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Viña, Santiago, O'Higgins e o Reencontro

Chile, Viña del Mar, Santiago

A praia de Viña del Mar, no Chile

A praia de Viña del Mar, no Chile


Saímos hoje cedo de Valparaiso rumo à vizinha Viña del Mar. Tão próximas estão que é como se fosse uma mesma cidade, ligadas por avenidas e ruas. Juntas, com outras pequenas cidades no entorno, formam a terceira mancha urbana do país, atrás apenas de Santiago e Concepción, com mais de um milhão de habitantes. Mas, apesar de tão próximas, não poderiam ser mais diferentes...

Passeio na praia de Viña del Mar, no Chile

Passeio na praia de Viña del Mar, no Chile


Viña, como o próprio nome indica, nasceu de uma fazenda de vinhedos a beira mar. Hoje é conhecida como a “cidade-jardim”, pela quantidade de canteiros de flores e plantas muito bem cuidados por toda a parte turística da cidade. Ela é o balneário mais famoso do país, atraindo milhares de santiaguinos todos os feriados e durante as férias de verão, afinal apenas 130 km separam os dois centros urbanos.

O sempre tradicional futebol de praia, em Viña del Mar, no Chile

O sempre tradicional futebol de praia, em Viña del Mar, no Chile


A perfeita organização de suas ruas e avenidas, canteiros e orla da praia são um contraste marcante com o caos criativo e inspiracional de Valparaiso. Enquanto a primeira atrai pela beleza de suas praias e flores, a segunda nos hipnotiza por sua cultura e história. Em um dia nublado e frio, não há dúvidas sobre para onde seguir...

A orla muito bem cuidade de Viña del Mar, no Chile

A orla muito bem cuidade de Viña del Mar, no Chile


Bom, hoje estava nublado, mas não muito frio. Pelo menos do lado de fora do mar! Nós caminhamos um pouco na praia, fotografamos as flores e arrumamos um lugar meio sem graça para almoçar, mas que era, ao menos, em frente à praia. Depois, uma última e profunda inspirada do sempre saudável ar marinho e rumamos para o interior, para a capital do país, Santiago.

Viña del Mar, no Chile, a cidade das flores

Viña del Mar, no Chile, a cidade das flores


Eu já havia estado uma vez nessa grande cidade, em Janeiro de 1992. Lembro-me que naquela época já achei Santiago bem cosmopolita e desenvolvida para padrões latino-americanos. Hoje, mais de 20 anos depois, já estava preparado para as mudanças que veria, de tanto que ouvimos falar da cidade por outros viajantes.

Viña del Mar, no Chile

Viña del Mar, no Chile


Chegamos à capital já no final da tarde, enfrentando o trânsito pesado da volta do trabalho. Entramos pela avenida principal, a famosa “Alameda” que com seus 10 km de extensão, corta a cidade quase que de ponta a ponta. Dirigindo um carro com placas estrangeiras, ignoramos solenemente os pedágios eletrônicos, hoje e em todas as outras vezes que circulamos na cidade. Pelo menos essa vantagem temos de estar por aqui com o nosso carro brasileiro, hehehe.

Um pouco de exercício na orla de Viña del Mar, no Chile

Um pouco de exercício na orla de Viña del Mar, no Chile


A Alameda é o apelido da Avenida Libertador General Bernardo O’Higgins. Nomes das principais ruas, praças e avenidas das grandes cidades de qualquer nação latina é sempre uma boa maneira de conhecermos a história desse país. Nomes como Vargas e Duque de Caxias, no Brasil, Belgrano ou San Martin, na Argentina, e O’Higgins e Carreras aqui no Chile.

A orla muito bem cuidade de Viña del Mar, no Chile

A orla muito bem cuidade de Viña del Mar, no Chile


A história da independência do Chile, como acontece com a dos outros países hispânicos aqui da América, é muito mais interessante e conturbada que a nossa, onde D. Pedro deu uma canetada e pronto, com a honrosa exceção da guerra na Bahia. Por aqui, também como nos outros países hispânicos, tudo começou com a ocupação da Espanha, a metrópole, pelas forças napoleônicas. Praticamente todas as nações sul-americanas aproveitaram o momento para declarar sua independência, aproveitando-se da confusão na Europa.. A desculpa era que a “fidelidade” era devida apenas ao rei deposto.



Mas quando o rei deposto voltou e a situação espanhola se normalizou, os sul-americanos já tinham pego gosto pela independência e não quiseram retornar ao antigo status colonial. A Espanha tratou de enviar soldados para reafirmar a antiga autoridade e a guerra pipocou por todo o continente, inspirados pelos ideais libertários das revoluções americana e francesa.

Aqui no Chile, como nos outros países, a elite se dividiu entre os realistas e os nacionalistas. Os primeiros, ajudados por tropas espanholas, trataram de esmagar as pretensões dos segundos. O que ocorreu de diferente aqui no Chile foi que o campo dos nacionalistas também estava profundamente dividido em duas correntes: aqueles que sonhavam no Chile como uma pátria própria, liderados por Carreras e seus dois irmãos, e aqueles que almejavam uma união sul-americana, numa só grande pátria, como havia ocorrido nos Estados Unidos. A esta facção pertencia O’Higgins.

Bernardo O'Higgins, um dos grandes herois da independência do Chile

Bernardo O'Higgins, um dos grandes herois da independência do Chile


Foi o grupo de Carreras que conseguiu, num primeiro momento, expulsar os realistas e declarar a independência. Mas as tensões com o grupo de O’Higgins não demoraram para se exacerbar, seguindo quase para uma guerra civil. Só não chegaram lá porque os realistas aproveitaram essa divisão entre seus inimigos e voltaram com força. Não adiantou que Carreras e O’Higgins juntassem seus exércitos novamente: dessa vez, os realistas foram vitoriosos e os dois grupos nacionalistas foram expulsos para a Argentina, onde amargaram um exílio de três anos.

Fim de tarde na entrada do Cerro Santa Lucia, em Santiago, capital do Chile

Fim de tarde na entrada do Cerro Santa Lucia, em Santiago, capital do Chile


Agora, ajudado pelas tropas do grande libertador argentino San Martin, O’Higgins voltou a cruzar os Andes e, dessa vez, venceu as tropas realistas de uma vez por todas. San Martin também idealizava uma grande pátria sul-americana e seguiu sua campanha para o norte, agora para libertar o Peru, o último reduto espanhol na América do Sul. Aí encontrou-se com Simón Bolívar, outro libertador que lutava pela sonhada pátria sul-americana. Enquanto isso, O’Higgins ficou no Chile para ajudar a organizar e liderar a nação que estava nascendo. Enquanto isso, Carreras se aliou a grupos na Argentina contrários ao pan-americanismo de San Martin, tirando do poder os amigos deste. Preparou-se então para cruzar os Andes e enfrentar O’Higgins, mas acabou traído e sendo capturado perto da fronteira. Num julgamento marcado e expedito, foi condenado e executado em seguida;

Passeio no centro financeiro de Santiago, capital do Chile

Passeio no centro financeiro de Santiago, capital do Chile


No Chile, já livre de seu grande inimigo, O’Higgins (sim, o nome tem origem irlandesa!) ganhou alguns anos de tranquilidade para governar. Mas fez novos inimigos e acabou deposto. Exilou-se no Perú, onde tentou contribuir com a campanha de Bolivar e, mais tarde, para que Peru e Bolivia formassem uma só nação. Por fim, quando teve a chance de retornar ao Chile, depois que seu nome foi reabilitado por lá, acabou falecendo de problemas cardíacos, pouco antes de embarcar. Não voltou em vida, mas em morte sim. Seu corpo, hoje, repousa em um grande panteão na Alameda que leva o seu nome. De qualquer maneira, é irônico que dois dos maiores heróis da independência chilena tenham sido, em vida, inimigos mortais, enquanto o terceiro, San Martin, seja um legítimo argentino. Roteiro perfeito para umvinteressantíssimo dramalhão mexicano!

Movimentação no início da noite na Plaza de Armas, em Santiago, capital do Chile

Movimentação no início da noite na Plaza de Armas, em Santiago, capital do Chile


Bom, sem pagar o tal do pedágio eletrônico e prestando nossas homenagens aos heróis da independência, seguimos para nosso simpático hostel Forestal, muito bem localizado. Aproveitando as últimas luzes do dia, ainda fomos caminhar na Alameda para nos sentir um pouco mais santiaguinos. Mas o grande passeio será mesmo amanhã, acompanhados e guiados por dois queridos amigos chilenos, o Pablo e a Andrea. Para quem não se lembra, nós conhecemos esse simpático casal lá no Ceará, quando eles davam uma volta no continente com sua Hilux chilena. Foi nosso primeiro encontro com viajantes, o que o fez ainda mais especial. Desde então, temos mantido contato por internet e eles, que não moram na cidade, vieram nos recepcionar por aqui. Chegaram de noite no hostel e ficamos conversando e botando as histórias em dia por algumas horas. A Ana ainda saiu com eles para tomar uma sopa. Mais tarde, seguiram para a casa da mãe do Pablo, que mora em Santiago, e voltaremos a nos ver amanhã. Teremos então todo o dia para conversar e ver a cidade. Vai ser ótimo!

Reencontro, depois de quase 3 anos, com o Pablo e a Andrea, em Santiago, capital do Chile

Reencontro, depois de quase 3 anos, com o Pablo e a Andrea, em Santiago, capital do Chile

Chile, Viña del Mar, Santiago, Praia, história

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