivinhem quem foi o primeiro guarda-parque dessa área? Exatamente, Galen Clark! Ali trabalhou pelos próximos 24 anos e, contrariando seus médicos, só foi morrer em 1910. Pelo visto, ar de montanhas misturado com ar de sequoias não faz bem à tuberculose...

Um flerte milenar: o  'Solteiro e as Três Graças', na Mariposa Grove, no Yosemite National Park, na Califórnia, nos Estados Unidos

Um flerte milenar: o "Solteiro e as Três Graças", na Mariposa Grove, no Yosemite National Park, na Califórnia, nos Estados Unidos


Para nós, foi uma emocionante despedida dessa árvores gigantes, tão imponentes como serenas, tão silenciosas como sábias. Por mais de uma hora, embaixo de chuva ou do tímido sol que apareceu, percorremos as trilhas do bosque, prestando nossas homenagens e reverências à algumas das sequoias mais conhecidas da Mariposa Grove. Entre elas, o gigante “Grizzly Bear”, uma das maiores sequoias de que se tem notícia, e o grupo conhecido como “The Barchelor and Three Graces”, árvores tão próximas que, se uma cair, levará todas as outras consigo. Que bonita é a ideia de que elas já vivem assim, tão próximas, há mais de mil anos! Como será que se chama bodas de 1000 anos?

Minúsculo quando comparado à gigantesca sequoia, no Mariposa Grove, no Yosemite National Park, na Califórnia, nos Estados Unidos

Minúsculo quando comparado à gigantesca sequoia, no Mariposa Grove, no Yosemite National Park, na Califórnia, nos Estados Unidos


Outro caso interessante, mas meio triste, é a dos túneis em árvores. Em 1881, um túnel foi escavado em uma das sequoias gigantes, apelidada de Wawona Tunnel Tree (Wawona é o nome nativo das sequoias). O túnel era grande o bastante para que uma carruagem e, mais tarde, um carro passasse por baixo da árvore. Era um grande golpe publicitário para atrair turistas. Fotos e cartões postais dessa árvore se espalharam pelo mundo. Acontece que esse buraco debilitou a árvore profundamente e ela não conseguiu resistir a uma grande tempestade de neve em 1969, sendo derrubada pelo vento. O choque foi geral e mudou a política dos parques nacionais. De agora em diante, essas árvores seriam intocáveis! Quanto à gigante caísa, foi rebatizada de “Fallen Tunnel Tree”.

Túnel sob uma sequoia viva, no Mariposa Grove, no Yosemite National Park, na Califórnia, nos Estados Unidos

Túnel sob uma sequoia viva, no Mariposa Grove, no Yosemite National Park, na Califórnia, nos Estados Unidos


Mas a história não termina aí. Na verdade, em 1895, foi feito um túnel em outra pobre árvore, a California Tunnel Tree. A razão para isso foi que ela estava mais perto da portaria do parque e era de mais fácil acesso aos turistas, principalmente no inverno. Essa árvore ainda está viva e, ao passar pelo seu túnel hoje, pode-se perceber como a árvore luta para curar a enorme ferida que lhe fizeram. O “bark” cresce na sua parte interna, para protege-la de incêndios e insetos. Enfim, é visível o esforço da árvore em se curar. Junto com sua colega milenar que caiu há poucas décadas, as duas árvores, em seu silêncio profundo, parecem exclamar: “Não façam mais isso! Vão fazer um túnel na ponte que partiu!”.

A gigantesca sequoia continua firme e forte, mesmo depois do buraco que fizeram em seu tronco! (na Mariposa Grove, no Yosemite National Park, na Califórnia, nos Estados Unidos)

A gigantesca sequoia continua firme e forte, mesmo depois do buraco que fizeram em seu tronco! (na Mariposa Grove, no Yosemite National Park, na Califórnia, nos Estados Unidos)


Enfim, foi uma emocionante despedida desses magníficos seres-vivos. Andar por entre as sequoias foi uma das maiores experiências desses 1000dias, algo de que jamais nos esqueceremos. Agora, depois desse show da natureza aqui em Yosemite, vamos mudar de ares e rumar para uma cidade que é um show de humanidade. San Franciso, there we go!

Admirada com a gigantesca árvore sobre sua cabeça! (Mariposa Grove, no Yosemite National Park, na Califórnia, nos Estados Unidos)

Admirada com a gigantesca árvore sobre sua cabeça! (Mariposa Grove, no Yosemite National Park, na Califórnia, nos Estados Unidos)

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