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Rosário e Um Pouco da História Argentina - 1a Parte

Argentina, Rosario

A cidade de Rosário, na Argentina

A cidade de Rosário, na Argentina


Quem acompanha essa nossa jornada por todos os países das Américas sabe que, quando vamos a um país, gostamos muito de conhecer suas belezas naturais e seus sítios históricos, mas não só isso. Procuramos conhecer também as grandes cidades daquela nação, pois acreditamos que para realmente entender um país e seu povo, é necessário ir aonde vive a maioria da população, e este lugar são as ruas e praças das grandes metrópoles. Além disso, é sempre nessas cidades onde se encontra os melhores restaurantes, os mais importantes museus e monumentos, a vida noturna mais agitada, os mercados mais interessantes.

Mapa mostrando as cinco miores cidades argentinas: Buenos Aires, Córdoba, Rosario, Mendoza e Tucumán. Nós passamos por todas elas!

Mapa mostrando as cinco miores cidades argentinas: Buenos Aires, Córdoba, Rosario, Mendoza e Tucumán. Nós passamos por todas elas!


Assim está sendo na Argentina. Das cinco maiores cidades do país, já havíamos estado na 5ª (Tucumán), na 4ª (Mendoza) e na 2ª (Córdoba), além de outras grandes cidades, como Corrientes, San Juan e Salta. Agora chegamos à 3ª (Rosário) e daqui, claro, seguimos para a maior de todas, Buenos Aires.

Arquitetura clássica em Rosário, na Argentina

Arquitetura clássica em Rosário, na Argentina


A cidade que agora chegamos, Rosário, não é nem a capital de província (que por aqui é Santa Fé, um pouco adiante seguindo rio acima), mas é a segunda cidade mais rica do país, atrás apenas da capital. Toda essa riqueza vem do seu porto fluvial, já que a cidade está às margens do poderoso rio Paraná. Essa excelente localização não só atraiu a industrialização da região (pelas facilidades de transporte pelo rio) como também a exportação da produção agrícola e pecuária de toda a região central da Argentina.

Uma das igrejas em Rosário, na Argentina

Uma das igrejas em Rosário, na Argentina


No sentido inverso da riqueza (exportação!), chegaram por esse mesmo porto dezenas de milhares de imigrantes, principalmente na virada do séc. XIX para o XX, provenientes da Europa, desembarcando diretamente em Rosário. A população da cidade multiplicou por 10 em duas décadas e foi nessa mão-de-obra diversificada e multilíngue que se assentaram as bases da industrialização da cidade. Em compensação, durante as crises econômicas mundiais, era justamente Rosário, por sua economia estar tão ligada ao mercado externo, uma das cidades argentinas mais afetadas. Assim como ocorreu durante o processo de desindustrialização ocorrido durante o governo Menem, mais recentemente.

Igreja e o Palacio de Los Leones (prefeitura), em Rosário, na Argentina

Igreja e o Palacio de Los Leones (prefeitura), em Rosário, na Argentina


Pois é, foi nessa cidade onde nasceram Che Guevara e o jogador de futebol mais premiado dos últimos tempos, Messi, que chegamos no início da tarde, vindos de Villa Nueva. Com o dia a mais que ficamos naquela cidade e na pressa que estamos para chegar a Buenos Aires, não podíamos perder mais tempo. Assim, tratamos de nos instalar rapidamente em um hotel no centro da cidade e sair a pé para começar nossas explorações da paisagem urbana local. Aqui, como em todas as outras metrópoles hermanas que passamos, os nomes de ruas, avenidas e praças mais importantes homenageiam as mesmas pessoas e eventos, quase sempre relacionadas à história do país no séc. XIX. De tanto ver esses nomes, praticamente já os decoramos. Mas, afinal, quem foram eles?

O grandioso Monumento Nacional da Bandeira, em Rosário, na Argentina

O grandioso Monumento Nacional da Bandeira, em Rosário, na Argentina


Monumento Nacional da Bandeira, em Rosário, na Argentina

Monumento Nacional da Bandeira, em Rosário, na Argentina


A Argentina e quase todos os países da América do Sul eram colônias espanholas no início do séc. XIX. Era a época das guerras napoleônicas no velho continente e, após uma tensa aliança que durou alguns anos, a Espanha se rebelou contra a liderança francesa e acabou invadia e conquistada pelas tropas de Napoleão, que instalou no trono ibérico o seu irmão. Foi a gora d’água para que várias nações latino-americanas se rebelassem, dizendo-se aliadas ainda do antigo monarca agora preso, mas livres da dominação dessa nova Espanha. Na Argentina, mais precisamente em Buenos Aires, sede do Vice-reinado do Prata (uma das divisões espanholas aqui na América), a notícia da conquista napoleônica da metrópole e a decisão por seguir um caminho independente se deu em Maio de 1810. Por isso, encontramos tantas alusões e homenagens a este mês, como na famosa Plaza de Mayo, a principal da capital federal.

Visita ao  Monumento Nacional da Bandeira, em Rosário, na Argentina

Visita ao Monumento Nacional da Bandeira, em Rosário, na Argentina


A chama que nunca se apaga no Monumento Nacional da Bandeira, em Rosário, na Argentina

A chama que nunca se apaga no Monumento Nacional da Bandeira, em Rosário, na Argentina


Pois bem, algumas importantes batalhas foram lutadas aqui, entre os que defendiam esse movimento e aqueles que queriam continuar ligados à Espanha, mesmo sob domínio napoleônico, quase sempre com vitória dos primeiros. Acontece que Napoleão perdeu a guerra e o antigo monarca voltou ao trono. Mas agora, as nações sul-americanas já haviam sentido o gosto da liberdade e queriam mesmo a independência total, com ou sem Napoleão. No caso da Argentina, essa declaração foi feita durante um congresso reunido na cidade de Tucumán, no ano de 1816. A data: 9 de Julho! Eis aí a razão desse dia ser tão celebrado entre os hermanos, inclusive com a mais larga avenida do mundo, lá em Buenos Aires.

O grandioso Monumento Nacional da Bandeira, em Rosário, na Argentina

O grandioso Monumento Nacional da Bandeira, em Rosário, na Argentina


Prédio de apartamentos ao lado do  Monumento Nacional da Bandeira, em Rosário, na Argentina

Prédio de apartamentos ao lado do Monumento Nacional da Bandeira, em Rosário, na Argentina


Interessante lembrar que este congresso não representava a Argentina de hoje, mas apenas uma coleção de províncias espalhadas por Argentina e Alto Perú, como era conhecida a Bolívia daquela época. Eram as chamadas “Províncias Unidas da América do Sul”, certamente inspiradas pelos primos ricos da América do Norte. Esse “país” que havia nascido na “Revolução de Maio” advogava uma nação com poder centralizado. A ele se opunha outro grupo de províncias, a “Liga federal”, que incluía até o Uruguay. Estes defendiam um maior poder local. Seus delegados nem participaram do Congresso de Tucumán. Durante a guerra que se seguiu, as províncias do Alto Perú se perderam e acabaram se juntando ao próprio Perú, inicialmente, para depois se transformarem na Bolívia. O Paraguay também acabou “desgarrando” desse grupo. Por fim, vencida a Espanha, foi a vez das “Províncias Unidas que restaram” e a Liga Federal” se enfrentarem, com vitória desses últimos. Por isso, nas suas primeiras décadas de existência, a Argentina era mais uma coleção de províncias “amigas”, mas com forte autonomia local, do que um país fortemente unido, com um poder central dominante.

Monumento à bandeira e o rio Paraná ao fundo, em Rosário, na Argentina

Monumento à bandeira e o rio Paraná ao fundo, em Rosário, na Argentina


Bom, explicado as datas, vamos aos nomes! A própria luta pela independência gerou dois dos mais populares nomes de ruas e praças país afora: Belgrano e San Martín. O General Belgrano foi o primeiro grande líder militar das guerras de independência, com vitórias muito importantes no norte do país. Mas também teve suas derrotas, principalmente no Alto Perú e no Paraguay. Por isso, os líderes políticos do país que nascia passaram o controle das ações de guerra a outro militar, o General San Martín. Como Belgrano, ele também havia se educado na Europa e estava familiarizado com os novos ideais políticos que varriam aquele continente. Mas ao contrário de seu compatriota, vislumbrou outro caminho para se chegar até o poder central dos espanhóis na América do Sul, que ficava no Perú. Belgrano tentou chegar até lá através da atual Bolívia. San Martín resolveu seguir pelo Chile! Lá, junto com O’Higgins, libertou aquele país e seguiu para o norte onde, junto com Bolívar, venceu o último bastião das forças realistas espanholas. O interessante é que ambos, San Martín e Belgrano, defendiam o sistema da monarquia, o que não foi implantado na Argentina. Belgrano, inclusive, chegou a propor que o novo monarca fosse um descendente dos antigos Incas, e que a capital da nova nação fosse Cuzco, no Perú. Ou seja, assim como San Martín e o próprio Bolívar, sonhava com uma única grande nação hispano-americana.

A sempre presente declaração de soberania das Ilhas Malvinas, em Rosário, na Argentina

A sempre presente declaração de soberania das Ilhas Malvinas, em Rosário, na Argentina


Pois é, mas nem a história nem seus compatriotas quiseram assim. A Argentina se tornou uma república cheia de divisões internas. Federalistas contra Unitaristas. O poder central de Buenos Aires contra o poder local das províncias. Cada província com seu próprio líder, os chamados “caudillos”, uma prática (e uma praga!) que se perpetuaria pela eternidade por toda a América Latina. Líderes carismáticos e populistas, salvadores da pátria muitas vezes se tornando ditadores sanguinários. E assim foi com o primeiro deles, Juan Manuel Rosas.
(continua...)

Cerveja muito popular na Argentina (em Rosário)

Cerveja muito popular na Argentina (em Rosário)

Argentina, Rosario, Arquitetura, história

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