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Karina (27/09)
Olá, também estou buscando o contato do barqueiro Tatu para uma viagem ...
ozcarfranco (30/08)
hola estimado, muy lindas fotos de sus recuerdos de viaje. yo como muchos...
Flávia (14/07)
Você conseguiu entrar na Guiana? Onde continua essa história?...
Martha Aulete (27/06)
Precisamos disso: belezas! Cultura genuína é de que se precisa. Não d...
Caio Monticelli (11/06)
Ótimo texto! Nos permite uma visão um pouco mais panorâmica a respeito...
Um emocionante encontro com baleias ao largo de Elephant Island, na Antártida
Houve uma época, não muito tempo atrás, em que os mares do sul eram um verdadeiro jardim do éden para as baleias. Testemunhas relatam que eram dezenas de milhares delas, das mais variadas espécies, levando uma vida pacata e tranquila por aqui. Uma verdadeira abundância de comida, do fitoplancton e zooplancton ao krill e pequenos peixes, toda uma cadeia alimentar era sustentada em equilíbrio durante as últimas centenas de milhares de anos. Essa cadeia alimentar, criada por uma complexa combinação de correntes marítimas oriundas das diferenças de temperatura entre as águas polares e equatoriais, começava no menor dos organismos e terminava no maior deles. A baleia azul não era apenas o maior ser vivo daqueles tempos, mas com suas quase 200 toneladas, era o maior ser vivo de toda a história do planeta.
Esguichos no horizonte, sinal claro da presença de baleias na costa de Elephant Island, na Antártida
A primeira baleia aparece na superfície, para delírio dos passageiros e tripulação do Sea Spirit, na costa de Elephant Island, na Antártida
As grandes espécies de baleias não tinham inimigo natural. Além da azul, outras gigantes como a “sei”, a “fin” e a “humpback” só tinham que se preocupar em achar alimento. E isso nunca foi problema por aqui. A única exceção, talvez, eram as orcas. Algumas poucas vezes, em grupos, elas atacam os filhotes dessas grandes baleias. Ataques a indivíduos adultos são ainda mais raros e normalmente resultam mais em stress do que em morte. Enfim, era uma ameaça numericamente insignificante frente ao enorme número de baleias que nadavam por esses mares.
Um grupo de baleias Minke nada na costa de Elephant Island, na Antártida
Infelizmente, após um tempo tão grande que parecia uma eternidade, a vida pacata estava terminando. A 15 mil quilômetros dali, nos mares do norte, um perigo estava nascendo. A era industrial de caça às baleias estava começando, a espécie humana aprendendo novas táticas de matar com eficiência esses belos e pacíficos gigantes. Os derivados da baleia, como a sua carne e seu óleo, ganhavam mercados e movimentavam cada vez mais dinheiro. Com o dinheiro veio o desenvolvimento tecnológico. Um arpão acoplado a uma granada mostrou ser a mais letal das armas contra os grandes cetáceos. Barcos com propulsão a vapor finalmente deram a velocidade necessária para se aproximar e arpoar as baleias mais rápidas. De repente, animais que nunca tiveram predadores naturais passaram a ser presas fáceis do mais sanguinário e voraz deles: nós, humanos.
As baleias se aproximam cada vez mais do Sea Spirit na costa de Elephant Island, na Antártida
Em poucas décadas de caça desenfreada as baleias praticamente sumiram dos mares do norte. Os mais habilidosos caçadores eram os noruegueses, mas isso não impediu que um deles, ainda inexperiente, arpoasse uma pequena baleia achando que era uma baleia azul. Seus companheiros não perderam a chance de fazer graça com ele e começaram a chamar essa espécie de pequenas baleias com o sobrenome do inexperiente arpoador: Minke. O nome pegou, o pobre espécime arpoado por engano morreu, mas a espécie agora batizada de Minke ainda teria algumas décadas de sossego, pelo menos enquanto as espécies gigantes não desaparecessem dos mares.
As baleias se aproximam cada vez mais do Sea Spirit na costa de Elephant Island, na Antártida
Pois é, já no início do séc. XX, os mares do norte já estavam vazios e expedições “científicas” vieram dar uma olhada aqui no sul. Ficaram encantadas com o que viram, baleias aos milhares vivendo na mesma tranquilidade em que viviam desde os tempos imemoriais. Em 1905 um norueguês desbravador e pioneiro abriu a primeira estação baleeira do hemisfério na Geórgia do Sul. Seu nome era Larsen e já contei sua história quando passamos por lá (veja o link aqui). O fato é que durante os primeiros anos de operação os baleeiros nem tinham de ir até alto mar: bastava um passeio pelas baías próximas que já era o suficiente para capturar e matar dezenas de baleias. Os lucros foram enormes e logo muito mais gente veio se estabelecer por aqui também. O que havia começado com dezenas e centenas de baleias por ano logo atingiu milhares e dezenas de milhares de mortes anuais.
A enorme nadadeira de uma baleia em Elephant Island, na Antártida
As primeiras a sumirem do mapa foram as baleias azuis, já que eram as mais caçadas. Animais magníficos com mais de um século de idade, 30 metros de comprimento e 180 toneladas de peso sendo transformados em carne enlatada, óleo de lamparina e nitroglicerina para a guerra. Quando elas começaram a escassear, passaram a perseguir as fin (27 metros e 75 toneladas), as sei (20 metros e 30 toneladas) e as humpback, nossas conhecidas jubarte (15 metros e 30 toneladas). No início da matança, a abundância era tanta que apenas o “filé” era aproveitado, descartando-se ossos e músculos. Com a escassez das baleias, a produtividade aumentou e cada centímetro cúbico do animal era moído e espremido para não se perder mais nada. Por isso os ossos que ainda hoje vemos nas praias da Geórgia do Sul e Antártida são centenários, ainda do início da exploração.
Um enorme rabo de baleia ao lado do Sea Spirit, em Elephant Island, na Antártida
Por fim, já na metade do séc. XX, com as grandes baleias praticamente extintas, os baleeiros e o mercado se viraram para as espécies menores. Tinha chegado a vez da minke, que agora não era mais morta por engano. Nessa época, os próprios navios já haviam se transformado em fábricas a as baleias eram mortas e processadas ali mesmo, em alto mar. A perseguição aos cetáceos foi tão grande que a própria indústria baleeira começou a se preocupar. Claro que não tinham considerações ecológicas, mas temiam estar matando sua galinha dos ovos de ouro. Mas a preocupação veio tarde demais e as cotas auto impostas de nada adiantaram para que as espécies se recuperassem. Na verdade, simplesmente mudaram a mira de seus canhões para as baleias menores. Estas, em breve, teriam o mesmo destino das primas grandes.
Uma nadadeira de baleia que mais parece uma vela de barco, em Elephant Island, na Antártida
Foi apenas em 1966 que a comunidade internacional resolveu decretar uma moratória da caça às baleias. Desde então as espécies vêm se recuperando lentamente, o que fez com que países de tradição baleeira, como Japão, Islândia e Noruega voltassem a caçá-las. Algumas vezes, usam o ridículo argumento da “caça científica”, como o Japão, que pesca baleias minke e humpback. Outras nações, como os países nórdicos, simplesmente ignoram os apelos internacionais e caçam “parcimoniosamente”, segundo eles.
Um emocionante encontro com baleias ao largo de Elephant Island, na Antártida
Os números desse século de matança são absolutamente aterradores. Foram cerca de 200 mil humpbacks, 150 mil seis, 700 mil fins e 300 mil baleias azuis apenas nos mares antárticos. Mais de 90% da população original de humpbacks foi eliminada. No caso da baleia azul, foram mais de 99%!!! Os números são tão grandes que é difícil compreender o que eles realmente significam, mas há duas maneiras de termos uma ideia. A primeira, é pela porcentagem da espécie que foi caçada. Por exemplo, no caso das humpbacks, é como se alienígenas chegassem ao nosso planeta e matassem 6,3 bilhões de seres humanos. Se consideramos as baleias azuis, é como se fosse 6,95 bilhões. Ou seja, infinitamente mais do que todas as guerras somadas, mais os grandes massacres perpetrados por ditaduras sanguinárias, mais os mortos por todas as epidemias, desde a peste negra até as doenças trazidas ao novo mundo. Tudo isso em apenas 60 anos de massacre.
Encontrando humpback whales na costa de Elephant Island, na Antártida
Outra forma de contabilizar, igualmente impressionante, é pela “massa biológica”. Intuitivamente, sabemos que a morte de uma baleia é pior que a morte de um cachorro que é pior que a morte de uma formiga que é pior que a morte de uma bactéria. A razão disso é que há muito mais vida em um cachorro do que em uma formiga e muito mais ainda numa baleia. Uma conta rápida ajuda a traduzir: uma baleia azul adulta pesa, em média, 140 toneladas. Um ser humano, 70 kg. É preciso somar a massa biológica de duas mil pessoas para se chegar à massa de uma baleia azul. Por esse ponto de vista, matar 300 mil baleias azuis equivale a matar 600 milhões de pessoas! Soma-se a isso as outras baleias e vamos chegar a resultados parecidos com a primeira conta, quando praticamente toda a população humana da Terra seria morta.
Encontrando humpback whales na costa de Elephant Island, na Antártida
Enfim, esse é o massacre que cometemos. Ao quase terminar com as baleias, os baleeiros se viraram para elefantes e lobos marinhos. Essas duas espécies também foram terrivelmente perseguidas, mas desde que proibiu-se sua comercialização, as espécies se recuperam e hoje vivem até em maior número do que antigamente. A razão disso é que hoje há muito mais alimento para eles do que em 1900. Por quê? Porque já não há mais baleias para competir pelo mesmo tipo de alimento. Enfim, também elas estão se recuperando, mas muito mais lentamente. A razão é simples: seu ciclo reprodutivo e de vida é muito mais longo. Ainda hoje se encontram baleias nadando por aí com pontas de arpão que só eram produzidas no século XIX! Assim, elas têm de ter muito mais de 100 anos! Além disso, uma baleia azul fêmea só tem um filhote a cada três anos. A gestação dura um ano e o filhote mama por outros dois anos. Calcula-se a população atual dessa espécie em 15 mil indivíduos. Ainda muito longe das centenas de milhares que viviam há um século...
Uma hunpback whale na costa de Elephant Island, na Antártida
Para finalizar o post com um pouco mais de otimismo, hoje foi um dia muito feliz a bordo do Sea Spirit. Ao navegar ao largo de Elephant Island, pudemos avistar dezenas de baleias de várias espécies: humpback, sei, fin e minke. Infelizmente, não avistamos as azuis (um de meus maiores sonhos...). Nadavam tranquilas, mãe e filha ou em pequenos grupos. Espécies interagiam, assim como faziam antigamente. De longe, no horizonte, avistamos o esguicho que sai por trás das cabeças. O comandante do barco nos avisou e fomos todos para o convés. Aí, foram duas horas de observação, fotos e muita emoção. Aos poucos, elas se aproximaram de nós. Com exceção de uns poucos baleeiros japoneses, elas já não têm de se preocupar com os barcos de hoje. Pelo menos, não com os daqui, que sempre tomam cuidado com elas. Nas rotas comerciais entre EUA, Ásia e Europa, o atropelamento de baleias por grandes cargueiros é hoje uma das principais causas de morte desses cetáceos. Mas aqui na Antártida, estão protegidas. E vê-las nadar assim, livremente, despreocupadas, nos faz ter uma ideia de como eram vivas essas águas há um século. Deve ter sido incrível! Quem sabe, não voltará a ser?
Uma baleia se alimenta nas águas geladas de Elephant Island, na Antártida
Snif :(
Resposta:
Oi cunhada!
Pois é, hist[oria bem triste mesmo. Mas o future há de ser bem melhor!
Bjs
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