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Perdidos na Imensidão Ártica - Blog do Rodrigo - 1000 dias

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Perdidos na Imensidão Ártica

Groelândia, Ilulissat

Maravilhada com a vastidão branca ao redor de Ilulissat, na Groelândia

Maravilhada com a vastidão branca ao redor de Ilulissat, na Groelândia


Enquanto o Polo Sul fica bem encima de um continente, a Antártida, o Polo Norte fica sobre o mar. Não existe um “continente ártico”, mas a Groelândia não fica muito longe disso não. Nem geograficamente e nem na aparência. Está a apenas 4 graus do polo norte e as geleiras ocupam mais de 80% de seu território, o equivalente a 1,7 milhões de quilômetros quadrados, uma verdadeira “calota polar ártica”.

Um verdadeiro rio de gelo na costa de Ilulissat, na Groelândia

Um verdadeiro rio de gelo na costa de Ilulissat, na Groelândia


Absolutamente todo o interior do país é coberto por um lençol de gelo que chega a atingir mais de 3 quilômetros de espessura. É MUITA água congelada! A gente só consegue ter uma noção dessa vastidão branca quando olhamos lá de cima, de um avião. Ou, quem sabe, de um helicóptero.

O infinito mundo gelado ao redor de Ilulissat, na Groelândia

O infinito mundo gelado ao redor de Ilulissat, na Groelândia


Pois é, falando em helicóptero, o nosso passeio de hoje melou. Não foi por culpa de São Pedro não, mas da falta de turistas que se habilitassem. E como nós não temos bala para fretar um helicóptero sozinho, ficamos só na vontade. O passeio seria até o alto da geleira Jacobshavn, a maior do hemisfério norte, a quase 80 km daqui. Além de ser a maior, é também a mais rápida geleira do país, despejando milhões de toneladas diárias de icebergs no fiorde de Ilulissat, deixando a Disco Bay sempre repleta de montanhas flutuantes de gelo.

Caminhando nos arredores gelados de Ilulissat, na Groelândia

Caminhando nos arredores gelados de Ilulissat, na Groelândia


A Jacobshavn é uma das geleiras mais estudadas do mundo, sendo continuamente monitorada há mais de um século. Foi até nomeada Patrimônio natural pela Unesco. Aqui está a linha de frente dos estudos sobre as mudanças climáticas, ou o que se costumava chamar de “aquecimento global” até poucos anos.

Vista de longe, Ilulissat, na Groelândia

Vista de longe, Ilulissat, na Groelândia


Os dados sobre um aquecimento da temperatura média mundial nas últimas décadas são inegáveis. Mas ninguém sabe dizer com certeza se isso é apenas parte de um ciclo natural ou se é mesmo uma tendência duradoura. Na verdade, os últimos anos foram até mais frios que a média da última década mas, de novo, a amostra é muito pequena e não se pode tirar conclusões definitivas. Mas, o que se sabe é que esse possível aquecimento tem sido muito mais forte e rápido aqui na Groelândia e os efeitos são visíveis em suas geleiras, que estão retrocedendo dezenas de metros a cada ano. A gigantesca Jacobshavn é o melhor exemplo disso.

Caminhada gelada nos arredores de Ilulissat, na Groelândia

Caminhada gelada nos arredores de Ilulissat, na Groelândia


Infelizmente, não pudemos ver com os próprios olhos, hoje. O programa alternativo foi fazer uma caminhada pela periferia da cidade, seguir uma trilha que nos leva até o fiorde onde a geleira despeja seu gelo. Tantos icebergs há lá nessa época que nem um barco se atreve a entrar no canal. Apenas de longe.

Conversando com o simpático motorista do hotel de Ilulissat, na Groelândia

Conversando com o simpático motorista do hotel de Ilulissat, na Groelândia


E nós também, de longe, conseguimos ver o canal. Um carro do hotel nos levou até o início da trilha e de lá caminhamos mais uns vinte minutos. Caminhamos sobre gelo e neve e a tal trilha existia só na teoria, escondida sob o manto branco. O que a gente pôde fazer foi mirar uma pequena colina e rumar para lá, para ter uma vista da região. Bastou andar um pouco naquela imensidão gelada, longe de tudo e de todos, que percebemos claramente a nossa insignificância naquela vastidão. Se já nos sentimos assim aqui, tão perto do litoral, imagina no meio dessa ilha continente, a milhares de quilômetros de qualquer sinal da civilização. Realmente, aqui na Groelândia, nos confins do Círculo Polar Ártico, a natureza é mais selvagem, virgem e indomada que em todos os outros lugares que visitamos nesse continente. Essa caminhada de hoje nos mostrou isso claramente.

Um cemitério perdido no silêncio do gelo na periferia de Ilulissat, na Groelândia

Um cemitério perdido no silêncio do gelo na periferia de Ilulissat, na Groelândia


Voltamos caminhando para a cidade, passando ao lado de um sereno cemitério no gelo, perdido no silêncio da paisagem. Foi num cemitério como esse que os cientistas conseguiram extrair de uma pessoa morta há quase um século o temido vírus da Gripe Espanhola, que chegou até aqui no fim da 1ª Guerra Mundial. O responsável pela mais mortífera pandemia da história da humanidade ficou bem conservado na verdadeira geladeira que é o solo do país e, graças a isso, podemos nos preparar melhor para uma possível volta do microscópico assassino.

Zion Church, verdadeiro cartão postal de Ilulissat, na Groelândia. Ao fundo, icebergs passam pela costa.

Zion Church, verdadeiro cartão postal de Ilulissat, na Groelândia. Ao fundo, icebergs passam pela costa.


De volta à cidade, fomos logo nos esquentar em um de seus acolhedores cafés. O vento frio de hoje estava de lascar! Nossas três camadas de casacos, duas de calças, luvas e gorro não estavam dando conta! O ar aquecido e o chá quentinho do café foram muito mais eficientes!

Um dos bares-cafés de Ilulissat, na Groelândia

Um dos bares-cafés de Ilulissat, na Groelândia


No início da noite, com sol ainda à pino, fomos conhecer a vida noturna de Ilulissat. Dois bares disputam a freguesia, e as bandas de música são surpreendentemente boas para uma cidade de 5 mil habitantes perdida no mundo e no gelo.. Ficamos aí nos divertido até as duas da manhã. Depois, na luz do lusco-fusco, caminhamos o quilômetro e meio até nosso hotel. Paisagem assombrada e gelada, o silêncio quebrado pelo barulho do porto movimentado. Um grande navio cargueiro tinha chegado pela tarde e estava descarregando.

Bar movimentado em Ilulissat, na Groelândia

Bar movimentado em Ilulissat, na Groelândia


Pelo seu porte, conseguiu romper o gelo que tinha tomado conta do porto. Mas do outro lado o gelo ainda dominava. Sobre ele, diversos barcos descansavam, aguardando o final da primavera, quando poderão navegar novamente. Uma visão sui generis! Estamos realmente num mundo diferente...

Barcos repousam sobre o gelo que tomou conta do porto de Ilulissat, na Groelândia

Barcos repousam sobre o gelo que tomou conta do porto de Ilulissat, na Groelândia

Groelândia, Ilulissat, trilha

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