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Território do Ouro

Venezuela, Gran Sabana

Passando pelo centro mineiro de El Callao, a caminho da Gran Sabana, na Venezuela

Passando pelo centro mineiro de El Callao, a caminho da Gran Sabana, na Venezuela


Ainda ontem, viemos pela moderna autoestrada de Ciudad Bolívar até Ciudad Guyana, outra metrópole na beira do Orinoco. Ciudad Guyana é uma cidade nova, pouco mais de 50 anos, e a metrópole que mais cresce no país, apesar de mesmo ela ter diminuído seu passo com as dificuldades econômicas da era chavista. Ela se localiza bem na confluência do rio Caroni, que vem lá de Canaima, com o grande Orinoco. Também passamos aqui em 2007 e lembro de ter ficado animado com uma competição de natação que consiste em atravessar o enorme rio. Pena que em nenhuma das duas vezes, estive aqui na época da competição, pois ficaria bem tentado... A cidade é, na verdade, uma junção de duas outras cidades, cada uma delas em um lado do Caroni. A colonial (só na idade!) San Félix e a moderna Puerto Ordaz. Seus respectivos habitantes não se bicam muito e nenhum deles adotou o nome de Ciudad Guyana. Na verdade, mesmo em itinerários de ônibus e avião, são os nomes das antigas cidades que aparecem, e não da nova metrópole.


Ontem, viajamos de Ciudad Bolívar (A) até El Callao (B). Hoje, após passarmos pela vila garimpeira de El Dorado (C), entramos na Gran Sabana e nos desviamos para o Salto Aponwao (D). O Brasil já está no horizonte!

Mas não foi aí que passamos a noite. Seguimos adiante, agora já na direção sul, até a cidade de El Callao, uma hora a mais de estrada. El Callao é o centro da região exploradora de ouro da Venezuela, quase uma cidade garimpeira, embora já tenha mais de 150 anos. No centro, são dezenas de lojas que compram e vendem ouro, atividade que atrai muitos estrangeiros, embora seja proibido pelo regime do país.

Morador do centro garimpeiro de El Dorado, antes de entrar na Gran Sabana, na Venezuela

Morador do centro garimpeiro de El Dorado, antes de entrar na Gran Sabana, na Venezuela


Desde que os espanhóis chegaram à América, eles tinham uma forte intuição que o famoso “El Dorado” estava localizado em terras venezuelanas. Embora não tenham achado nada nos quase 300 anos de período colonial, sua intuição estava, de certa forma, correta. Mas o destino não os ajudou e foi apenas em 1849, quando a Venezuela já era um país livre, que ricos veios de ouro foram encontrados nessa região, ao norte da Gran Sabana. Uma grande corrida do ouro se formou, atraindo gente de todo o país e mesmo dos vizinhos. Em pouco tempo, a Venezuela se tornou o maior produtor mundial do metal, mais de 70% do ouro do mundo vindo daqui. Foi apenas no início do século XX que a África do Sul a desbancou da liderança do ranking, ao mesmo tempo que, internamente, foi o petróleo que passou a ser o principal motor da economia. Mas isso não quer dizer que a produção de ouro tenhas parado e, até hoje, ela ainda movimenta milhões de dólares e milhares de pessoas. Basta dar uma passeada em El Callao para perceber isso.

Passando pelo centro mineiro de El Callao, a caminho da Gran Sabana, na Venezuela

Passando pelo centro mineiro de El Callao, a caminho da Gran Sabana, na Venezuela


Outra consequência da descoberta de ouro em El Callao foi o aumento da tensão fronteiriça entre o país e a Inglaterra, então senhora da Guiana Inglesa. A fronteira entre as colônias nunca foi demarcada entre as antigas metrópoles, Espanha e Holanda, e a tensão fronteiriça foi herdada pela Venezuela e Inglaterra, que havia comprado da Holanda sua antiga colônia, no início do séc. XIX. Agora, com a descoberta do ouro, as rivalidades se acirraram, já que El Callao estava na área reclamada pela Inglaterra. Na verdade, praticamente metade do território da Guiana Inglesa era reclamado pela Venezuela e vários mapas, até hoje, mostram essa área como sendo venezuelana. Quando estivemos aqui em 2007, eu olhava esses mapas e pensava: “Ué... mas não era assim que eu conhecia!”. Foi quando fiquei sabendo dessa questão. Aliás, é por causa disso que, até hoje, não há estradas ligando os dois países. Para quem quer ir da Venezuela à Guiana, ou vice-versa, só dando a volta pelo Brasil.

Atravessando o centro garimpeiro de El Dorado, antes de entrar na Gran Sabana, na Venezuela

Atravessando o centro garimpeiro de El Dorado, antes de entrar na Gran Sabana, na Venezuela


Pois bem, a Inglaterra sequer aceitava discutir a soberania dessas terras com a Venezuela. Foi quando, em 1895, através do eficiente trabalho de um lobista contratado pelo país nos EUA, os venezuelanos conseguiram envolver os americanos na questão. Foi invocada a famosa Doutrina Monroe, “América para americanos”, e as tensões entre as duas maiores potências da época começaram a se escalar. Agora, como a “conversa” era com os Estados Unidos, a Inglaterra acabou aceitando uma discussão internacional. O mundo era bem mais interessante naquela época, quando havia quatro ou cinco potências de mesma grandeza no cenário internacional, e não apenas essa entediante supremacia de uma única superpotência! Enfim, foi estabelecido um tribunal e, aí sim, a Inglaterra fez valer seus séculos a mais de experiência nesse tipo de coisa que os novatos americanos. Deram um banho no Tio Sam no tribunal politico que se instalou e acabaram levando quase todo o território em disputa, para tristeza dos venezuelanos. Mas estes mantiveram a posse sobre El Callao e, mais importante ainda, sobre a foz do Orinoco. De qualquer maneira, apenas o fato da Inglaterra ter sido obrigada a se sentar para negociar foi um marco na consolidação dos EUA como potência mundial e, principalmente, como poder hegemônico nas Américas.

Posto de gasolina absolutamente lotado no centro garimpeiro de El Dorado, antes de entrar na Gran Sabana, na Venezuela

Posto de gasolina absolutamente lotado no centro garimpeiro de El Dorado, antes de entrar na Gran Sabana, na Venezuela


Bem, de volta aos problemas mais mundanos, nós dormimos em El Callao e, na manhã de hoje, abastecemos o carro e seguimos em frente. Algumas horas depois, chegamos à vila garimpeira de El Dorado, uma das últimas chances de se abastecer por muito tempo. Mas aí, postos absolutamente lotados nos impediram de comprar combustível. Nas vilas seguintes, todos os postos fechados. A quantidade que tínhamos era a medida certa para chegarmos à fronteira do Brasil e, quando muito, fazer um passeio ou outro alternativo.

Gran sabana, na Venezuela. O Brasil é logo ali!

Gran sabana, na Venezuela. O Brasil é logo ali!


E foi assim que chegamos à Gran Sabana, um vasto platô coberto de relva e ponteado de tepuis, horizonte quase infinito e paisagens de tirar o fôlego: preocupados com nosso combustível, mas cada vez mais animados por saber que o Brasil era logo ali, país que deixamos há 23 meses!

Entrando nas vastidões da Gran Sabanana, na  Venezuela

Entrando nas vastidões da Gran Sabanana, na Venezuela

Venezuela, Gran Sabana, história, El Callao, El Dorado, Ciudad Guyana

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Aponwao e o Caminhão

Blog da Ana Admirando o Salto Aponwao, na Gran Sabana, na Venezuela

Liworibo e o Salto Aponwao

Comentários (2)

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  • 02/05/2016 | 14:16 por fabio

    ola talvez possam me ajudar, estou com bolivares venezuelanos precisando trocar,pensei em ir na venezuela comprar ouro, vi q vcs foram a cidade de el callao, como faco para chegar la saindo do brasil.>>> qual o modo mais facil para chegar la,,e se seria viável ir comprar ouro la,,,,

  • 10/05/2014 | 06:20 por Delfim

    Boas,
    Em breve vou fazer uma visita de trabalho,á
    Guiana Francesa.
    Precisava de informaçoes sobre empresas que vendam
    ouro. Conhecem alguém que me possa orientar?
    Obrigado

    Resposta:
    Olá Delfim

    Infelizmente, não podemos ajudar. Como viajamos a turismo, esse não foi o nosso foco.

    Um abraço e boa sorte!

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