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El Mistí, o Cume - Blog do Rodrigo - 1000 dias

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El Mistí, o Cume

Peru, Arequipa

Dia raiando, enfrentando o frio rumo ao topo do El Mistí, em Arequipa - Peru

Dia raiando, enfrentando o frio rumo ao topo do El Mistí, em Arequipa - Peru


Conforme esperado, a noite foi gelada. As minhas três camadas de roupa dentro do sleeping fininho deram conta no limite, frio suportável. Era pouco antes da 01:30 da madrugada e estávamos todos lá, ao redor da barraca do José, tomando nosso revigorante chá de coca quentinho, tremendo de frio e loucos para começar a caminhar. Na verdade, todos não. As garotas peruanas realmente desistiram e ficariam ali no acampamento.

Aproximando-se do cume do El Mistí, em Arequipa - Peru

Aproximando-se do cume do El Mistí, em Arequipa - Peru


Saímos em fila indiana, todos com lanterna na cabeça, o José na frente e o Júlio por último. A trilha vai ziguezagueando por entre rochedos e pedras, cinco metros para lá, cinco metros para cá. Aos poucos, vamos ganhando altitude, tudo devidamente marcado pelo GPS que levei, uma constante fonte de diversão para mim. Assim, bem devagarzinho, no ritmo do José, ultrapassamos os 4.700, os 4.800, os 4.900. Às vezes, ficamos protegidos do vento, às vezes expostos a ele. É aí que o frio mais incomoda. O ritmo lento também incomoda, mas no escuro o José não permite que os apressados e cheios de energia estudantes de Quebec avancem à frente. Seria muito fácil perder a trilha.

Atravessando trecho de gelo na subida do El Mistí, em Arequipa - Peru

Atravessando trecho de gelo na subida do El Mistí, em Arequipa - Peru


Os outros dois canadenses de Quebec acabam ficando para trás e desistem. Voltam para o acampamento e para suas namoradas. Agora, o grupo pode caminhar um pouco mais rápido. Mas não o bastante para evitar que um outro grupo nos alcance e ultrapasse. Dois dos estudantes de Quebec seguem com eles. O dia começa a clarear e o José, preocupado com os que ficaram para trás, envia o Julio para ajudá-los. Agora, no nosso grupo, restam eu, a Ana, um estudante de Quebec e o José.

Grupo se aproxima da gigantesca boca do El Mistí, em Arequipa - Peru

Grupo se aproxima da gigantesca boca do El Mistí, em Arequipa - Peru


Justo nesse momento, quando o Julio se foi, agora é o estudante de Quebec que começa a sentir a altitude e ficar para trás. O José tenta estimulá-lo, não quer deixá-lo muito para baixo, sem o Julio por ali. Ao mesmo tempo, sabe que um ritmo mais lento vai fazer com que o frio incomode ainda mais.

Com o José, nosso guia, a 5.830 metros de altitude, no topo do vulcão El Mistí, em Arequipa - Peru

Com o José, nosso guia, a 5.830 metros de altitude, no topo do vulcão El Mistí, em Arequipa - Peru


Com o sol prestes a nascer e o caminho já devidamente iluminado, incomodado com o frio, resolvo acelerar o passo e deixar o José com a Ana. Os dedos das mão já estavam sem sensibilidade, expostos ao ar gelado todas as vezes que fotografava e filmava. Mirei o grupo que nos passou lá encima, respirei fundo e parti em seu encalço. Quase os alcancei até a primeira e larga língua de gelo que deveríamos atravessar. Calçando apenas botas normais e sem grampões, titubeei um pouco para iniciar a travessia. Como bom brasileiro, gelo não é a minha praia. Mas o sol que batia um pouco mais acima serviu de estímulo e, com todo o cuidado, atravessei os pouco mais de 100 metrs de gelo em terreno inclinado.

No topo do vulcão El Mistí, em Arequipa - Peru

No topo do vulcão El Mistí, em Arequipa - Peru


À esta altura, já estávamos a 5.600 metros de altura. Os primeiros raios de sol a esquentar nossos corpos eram um prêmio. A vista era absolutamente magnífica. Finalmente eu tinha alcançado esse grupo da frente. Mas aí resolvi parar para novas fotos e filmagens enquanto eles atravessavam novos e amedrontadores trechos de gelo, já na crista da montanha. Depois, foi a minha vez. Vencido a última parte branca, 100 metros antes do cume, resolvi esperar a Ana e o José, enquanto via o grupo se aproximar lentamente da cruz que marca o ponto mais alto do El Mistí.

Vista do alto do vulcão El Mistí, em Arequipa - Peru

Vista do alto do vulcão El Mistí, em Arequipa - Peru


Pouco menos de uma hora mais tarde, lá embaixo, na primeira língua de gelo, apareceram duas figuras, uma delas inconfundível para mim. Era minha valente esposa, guiada pelo José, atravessando bravamente aquele trecho mais perigoso. O grupo que chegou ao cume já descia de lá e não demorou muito para que cruzassem comigo e depois com a Ana e José. Outros minutos mais e já estávamos todos juntos, rumo aos metros finais que nos separavam dos 5.830 metros de altitude do El Mistí.

A cidade de Arequipa, quase 3 km abaixo do cume do El Mistí, no Peru

A cidade de Arequipa, quase 3 km abaixo do cume do El Mistí, no Peru


Chegamos lá bastante emocionados, recorde absoluto de altitude da Ana, primeira ascensão de verdade de uma grande montanha. Afinal, foram quase 2.500 metros de ascensão em dois dias, o que não é para qualquer um. Aliás, o estudante de Quebec também desistiu e, do grupo original de 9 pessoas, fomos apenas quatro a chegar lá.

Descendo cuidadosamente por terreno solto em direção à boca do vulcão El Mistí, em Arequipa - Peru

Descendo cuidadosamente por terreno solto em direção à boca do vulcão El Mistí, em Arequipa - Peru


As fotos tentam e não conseguem mostrar a incrível beleza do lugar. Lá do alto vemos centenas de quilômetros à frente. Lagos, cidades, montanhas e outros vulcões, todos se compôem com o céu azul para formar um cenário inesquecível!

Na boca do vulcão El Mistí, em Arequipa - Peru

Na boca do vulcão El Mistí, em Arequipa - Peru


Depois do cume, rumo à gigantesca boca do vulcão, de onde ainda saem gases continuamente. A prova de que o El Mistí ainda vive, está apenas repousando. A última erupção ainda foi em tempos incas, no início do séc XV. Crianças e mulheres foram sacrificados para apaziguá-lo. Aparentemente, deu certo...

Gases saem do vulcão El Mistí, em Arequipa - Peru

Gases saem do vulcão El Mistí, em Arequipa - Peru


Cenário de outro planeta. Nenhuma vegetação, apenas pedras, areia e cinzas. E aquela boca enorme, coisa de filme ou desenho animado. De lá iniciamos a nossa descida, muito mais rápida que a subida, por supuesto. Não só por causa da ajuda da gravidade, mas principalmente porque voltamos por outro caminho. Ao invés do infinito ziguezague, seguimos pelas gigantescas ladeiras de pedra e areia solta do vulcão. Descemos correndo, dando grandes passos. O solo mole serve de freio e amortecedor. Conforme nos acostumamos, vamos desenvolvendo técnicas e ficando craques. Parece até que estamos esquiando. Uma delícia!

Atravessando trecho de gelo na descida do vulcão El Mistí, em Arequipa - Peru

Atravessando trecho de gelo na descida do vulcão El Mistí, em Arequipa - Peru


Passamos pelo acampamento e nos reunimos com os estudantes de Quebec. Os outros, os dois casais, já tinham descido com o Julio. Daí para baixo, nova corrida em encostas de cinza fofa. Não demorou muito e já estávamos lá embaixo, esperando o carro que viria nos buscar.

Uma das enormes rampas de descida do vulcão El Mistí, em Arequipa - Peru

Uma das enormes rampas de descida do vulcão El Mistí, em Arequipa - Peru


foto do grupo na base do vulcão El Mistí, em Arequipa - Peru

foto do grupo na base do vulcão El Mistí, em Arequipa - Peru


Chegamos de volta à Arequipa no meio da tarde, cansados e felizes. Tínhamos chegado ao cume do majestoso vulcão que é a marca registrada de Arequipa. Para a Ana, um recorde e uma conquista. Para mim, o cumprimento de uma promessa feita há 21 anos, quando por aqui passei. A celebração dessa dupla vitória foi feita em grande estilo no restaurante El Paladar, com direito a vinho chileno e à deliciosa carne de Alpaca. A gente merecia!

Celebrando no restaurante El Paladar, em Arequipa, com vinho chileno e carne de alpaca, a conquista do cume do El Mistí, no sul do Peru

Celebrando no restaurante El Paladar, em Arequipa, com vinho chileno e carne de alpaca, a conquista do cume do El Mistí, no sul do Peru

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A la cima de El Místi!

Comentários (5)

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  • 09/09/2011 | 21:31 por Thelma e Emerson

    Estamos aqui, sem fôlego e sem palavras!! Uauuuu!

    Resposta:
    Oi Thelma!
    Espere para ver o vídeo jóia que a Ana acabou de postar mostrando nossa subida do El Mistí. Tenho certeza que vão gostar!
    Ela vai colocar o link no twitter e facebook, mas já está na nossa página do YouTube
    Abs

  • 07/09/2011 | 21:16 por antonio

    parabens por conseguir sobir o cume de el miste mas deu para perceber que a anna aguentou muito mais do que vc hehe... entao imagine eu sobindo deixaria vc para tras e depoi vc iria ficar decepcionado por perder mais uma vez de seu sobrinho!!!!

    Resposta:
    Hehehe
    O seu cara de pau, ficar falando aí de longe é fácil, né?
    Estamos esperando vc aparecer aqui para nos visitar e viajar um pouco com a gente. Aí, vamos achar algum vulcão para subir e aí eu quero ver... Vou ter de carregar a mochila e vc nas costas!
    Um abraço e um "vap na oreia"!

  • 07/09/2011 | 19:55 por Luis

    O que seria de nós sem nossas mulheres destemidas!!!

    Resposta:
    Viva as mulheres destemidas!!!

  • 07/09/2011 | 19:03 por Guto Junqueira

    Valeu, Rodrigo e Ana! Bela ascensão, também fiquei com muita vontade de subir o El Misti! E também de continuar a organizar nossa viajem para o Ojos, no Chile, em janeiro. Grande abraço, Guto

    Resposta:
    Oi Guto!
    Uma viagem ao Perú deveria ser programada por vc e pela Sossa!
    Pensei muito em vc no Mistí. E na Sossa, na caminhada em Huaraz. Ela iria ADORAR!
    Tb queremos muito ir no Ojos! Acho que vamos colocar ele na nossa programação, no lugar do Aconcágua. Vai depender dos relatos seus e do Haroldo, que aguardamos ansiosamente. Nossa idéia é chegar lá um ano depois de vcs;;;

    Abs

  • 07/09/2011 | 17:07 por Haroldo Junqueira

    Ana e Rodrigo,

    Parabéns pelo cume do El Mistí! Me senti subindo o vulcão com vocês à medida que lia a descrição do feito! Eu continuo com a pendência de 21 anos atrás, mas agora mais motivado do que nunca com o exemplo de vocês! E Ana, bem-vinda ao mundo dos montanhistas!

    Abraços do primo,

    Haroldo

    Resposta:
    Valeu, Haroldo
    O Mistí estará sempre lá, esperando para ser visitado
    O esforço é recompensado com uma vista maravilhosa, sensação de liberdade e contato com a natureza no seu estado mais bruto. Simplesmente, MAGNÍFICO!
    Agora, nosso próximo objetivo montanhístico é o clube dos 6 mil. Quem sabe no Ecuador?
    Um grande abraço

    P.S Esperamos, ansiosos, pelo relato da própria Ana sobre a escalada!

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