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Karina (27/09)
Olá, também estou buscando o contato do barqueiro Tatu para uma viagem ...
ozcarfranco (30/08)
hola estimado, muy lindas fotos de sus recuerdos de viaje. yo como muchos...
Flávia (14/07)
Você conseguiu entrar na Guiana? Onde continua essa história?...
Martha Aulete (27/06)
Precisamos disso: belezas! Cultura genuína é de que se precisa. Não d...
Caio Monticelli (11/06)
Ótimo texto! Nos permite uma visão um pouco mais panorâmica a respeito...
Praia tranquila no início da manhã em Pichilemu, no litoral central do Chile
No dia 28 de Novembro de 1520, os três navios restantes sob as ordens de Fernão de Magalhães terminaram a travessia do Canal de Magalhães e adentraram um novo oceano. A expedição espanhola sob as ordens de um navegante português foi a primeira a navegar no lado leste deste oceano que os europeus estavam apenas começando a conhecer na última década. Tendo navegado sob duras condições meteorológicas no extremo sul do continente, os europeus se animaram com as águas calmas e pacíficas daquele novo mar. Por isso, Magalhães logo o batizou de Oceano Pacífico.
Oceano Pacífico, circundado pela América a leste, Ásia e Oceania a oeste e Antártida, ao sul, é o maior dos oceanos da Terra
O maior oceano da Terra, com cerca de 165 milhões de km2, tinha passado despercebido pelos povos europeus nos últimos milhares de anos. Mesmo sendo maior do que todos os continentes somados e representando um terço de toda a superfície do planeta, foi apenas em 1512 que duas expedições portuguesas chegaram ao Oceano Pacífico, vindos do sul da Índia e navegando até as ilhas Maluku. Em maio do ano seguinte, saindo da atual Malásia, os portugueses chegaram ao sul da China. Nesse mesmo ano, mas em setembro, foi a vez do espanhol Vasco Nuñez de Balboa cruzar a pé o Istmo do Panamá e atingir o Oceano Pacífico, a primeira vez que um europeu chegava ao lado leste desse mar. Foi ele que batizou o novo oceano de “Mar do Sul”, mas o nome não pegou.
Nosso "escritório" em Mancora, no litoral norte do Peru
Correndo na praia em Montañita, no Equador
O nome que realmente pegou foi mesmo “Oceano Pacífico”, dado pela expedição de Magalhães, a primeira a cruzar esse novo oceano de leste a oeste. Depois disso e pelos próximos 50 anos, o Pacífico também era chamado de “Mare Clausum” (ou “mar fechado”) pelos espanhóis, que o consideravam como propriedade sua. Seus galeões navegavam das Filipinas ao México intocados e soberanos, enquanto o Canal de Magalhães era vigiado para que nenhum barco de outra potência marítima entrasse em “águas espanholas”. Mas isso não iria durar para sempre. Um dos maiores navegantes de todos os tempos, odiado por espanhóis e idolatrado na Inglaterra, Sir Francis Drake, sob as ordens da rainha, navegou pelo Estreito de Magalhães em 1578, abrindo o novo oceano também para as outras nações europeias. Em breve, holandeses os seguiriam. A trilha de pilhagem e destruição deixada pelo famoso pirata nas bases espanholas na costa do Pacífico deixaram claro para eles que o Pacífico jamais seria assim, tão “pacífico”.
El Tunco, litoral de El Salvador
Pura saúde no café da manhã na praia em Zipolite, no litoral Pacífico do México
Mas a história do maior oceano da Terra começa muito antes que europeus começassem a brigar pela sua posse. Antes deles, navegantes chineses e mulçumanos já faziam bom uso de suas águas. E muito antes disso, hábeis navegantes polinésios, num raro caso de migração transoceânica, partindo de ilhas na costa da Ásia, haviam atingido o Havaí, a Ilha de Páscoa e, possivelmente, a costa da América do Sul. Na verdade, mesmo antiga, a história da ocupação humana do Pacífico não passa de um mero piscar de olhos na muito mais longa história do próprio oceano. Assim como montanhas, continentes, rios e lagos, oceanos nascem, crescem e morrem. Mas o tempo aí não se conta em centenas ou milhares, mas em milhões de anos.
O Oceano Pacífico originou-se do Oceano Pantalássico, que circundava o super-continente de Pangea.
É de conhecimento de quase todos, exceto entre os religiosos muito fervorosos que acham que o planeta tem pouco mais de 5 mil anos de idade, que todos os continentes que hoje conhecemos já estiveram unidos em um super-continente chamado Pangeia. Já expliquei em outro post que desde que a Terra é Terra, continentes se juntam e se separam, com configurações distintas e diferentes oceanos entre eles. Pangeia é apenas a última vez em que eles se reuniram, entre 300 e 200 milhões de anos atrás. Nessa época, havia apenas um oceano no planeta, a enorme massa d’água que cercava por todos os lados o super-continente de Pangeia. Chamava-se Oceano Pantalássico ou Paleo-Pacífico, pois dele nasceria o Oceano que hoje conhecemos.
Em Bahía Drake, embarcando para o Parque Nacional Corcovado, na Península de Osa, no sul da Costa Rica
Magnífico pôr-do-sol na Playa Hermosa, em San Juan del Sur, na Nicarágua
Esse mundo de geografia simples (apenas um continente e um oceano!) começou a mudar quando Pangeia se quebrou em Laurásia, ao norte, e Gondwana, ao sul. Entre os dois novos super-continentes, um novo oceano, chamado de Tétis, surgiu. Mas ele não teria vida longa. Gondwana se partiu em pedaços menores e a divisão entre África e América do Sul daria origem ao Oceano Atlântico, enquanto que a divisão entre África de um lado e Austrália, Índia e Antártida do outro, daria origem ao Oceano Índico. Migrando para o norte, em direção à Europa, a África reduziria o outrora grandioso Oceano de Tétis no mísero Mar Mediterrâneo. E enquanto tudo isso ocorria, o Oceano Pantalássico se transformava no Oceano Pacífico que tem, segundo os estudiosos, cerca de 150 milhões de anos de idade.
De ré, embarcando em balsa para cruzar a Caleta Gonzalo, no parque Pumalín, trecho da Carretera Austral no sul do Chile
Passeio de caiaque em Tofino, na costa oeste da Vancouver Island, na Columbia Britânica.no Canadá
E aí, podemos perguntar: “Ué... e por que já não era o Oceano Pacífico antes, na época de Pangeia?”. Porque os solos dos oceanos estão em constante renovação. Hoje, por exemplo, a placa tectônica do Pacífico afunda sobre a placa onde está o Japão (lembram-se do terremoto e maremoto de 2011?) e também sobre a placa das Américas. O Pacífico está diminuindo por quase todos os lados, alguns centímetros por ano. O solo entra nas entranhas da Terra e sai de volta, na forma de lava vulcânica, pelas dezenas de vulcões do chamado ‘Cinturão de Fogo do Pacífico” e centenas de vulcões conhecidos e desconhecidos no leito do mar. Enfim, os cientistas dizem que, devido a essa renovação constante, não há nada no fundo do Pacífico que tenha mais de 150 milhões de anos.
Pontos ao longo da costa americana onde chegamos ao Oceano Pacífico durante os 1000dias. Devido ao frio, foi apenas nas costas do México, América Central, Peru, Equador e Chile, além das ilhas oceânicas, que conseguimos dar um mergulho
Enfim, foi ao longo desse “senhor” de 150 milhões de anos que nós viajamos centenas e centenas de quilômetros ao longo desses 1000dias. Desde as águas geladas do Alaska, passando pelo o litoral quase tropical do oeste da América Central e chegando novamente às aguas geladas, agora na patagônia chilena. Isso sem esquecer das temporadas nas ilhas paradisíacas do Havaí, Galápagos e Páscoa, todas no coração do Oceano Pacífico. Esse mar foi personagem principal e atuante na nossa jornada, seja com a Fiona, seja de barco ou de avião. Nele nadamos, nele mergulhamos, ou simplesmente admiramos sua beleza vasta, quase infinita para os olhos, do alto de algum penhasco, montanha ou da praia mesmo. Foi atrás dele que o sol muitas vezes se escondeu, proporcionando pores-do-sol espetaculares e inesquecíveis. Foi aí que vimos tubarões e pinguins em Galápagos, baleias no México e no Canadá, ou leões-marinhos nos Estados Unidos. Foram em suas praias que nos esquentamos no Equador e Peru ou na Costa Rica e Nicarágua e nos esfriamos no Canadá e Estados Unidos. Foram em suas águas que navegamos no Alaska e no sul do Chile. Ou seja, personagem principal mesmo!
Admirando as pasisagens da Inside Passage, trecho entre Sitka e Ketchikan, no sudeste do Alaska
Chegando à selvagem Ruby Beach, no Olympic National Park, no estado de Washington, oeste dos Estados Unidos
Para nós, brasileiros, mar é o Oceano Atlântico. É ele que banha nossas costas, do Oiapoque ao Chuí. Como bom mineiro, passei incontáveis férias em suas praias, primeiro naquelas entre São Paulo e Espírito Santo e, mais tarde, esticando até os estados do Nordeste e Sul do Brasil. Com tanto tempo de praia, uma relação se formou. Pode parecer petulante, mas o Atlântico é quase como um “brother” para mim e gosto de pensar que, a cada vez que ponho os pés nele, onde quer que seja, ele também me reconheça; “Lá vem o Rodrigo!” – ele diz. Relação de respeito e amizade, agora não mais apenas do Chuí ao Oiapoque, mas da Terra do Fogo a Massachusetts. É sempre o mesmo Oceano Atlântico, aquele que conheço desde criança.
Fotografando uma iguana na praia em Tortuga Bay, na Ilha de Santa Cruz, em Galápagos
A Ana nada na praia de Anakena, em Rapa Nui (ou Ilha de Páscoa), ilha chilena no meio do Oceano Pacífico
Com o Pacífico é diferente. É outro mar. Não nos conhecemos desde criança. Quando chego perto, sei que é “outro bicho”. Mais velho e maior que o Atlântico, há algo de diferente ali, no ar, na água, abaixo dela, no horizonte. Não sei definir exatamente o que é, mas é diferente. Isso não quer dizer que seja pior ou melhor. É simplesmente diferente. Com um, a intimidade foi construída desde a infância, com o outro, é uma relação de respeito, de estudo. Um amigo da fase adulta nunca será igual a um amigo que vem desde os tenros anos.
Um banho de luz no fim de tarde na Pescadero Beach, na rodovia One, entre San Francisco e Santa Cruz, no litoral da Califórnia, nos Estados Unidos
Pois bem, esses 1000dias serviram, entre tantas outras coisas, para que nós conhecêssemos muito melhor esse vasto oceano. Desde a primeira vez que o vimos, aqui mesmo no Chile, em 20 de Agosto de 2011, em Iquique (post aqui), até a manhã de hoje, foram 30 meses de convivência, de idas e vindas, de águas quentes e frias, de mergulhos e caminhadas, de trechos de carro e de barco. De maneira geral, foi ao seu lado que seguimos para o norte e nos refestelamos em suas praias no Peru e no Equador. Depois, já na América Central, foi a vez de aproveitarmos suas praias na Costa Rica, Nicarágua e El Salvador e, finalmente, México. Nos Estados Unidos, nos afastamos para voltar ao leste e o reencontro só se deu no Alaska. É claro que já não dava para tomar banho de mar por lá, mas foi onde fizemos um dos mais belos trechos desses 1000dias, navegando pela costa do estado até o Canadá. Foi lindo!
Um mirante avançado para melhor admirar as grandes ondas de Kalalau, na Na'Pali Coast, costa norte de Kauai, no Havaí
Reencontro com o Oceano Pacífico na cidade de La Serena, no Chile
Aí sim, fomos conhecer a costa americana do Oceano Pacífico. O ponto alto foi a rodovia One, de San Francisco a Los Angeles, sempre com o mar ao lado. Daí voamos para o Havaí, cercado de Oceano Pacífico por todos os lados. Uma overdose, no bom sentido, das mais belas paisagens desse mar. Tão belo como havia sido nossa temporada em Galápagos e como seria também na Ilha de Páscoa, locais onde a temperatura desse mar é muito mais agradável do que costuma ser aqui na costa do continente.
Movimento da manhã em praia de Pichilemu, no litoral central do Chile
De volta à América do Sul, fomos até a Terra do Fogo pelo meio do continente, mas a volta para o norte, em terras chilenas, foi sempre ao lado do mar. Outras vez, juntos com a Fiona, cruzamos de ferry trechos lindos desse mar. Mas a água estava fria demais para um mergulho, mesmo nas praias da Ilha de Chiloé. E aqui chegamos na pequena Pichilemu, capital do surf chileno, local da nossa despedida do Oceano Pacífico, escolhida a dedo porque nos dá a chance de um bom mergulho.
O majestoso Oceano Pacífico em Pichilemu, no litoral central do Chile
Pois é, a água é fria por aqui também. Mas nada que impeça alguns minutos dentro d’água. Foi o que fiz hoje pela manhã, bem longe da Playa Principal e de suas multidões e salva-vidas. A praia de Infiernillo, onde está nossa pousada, é muito mais tranquila. Quer dizer, suas areias são, enquanto a água é um pouco mais agitada. Bem do jeito que eu gosto. Bem com a cara do Pacífico. Respirei fundo e para a água eu fui. Nada de pensar muito, pelo menos até me acostumar com a temperatura. Água bem limpa, dessas que se vê o pé, mesmo na parte mais funda. Depois, dois ou três jacarés para aproveitar as ondas. Sentimento total de despedida, nó na garganta e tudo. Mas o dia de sol e a beleza que me circundava não me deixava ficar triste. De volta às areias para me esquentar um pouco e ver o mar de outro ângulo.
Nossa despedida do Oceano Pacífico nesses 1000dias, em Pichilemu, no litoral central do Chile
A Ana faz festa. Dois rapazes vestidos de marinheiro se aproximam. Os salva-vidas aqui do Chile são da marinha e se vestem de marinheiros. Perguntam se eu não sabia da proibição. Eu me faço de tonto e digo que não. Eles me perdoam por ser gringo e, educadamente, me explicam que não é permitido nadar ali. Se quiser voltar ao mar, que seja no meio da multidão, a um quilômetro dali, na Playa Principal. Eu agradeço. Aquele banho de mar já tinha sido minha despedida. Mar agora, só lá no Ceará, daqui a três dias, com meu “brother” Atlântico, sem passar frio ou ter de dar explicação para alguém vestido de marinheiro. Por falar nisso, está na hora de pegarmos estrada novamente, rumarmos para o norte. Olho uma última vez para o mar. Pacífico, adeus!
Enfrentando a água fria do Oceano Pacífico em Pichilemu, no litoral central do Chile
Linda e inspiradora esta sua despedida do Pacífico.E ai viajei novamente atraves do seu relato pelos locais deste lindo oceano que tive a oportunidade de conhecer.
Resposta:
Oi Flora
Como sempre, fico envaidecido pelos seus elogios. Que bom que o post te traga doces lembranças!
Um abraço
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