0 A Trilha Inca (1990) - Blog do Rodrigo - 1000 dias

A Trilha Inca (1990) - Blog do Rodrigo - 1000 dias

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A Trilha Inca (1990)

Peru, Machu Picchu

Depois de quase 40 km de trilhas pelas montanhas peruanas, a emoção de se chegar a Machu Picchu, no Peru (foto de Julho de 1990)

Depois de quase 40 km de trilhas pelas montanhas peruanas, a emoção de se chegar a Machu Picchu, no Peru (foto de Julho de 1990)


Ao iniciarmos nossos 1000dias por toda América, vários locais do continente estavam em nossos planos. Um deles eram as ruínas de Machu Picchu, no Peru, um dos principais pontos turísticos da América do Sul, já há mais de um século. Para chegar até lá, não há dúvidas que a maneira mais charmosa é caminhando pela famosa Trilha Inca. São quase 40 quilômetros de caminhada através das montanhas e vales da região, partido do quilômetro 82 (ou do 88) da ferrovia que liga Cusco à Agua Calientes e chegando no Portão do Sol, na parte superior de Machu Picchu.

Uma foto das ruínas de Machu Picchu, no Peru, em 1911, logo depois de serem reveladas para o mundo pelo explorador americano Hiram Bingham. A vegetação ainda cobre as ruínas

Uma foto das ruínas de Machu Picchu, no Peru, em 1911, logo depois de serem reveladas para o mundo pelo explorador americano Hiram Bingham. A vegetação ainda cobre as ruínas


Um ano após ser revelada ao mundo em 1911, a vegetação já havia sido retirada das uínas de Machu Picchu, no Peru. Mais tarde, muita coisa foi reconstruída

Um ano após ser revelada ao mundo em 1911, a vegetação já havia sido retirada das uínas de Machu Picchu, no Peru. Mais tarde, muita coisa foi reconstruída


A maior dificuldade é conseguir comprar o ingresso para fazer essa trilha. A demanda é infinitamente maior do que a oferta, pois o governo peruano impôs um limite de acessos na trilha. São quinhentas pessoas por dia, aí incluídos os guias e carregadores de cada grupo. Já faz tempo que, para fazer a trilha, é obrigatório estar em um dos grupos oferecidos pelas diversas agências de turismo da região. Nada de caminhadas “independentes”. Então, para turistas mesmo, acabam sobrando pouco mais de 200 vagas diárias. Durante os meses de inverno, melhor época para se fazer a trilha por causa das condições meteorológicas, os concorridos ingressos se esgotam com muitos meses de antecipação. É preciso comprar para uma data específica e estar lá no dia. Se atrasar, o ingresso é perdido. Além disso, ele é intransferível e tem de ser comprado pela própria pessoa. Para nós, que viajávamos de carro e sem uma agenda precisa, foi impossível prever a data que chegaríamos a Cusco e, portando, não tivemos a chance de comprar ingressos e fazer essa trilha icônica.

O explorador americano Hiram Bingham nas ruínas de Machu Picchu, no Peru, em 1912, quando a vegetação original começou a ser retirada

O explorador americano Hiram Bingham nas ruínas de Machu Picchu, no Peru, em 1912, quando a vegetação original começou a ser retirada


Nós não fizemos a trilha, mas isso não nos impediu de visitar as famosas ruínas, como pode ser visto aqui (1a Parte) e aqui (2a Parte). Ficou mesmo faltando a trilha, embora tenhamos feito uma outra, maravilhosa, até as ruínas de Choquequirao (posts aqui). Mas a tradicional trilha inca, esta ficou mesmo para trás. A mais triste com isso foi a Ana. Ela já havia viajado para cá antes, em 2006, e tinha comprado o ingresso para a trilha com bastante antecipação. Mas dificuldades no emprego a fizeram adiar sua viagem por alguns dias e ela perdeu seu ingresso. Agora, nos 1000dias, tinha esperanças de finalmente conhecer esse caminho, mas também não foi dessa vez. Quanto a mim, eu também já havia estado aqui, mas bem antes. Foi durante uma viagem com um primo e um amigo, em 1990, nosso primeiro mochilão pela América Latina. Já contei em outros posts alguns pedaços dessa viagem de 23 anos atrás, nossa experiência no Trem da Morte e nossa subida ao monte Chacaltaya, perto de La Paz. Agora, chegou a vez de relatar nossa experiência na Trilha Inca, algo que não poderia ficar de fora do site dos 1000dias.

Cruzando a famosa ponte sobre o rio Urubamba, no quilômetro 88 da ferrovia para Aguas Calientes onde se inicia o caminho inca para Machu Pichu (foto de Julho de 1990)

Cruzando a famosa ponte sobre o rio Urubamba, no quilômetro 88 da ferrovia para Aguas Calientes onde se inicia o caminho inca para Machu Pichu (foto de Julho de 1990)


A famosa ponte sobre o rio Urubamba, no quilômetro 88 da ferrovia para Aguas Calientes onde se inicia o caminho inca para Machu Pichu (foto de Julho de 1990)

A famosa ponte sobre o rio Urubamba, no quilômetro 88 da ferrovia para Aguas Calientes onde se inicia o caminho inca para Machu Pichu (foto de Julho de 1990)


A chamada “Trilha Inca Tradicional” era um dos muitos caminhos usados pelos incas para se chegar a Machu Picchu. Em uma boa parte do caminho, ainda se percebe o calçamento original, com quase 600 anos de idade, subindo e descendo morros e atravessando florestas. Ao longo da trilha, passamos em várias ruínas daquela época, antigos templos, fortes, quartéis e povoados. A trilha deveria ser movimentada naquelas tempos! Mas, com a conquista espanhola e a destruição da civilização incaica, tudo isso quase se perdeu. Congelado no tempo e encoberto pela vegetação, esse antigo caminho, assim como a própria Machu Picchu, só reapareceriam para a civilização no início do século XX. Guiado por um menino local de apenas 11 anos, o explorador americano Hiram Bingham chegou a Muchu Picchu em 1911, através do vale do rio Urubamba até a atual Aguas Calientes e, de lá, morro acima até a antiga cidadela inca.

Altimetria do caminho inca a Machu Picchu, no Peru. Nós dormimos logo no início da trilha e depois, foram dois dias de caminhada e mais a manhã do 3o dia. Na época, o uso de guias não era obrigatório

Altimetria do caminho inca a Machu Picchu, no Peru. Nós dormimos logo no início da trilha e depois, foram dois dias de caminhada e mais a manhã do 3o dia. Na época, o uso de guias não era obrigatório


Outros europeus já haviam estado lá antes, mesmo no séc. XIX, mas nenhum havia dado publicidade ao fato. Para quem vê Machu Picchu hoje, é difícil imaginar porque alguém chegaria até lá e não avisaria o resto do mundo, de tão espetacular que ela é. Mas, quando esses primeiros exploradores lá chegaram, Machu Picchu estava muito diferente do que conhecemos hoje, quase completamente coberta pela vegetação e com boa parte de suas construções desmontadas. Fotos antigas nos dão uma ideia de como era. Mas Hiram Bingham sabia muito bem o que se escondia por lá e, com a ajuda da National Geographic, limpou o terreno e mostrou ao mundo uma das maiores descobertas arqueológicas do século XX. Aos poucos, a cidade foi sendo “remontada” e virou o que conhecemos hoje. Foi Bingham também que explorou os caminhos que chegavam à cidade, incluindo a trilha inca tradicional e as ruínas ao longo da rota.

O Marcelo chega a Yuncachimpa, a 3.200 metros de altitude, no nosso primeiro dia de caminhada na trilha inca para Machu Picchu, no Peru (foto de Julho de 1990)

O Marcelo chega a Yuncachimpa, a 3.200 metros de altitude, no nosso primeiro dia de caminhada na trilha inca para Machu Picchu, no Peru (foto de Julho de 1990)


Llulluchapampa, a mais de 3.800 metros de altitude, ao final do nosso primeiro dia de caminhada na trilha inca que leva a Machu Picchu, no Peru (foto de Julho de 1990)

Llulluchapampa, a mais de 3.800 metros de altitude, ao final do nosso primeiro dia de caminhada na trilha inca que leva a Machu Picchu, no Peru (foto de Julho de 1990)


A partir de então, Machu Picchu foi ficando mais e mais popular no turismo mundial, atraindo gente como Che Guevara, ainda bem antes de se tornar um revolucionário. Primeiro foram as ruínas da cidade e, mais tarde, o próprio Caminho Inca atraia visitantes dos quatro cantos do mundo. Mas a situação política do Peru se deteriorou muito entre as décadas de 70 e 80 do século passado e a atuação de grupos terroristas no país afastavam muitos visitantes. Ente eles, talvez o mais sanguinário da história do nosso continente, conhecido pelo pomposo nome de Sendero Luminoso. Sua área de atuação mais forte era na região de Ayacucho e, mais tarde, na periferia da capital Lima. A região de Cusco, onde está Machu Picchu, era mais tranquila, mas no final da década de 80 não se podia seguir por terra, diretamente, de Cusco a Lima. Era muito perigoso. A alternativa era voar, ou então, dar uma longa volta por Arequipa. Foi nessa época que viajamos ao país e, de Cusco, tomamos a rota por Arequipa. Nos quase 20 dias que passamos viajando no Peru daquela época, diversas vezes acompanhamos, pelos jornais, os estragos feitos pela guerrilha, tanto pelos maoístas do Sendero Luminoso como pelos trotskistas do Tupac Amaru.

No acampamento ao final do primeiro dia de caminhada no caminho inca que leva a Machu Picchu, no Peru. aos 3.800 metros de altitude, chegamos bem próximos da linha da neve e gelo!(foto de Julho de 1990)

No acampamento ao final do primeiro dia de caminhada no caminho inca que leva a Machu Picchu, no Peru. aos 3.800 metros de altitude, chegamos bem próximos da linha da neve e gelo!(foto de Julho de 1990)


Enfim, muita gente deixava de viajar ao Peru por medo da violência. Para quem vinha, tudo era mais tranquilo e menos concorrido. Por exemplo, as atrações de Cusco, Machu Picchu e a trilha inca. Naquela época, não era preciso fazer reserva e muito menos era obrigatório a contratação de guias. Nós simplesmente pegamos o trem depois de visitar Ollantaytambo e descemos no quilômetro 88, já no final da tarde. Atravessamos a ponte pênsil sobre o rio Urubamba e fomos comprar nossos ingressos. Havia dois tipos, um na moeda nacional e outro em dólar. Valiam a mesma coisa. Na moeda americana, eram 13 dólares. O guarda nos disse que só tinha os ingressos em moeda nacional, mas nós só tínhamos dólares. Criou-se um impasse, mas ao final ele nos deixou entrar sem ingresso mesmo, com a promessa de pagarmos quando chegássemos a Machu Picchu. Como “garantia”, anotou nossos nomes e números de passaporte. Imagina só isso, comparando com a situação de hoje, super controlada.

Perto dos 3.500 metros de altitude nas montanhas peruanas, trecho final do nosso primeiro dia de caminhada no caminho inca que leva a Machu Picchu, no Peru (foto de Julho de 1990)

Perto dos 3.500 metros de altitude nas montanhas peruanas, trecho final do nosso primeiro dia de caminhada no caminho inca que leva a Machu Picchu, no Peru (foto de Julho de 1990)


Todo o esforço para vencer os metros finais para se chegar aos 4.200 metros de altitude do 1o Paso, o ponto mais alto do caminho inca até Machu Picchu, no Peru (foto de Julho de 1990)

Todo o esforço para vencer os metros finais para se chegar aos 4.200 metros de altitude do 1o Paso, o ponto mais alto do caminho inca até Machu Picchu, no Peru (foto de Julho de 1990)


Essas regras mais rígidas de hoje e os preços muito maiores tem sua razão de ser. O fato é que se ainda fosse tudo liberado, seriam milhares de pessoas diariamente e a trilha simplesmente não comporta isso. A obrigatoriedade de guias também ajuda a controlar o comportamento dos turistas, cuidando do lixo deixado para trás ou locais autorizados de acampamento, por exemplo. Daquela vez, naquele trem vespertino, só disseram ali oito pessoas. Nós, dois amigos brasileiros e três gringos. No trem matutino vinha mais gente, mas não tanto. Hoje, como já disse, são 200 turistas diários, mais guias e carregadores até o limite de 500 pessoas. Nos meses de inverno, sempre se chega a este número. O caminho não é difícil de ser seguido e poderia ser feito tranquilamente, como nós fizemos, sem guias. É claro que eles agregam muito em informação, mas o caminho é bem claro e com pouquíssimas bifurcações. Já os carregadores, bom, nenhuma dúvida que é muito mais confortável caminhar sem peso e já encontrar sua barraca armada, como em qualquer outra trilha. Aqui, ainda mais pela dificuldade da altitude. Para quem não está acostumado, chegar aos 4 mil metros caminhando é um esforço descomunal, ainda mais com peso nas costas. Mas com jeitinho e paciência, vai.

No manhã do segundo dia de caminhada, cruzando o 1o Paso, ponto mais alto do caminho inca que leva a Machu Picchu, no Peru. Conhecido como Warmiwañusca, ou 'mulher que dorme', está a 4.200 metros de altitude! (foto de Julho de 1990)

No manhã do segundo dia de caminhada, cruzando o 1o Paso, ponto mais alto do caminho inca que leva a Machu Picchu, no Peru. Conhecido como Warmiwañusca, ou "mulher que dorme", está a 4.200 metros de altitude! (foto de Julho de 1990)


Ir em grupos com agências, como já disse, hoje não é mais uma opção, mas uma obrigatoriedade. Sem peso e medo de errar o caminho, sobre muito mais tempo para aproveitar a trilha, sem dúvidas. Com barracas armadas e comida quentinha, então, nem se fala. São ótimas vantagens. A desvantagem é o preço muito maior e a perda de liberdade. Afinal, temos de seguir no ritmo do grupo. As agências oferecem os passeios em 4 ou 5 dias, já começando a caminhar na metade do primeiro dia. Nós, que normalmente caminhamos mais rapidamente e que tínhamos um país inteiro para conhecer em 20 dias, fizemos mais rapidamente. Paramos em pontos onde hoje não se pode mais acampar. Começamos bem cedo no primeiro dia e, ao final do segundo, já estávamos quase lá. Tudo calculado para, na manhã do terceiro dia, sermos os primeiros a chegar nas ruínas, antes das hordas de turistas que sobem de ônibus de Águas Calientes. Naquela época, para quem vinha de baixo, a cidade só abria às nove horas. Hoje, abre às seis da manhã. Afinal, agora são quase 2.500 pessoas diárias vindas de Aguas Calientes e naquela época era menos da metade disso.

No manhã do segundo dia de caminhada, cruzando o 1o Paso, ponto mais alto do caminho inca que leva a Machu Picchu, no Peru. Conhecido como Warmiwañusca, ou 'mulher que dorme', está a 4.200 metros de altitude! (foto de Julho de 1990)

No manhã do segundo dia de caminhada, cruzando o 1o Paso, ponto mais alto do caminho inca que leva a Machu Picchu, no Peru. Conhecido como Warmiwañusca, ou "mulher que dorme", está a 4.200 metros de altitude! (foto de Julho de 1990)


No alto do 2o Paso, a 3.850 metros de altitude, no nosso 2o dia de caminhada na trilha inca que leva a Machu Picchu, no Peru (foto de Julho de 1990)

No alto do 2o Paso, a 3.850 metros de altitude, no nosso 2o dia de caminhada na trilha inca que leva a Machu Picchu, no Peru (foto de Julho de 1990)


Bom, como disse, atravessamos a ponte e entramos na trilha bem no final de tarde. Armamos nossas barracas ali mesmo, já ficando escuro. No outro dia, saímos cedinho, através de uma mata gostosa, sempre perto de um afluente do Urubamba. Demorou mais de uma hora para chegarmos ao início da subida e, antes disso, para minha surpresa, até passamos perto de um pequeno povoado. Sempre achei que ninguém morasse por ali, mas mora sim. Então, o “trânsito” que encontramos, ao menos naquela época, é muito mais de pessoas locais do que turistas. Esses só começamos a ver a partir da subida, os retardatários do grupo que chegou no trem matutino do dia anterior. Raro é encontrar alguém vindo no sentido contrário. Quase sempre é algum morador local, mas há também o caso de turistas que se deram mal com a altitude e desistiram do caminho, tendo de retornar para pagar o trem novamente.

Na tarde do 2o dia de caminhada, chegando às ruínas de Sayacmarka, aos 3.600 metros de altitude, no caminho inca que leva a Machu Picchu, no Peru (foto de Julho de 1990)

Na tarde do 2o dia de caminhada, chegando às ruínas de Sayacmarka, aos 3.600 metros de altitude, no caminho inca que leva a Machu Picchu, no Peru (foto de Julho de 1990)


Nesse dia, como mostra o mapa de altimetria nesse post, nós não paramos mais de subir e fomos até o último ponto de acampamento antes do chamado 1º Paso. “Paso” é o nome que se dá quando chegamos no alto de uma grande subida ou de um vale e começamos a descer do lado de lá, já em outro vale. São três “passos” ao longo da trilha e o mais alto deles é justamente o primeiro, com 4.200 metros de altitude. Nós seguimos até um lugar chamado Llulluchapampa, a 3.800 metros de altura. A mochila nas nossas costas pesava uma tonelada, mas aquela experiência no Chacaltaya, em La Paz, já tinha nos deixado muito mais acostumados com a altitude. Além disso, os dias no Titicaca, Puno e arredores de Cusco também foram acostumando nossos organismos. Se tivéssemos chegado diretamente do Brasil, duvido que tivéssemos conseguido seguir no ritmo que viemos. Aí acampamos, apenas nós e os conhecidos brasileiros, duas barracas no meio daquele mundão todo, solo sagrado dos incas. Foi muito legal mesmo. Estávamos bem próximos da linha de neve e a vista do vale era alucinante.

Em Phuyupatamarca, o 3o paso, aos 3.650 metros de altitude, quase ao final do nosso 2o dia de caminhada na trilha inca que leva a Machu Picchu, no Peru (foto de Julho de 1990)

Em Phuyupatamarca, o 3o paso, aos 3.650 metros de altitude, quase ao final do nosso 2o dia de caminhada na trilha inca que leva a Machu Picchu, no Peru (foto de Julho de 1990)


Mais uma vez, acordamos cedo no dia seguinte, o mais duro da nossa caminhada. O primeiro e maio obstáculo foi chegar no alto do 1º Paso. Um sacrifício danado, recompensado pelo ar puro e gélido da manhã e a vista incrível que se tem durante o caminho. Mas foi mesmo um sufoco e se houvesse um carregador por ali, acho que eu me renderia. Mas tudo melhora quando chegamos no alto e começamos a descer. A única tristeza é ver a trilha descendo até lá embaixo e voltando a subir no morro seguinte. Será que esses incas não sabiam fazer pontes, hehehe! Nós descemos e subimos novamente, agora até o alto do 2º Paso, a 3.850 m de altitude. Onde houvesse alguma ruína, e são várias, aí parávamos para descansar e, algumas vezes, comer algo. O dia foi passando e foi a vez de vencermos o 3º Paso, o mais baixo e último da trilha. A partir daí, só descida nos esperava. Estávamos a 3.650 metros de altura e Machu Picchu. 1.200 metros abaixo de nós. mas ainda tínhamos uma última noite antes de chegar lá.

Trecho final da longa caminhada do 2o dia, já abaixo dos 3 mil metros e de volta ao trecho de mata, chegando a Intipata, no caminho inca que leva a Machu Pichu, no Peru (foto de Julho de 1990)

Trecho final da longa caminhada do 2o dia, já abaixo dos 3 mil metros e de volta ao trecho de mata, chegando a Intipata, no caminho inca que leva a Machu Pichu, no Peru (foto de Julho de 1990)


Trecho final da longa caminhada do 2o dia, já abaixo dos 3 mil metros e de volta ao trecho de mata, chegando a Intipata, no caminho inca que leva a Machu Pichu, no Peru (foto de Julho de 1990)

Trecho final da longa caminhada do 2o dia, já abaixo dos 3 mil metros e de volta ao trecho de mata, chegando a Intipata, no caminho inca que leva a Machu Pichu, no Peru (foto de Julho de 1990)


A descida até Wiñaywayna foi tão ou mais complicada que as subidas anteriores. Cansados e com peso nas costas, os joelhos vão para a cucuia. E foram mesmo, especialmente os do Marcelo. Existe um pequeno hotel por ali e eu cheguei junto com o Haroldo no final de tarde. Mas o Marcelo não aparecia e o Haroldo subiu ao seu encontro, Ele vinha manquitolando, com dores no joelho, e o Haroldo até trouxe sua mochila. Já o pequeno hotel, estava lotado por uma excursão de baianos de Salvador. Nós estávamos com muita preguiça de montar a barraca e acabamos por dormir no quarto deles, no chão, com nossos sacos de dormir. De graça. Só pagamos pelo café da manhã no dia seguinte. E ainda pudemos sair com muito mais agilidade, pois a barraca já estava dentro das mochilas.

Passando por Intipata (2.750 m) e a caminho de Wiñaywayna (2.550 m), local da nossa última noite na trilha inca que leva a Machu Pichu, no Peru (foto de Julho de 1990)

Passando por Intipata (2.750 m) e a caminho de Wiñaywayna (2.550 m), local da nossa última noite na trilha inca que leva a Machu Pichu, no Peru (foto de Julho de 1990)


O último trecho fui curto, mas emocionante. Afinal, estávamos chegando em Machu Picchu. No nosso ritmo quase correndo, fomos os primeiros a chegar e a cidade estava linda, recém iluminada pelo sol e totalmente vazia. Depois das fotos do mirante e de um lanche admirando um dos mais belos cartões postais do mundo, a gente desceu até as ruínas para explorá-las um pouco antes que chegassem os turistas de Agua Calientes. Hoje, os caminhos pelas ruínas são super restringidos, um corredor único e com guardas a nos vigiar. Naquela época, perambulava-se livremente, exceto em cima dos muros. Foi uma delícia me deitar sob a sombra de uma árvore no meio de uma das praças principais da cidade e ficar só lá, divagando e curtindo o momento. Essa mesma árvore continua por lá, mas hoje é completamente off-limits para turistas. Apenas as lhamas caminham livremente pelos gramados de Machu Picchu no século XXI.

Manhã de sol, um pouco depois das oito horas, uma Machu Picchu ainda vazia nos recebe em nosso 3o dia de caminhada pela trilha inca, no Peru (foto de Julho de 1990)

Manhã de sol, um pouco depois das oito horas, uma Machu Picchu ainda vazia nos recebe em nosso 3o dia de caminhada pela trilha inca, no Peru (foto de Julho de 1990)


Hoje entendo e concordo completamente com as limitações impostas pelo governo. Mas, ao mesmo tempo, agradeço aos céus a chance que tive 23 anos atrás de ter feito aquela trilha no meu ritmo e quase sem cruzar com outras pessoas, além de poder caminhar livremente pelas praças e ruelas de Machu Picchu. O progresso tem suas vantagens, mas tem também seus custos...

Uma Machu Picchu livre de turistas nos recebe na manhã do nosso 3o dia de caminhada pela trilha inca, no Peru (foto de Julho de 1990)

Uma Machu Picchu livre de turistas nos recebe na manhã do nosso 3o dia de caminhada pela trilha inca, no Peru (foto de Julho de 1990)



P.S Para quem se interessar, os relatos dessa viagem de 1990 que estão no site dos 1000dias são:

1 - A viagem no Trem da Morte
2 - A subida do Chacaltaya, em La Paz
3 - A Trilha Inca até Machu Picchu (este post!)
4 - Viajando pelo rio Amazonas do Peru ao Brasil

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