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Cobras, Cachoeiras e Buracos - Blog do Rodrigo - 1000 dias

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Cobras, Cachoeiras e Buracos

Venezuela, Sierra de San Luis

A enorme cobra Cazadora que encontramos nas estradas da Sierra de San Luis, região de Coro, no noroeste da Venezuela

A enorme cobra Cazadora que encontramos nas estradas da Sierra de San Luis, região de Coro, no noroeste da Venezuela


Poucas dezenas de quilômetros ao sul de Coro, a Serra de San Luis se ergue rapidamente, saindo quase do nível do mar para altitudes superiores aos mil metros. Nas suas encostas, a umidade se condensa e o clima muda rapidamente, do seco para o úmido, do calor para o frio. Não é a toa que a vegetação se transforma radicalmente, dos cactos, gramíneas e cerrado lá de baixo para uma floresta verde e densa, típica dos trópicos. Rios correm por todos os lados, formando cachoeiras e quedas d’água, e as estradas têm de serpentear entre cristas e vales, curvas intermináveis sempre seguidas de paisagens de tirar o fôlego, quando as nuvens baixas davam uma chance.

O belíssimo entardecer na Sierra de San Luis, ao sul de Coro, no noroeste da Venezuela

O belíssimo entardecer na Sierra de San Luis, ao sul de Coro, no noroeste da Venezuela


Nosso hotel em Curimagua, na Sierra de San Luis, região de Coro, no noroeste da Venezuela

Nosso hotel em Curimagua, na Sierra de San Luis, região de Coro, no noroeste da Venezuela


Para nós, que tínhamos passado a manhã nas dunas dos Médanos de Coro e nas planícies da península de Paraguaná, o contraste foi ainda mais forte. O esforço de chegar aqui ainda ontem foi recompensado com um entardecer inesquecível, mas logo escureceu e tudo o que podíamos “ver” era o clima frio à nossa volta. Dormimos na cidade de Curimagua, em um hotel que deve ter tido seus dias de glória antes da era Chávez, há uns 20 anos, e que agora, assim como boa parte da infraestrutura turística espalhada pelo país, é visivelmente super dimensionado para o número de visitantes atuais. Hotéis, estradas, parques, todos eles parecem pertencer a um país que já existiu, um forte clima de nostalgia e decadência no ar. O resultado disso são preços baratos, infraestrutura meio danificada e envelhecida, um certo charme decadente dos anos 70 e a sensação de que algo tem de mudar...

Painel informativo sobre o Haitón de Guarataro, com mais de 300 metros de profundidade, na Sierra de San Luis, região de Coro, no noroeste da Venezuela

Painel informativo sobre o Haitón de Guarataro, com mais de 300 metros de profundidade, na Sierra de San Luis, região de Coro, no noroeste da Venezuela


Chegando ao Haitón de Guarataro, na Sierra de San Luis, região de Coro, no noroeste da Venezuela

Chegando ao Haitón de Guarataro, na Sierra de San Luis, região de Coro, no noroeste da Venezuela


Bom, de noite, aproveitamos para matar as saudades de um cobertor e, pela manhã, nos regozijamos com o ar de montanha, frio e úmido, nosso hotel cercado por montanhas, vegetação e muitas nuvens, uma fina garoa deixando tudo molhado. Nossa ideia era passar o dia explorando a região e, no final da tarde, voltar para o litoral, para a região do Parque Nacional de Morrocoy. Assim, agenda apertada com o sempre, com sol ou com chuva, não tínhamos tempo a perder!

O enorme buraco natural conhecido como Haitón de Guarataro, com mais de 300 metros de profundidade, na Sierra de San Luis, região de Coro, no noroeste da Venezuela

O enorme buraco natural conhecido como Haitón de Guarataro, com mais de 300 metros de profundidade, na Sierra de San Luis, região de Coro, no noroeste da Venezuela


Deixamos Curimagua para trás em direção à San Luís, o mais charmoso povoado da serra, justamente aquele que dá nome à região. Bem no meio do caminho, uma parada para observar umas das mais estranhas atrações daqui, um gigantesco buraco no solo, uma espécie de caverna vertical em meio a uma floresta densa. Na verdade, existem diversas formações como essa espalhadas pela Serra de San Luis, conhecidas aqui como “Haitón”, e essa que paramos para conhecer é a maior delas, com pouco mais de 300 metros de profundidade!

Igreja da pequena cidade de san Luis, na Sierra de San Luis, região de Coro, no noroeste da Venezuela

Igreja da pequena cidade de san Luis, na Sierra de San Luis, região de Coro, no noroeste da Venezuela


O Haitón de Guarataro está no final de uma pequena trilha na mata e só percebemos o gigantesco buraco quando já estávamos em sua borda. Isso porque, apesar da profundidade, ele é bem estreito, doze metros de diâmetro. Mesmos sendo domingo, éramos os únicos visitantes, o que nos deu tranquilidade de pular a cerca de proteção e chegar mais perto dessa verdadeira imagem de pesadelo, um enorme buraco negro, aparentemente sem fundo, entrando nas entranhas da terra. De tão fundo, não consegui ouvir o barulho de nenhuma das pedras que joguei para baixo, apenas o som suave da água da chuva que escoava buraco adentro. Uma placa informativa nos dá os números exatos dessa caverna vertical, inclusive de algumas galerias horizontais que foram encontradas a mais de cem metros de profundidade. Nossa... quem será que desceu lá embaixo nesse lugar assustador?

Com a Morela e sua filha Rosa, na pequena cidade de San Luis, Sierra de San Luis, região de Coro, no noroeste da Venezuela

Com a Morela e sua filha Rosa, na pequena cidade de San Luis, Sierra de San Luis, região de Coro, no noroeste da Venezuela


Depois da caminhada e do buraco, a fome aumentou ainda mais a vontade de chegarmos à San Luís. O tempo finalmente começou a abrir, tornando mais bela a chegada à pitoresca vila escondida no meio de montanhas e florestas. Fácil chegarmos até a igreja, sua torre alta a primeira coisa que vemos de longe, se erguendo sobre as árvores da floresta, mas nada de restaurantes à vista. Imagino que se estivéssemos nos Estados Unidos, seríamos recebidos num lugar lindo como esse com uma rua cheia de lojinhas, pousadas e restaurantes, turistas caminhando para lá e para cá. Aqui, uma simpática praça, mas bem vazia. Finalmente, encontramos um policial que, simpaticamente, nos ensinou como chegar ao único restaurante que estaria aberto, o Don Pepe.

A simpática Rosa, do restaurante onde comemos na pequena cidade de San Luis, Sierra de San Luis, região de Coro, no noroeste da Venezuela

A simpática Rosa, do restaurante onde comemos na pequena cidade de San Luis, Sierra de San Luis, região de Coro, no noroeste da Venezuela


Mas estava fechado. Insisto, bato palmas e, quase desistindo, eis que aparece a simpática Rosa, que logo chama sua mãe Morela. Estavam fechados porque ontem serviram um grupo maior de visitantes, todos venezuelanos, e a comida tinha acabado. Mas se compadeceram de nós e a Morela tratou de arrumar algo, uma simples e deliciosa comida caseira. Era tudo o que queríamos e ainda tivemos a chance de uma longa conversa com mãe e filha. A Morela faz um curso de “chef” em Coro, espírito empreendedor à espera de melhores tempos. A Rosa quer ser médica. Têm saudades do Chávez, que fez muitas coisas boas, como construir casas, de graça, para os mais necessitados. Desconfiam bastante do Maduro e sabem que algo tem de mudar no país. Mas não acreditam que seria com o Capriles...

As belas cataratas de Hueque, na Sierra de San Luis, região de Coro, no noroeste da Venezuela

As belas cataratas de Hueque, na Sierra de San Luis, região de Coro, no noroeste da Venezuela


As belas cataratas de Hueque, na Sierra de San Luis, região de Coro, no noroeste da Venezuela

As belas cataratas de Hueque, na Sierra de San Luis, região de Coro, no noroeste da Venezuela


Saímos de San Luís alimentados, com duas novas amigas e preocupados com o futuro desse país e desse povo que admiramos cada vez mais. Nosso destino são as Cataratas de Hueque, as mais populares cachoeiras dessa região serrana. Finalmente, pleno domingão, encontramos movimento, várias famílias que vieram fazer seu piquenique e farofa ao lado do rio. Para nós, turistas estrangeiros com acesso ao câmbio paralelo, o preço de entrada beira o ridículo, cerca de 30 centavos para os dois. Lá dentro, ao longo de um mesmo rio, inúmeras cachoeiras e cascatas, água bem fria e trilhas mal conservadas.

Visitando as cataratas de Hueque, na Sierra de San Luis, região de Coro, no noroeste da Venezuela

Visitando as cataratas de Hueque, na Sierra de San Luis, região de Coro, no noroeste da Venezuela


As belas cataratas de Hueque, na Sierra de San Luis, região de Coro, no noroeste da Venezuela

As belas cataratas de Hueque, na Sierra de San Luis, região de Coro, no noroeste da Venezuela


Tiramos nossas fotos, mas não nos animamos para um mergulho. O céu nublado e o longo caminho que nos esperava não são estimulantes. Melhor seguir em frente e deixar o banho de cachoeira para quando chegarmos à Gran Sabana. Voltamos para a Fiona e iniciamos as horas de viagem que ainda nos esperam, crentes que tínhamos terminado as “atrações” do dia.

As belas cataratas de Hueque, na Sierra de San Luis, região de Coro, no noroeste da Venezuela

As belas cataratas de Hueque, na Sierra de San Luis, região de Coro, no noroeste da Venezuela


Que nada! Alguns minutos na estrada esburacada e vemos algo estranho se movendo no asfalto, bem à nossa frente. É uma cobra! Enorme! Uma “cazadora”, espécie perigosa comum na região. Essa aí, tinha tido o azar de cruzar uma estrada e estava meio perdida entre os carros que passavam. Na verdade, furiosa, pois tinham atropelado a sua calda, coitada. Tentava morder qualquer coisa que se aproximasse, inclusive a Fiona, ao invés de correr logo para o acostamento e para a mata salvadora. Nós só podíamos torcer, além de tirar fotos (claro!), para que ela fizesse isso e não fosse atropelada novamente. Nessa hora, queria ser um daqueles apresentadores do Discovery Channel, que não tem medo desses animais e logo os pegam com as mãos, para poder salvá-la. Mas ela não queria conversa não e eu, desajeitado que sou, só pude chegar a poucos metros de distância. Infelizmente, acho que ela não duraria muito tempo, animal magnífico. Partimos antes de assistir o seu fim.

Uma enorme cobra Cazadora que encontramos em uma estrada da Sierra de San Luis, região de Coro, no noroeste da Venezuela

Uma enorme cobra Cazadora que encontramos em uma estrada da Sierra de San Luis, região de Coro, no noroeste da Venezuela


Agora sim, partimos para Morrocoy. Algumas horas de estrada e muitos assuntos na cabeça, desde nossos medos primitivos de buracos sem fundo e serpentes vorazes até um país com paisagens magníficas e um povo vibrante, mas que parece meio perdido, ideologia e incompetência no caminho de um futuro que tinha (e tem!) tudo para ser promissor.

Uma enorme cobra Cazadora que encontramos em uma estrada da Sierra de San Luis, região de Coro, no noroeste da Venezuela

Uma enorme cobra Cazadora que encontramos em uma estrada da Sierra de San Luis, região de Coro, no noroeste da Venezuela

Venezuela, Sierra de San Luis, cachoeira, Bichos

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Parque Nacional Morrocoy

Blog da Ana Igreja da pequena cidade de san Luis, na Sierra de San Luis, região de Coro, no noroeste da Venezuela

Sierra de San Luís

Comentários (1)

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  • 04/07/2013 | 09:22 por samuel baker mororo aragao

    Lembra muito, a serra da IBIAPABA, fronteira do meu Ceará com o Piauí, mais precisamente a cidade de Ubajara.

    Resposta:
    Olá Samuel

    Acertou na mosca!!! Eu também lembrei muito de Ibiapaba e Ubajara (que saudade!) quando estivemos na serra de San Luis

    Um abs

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