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Destilaria Capel, grande produtora de Pisco, no Valle del Elqui, no Chile
Até agora no Chile havíamos encontrado apenas dois tipos de ambiente: desertos andinos e o litoral pacífico. O vento salgado que sopra do oceano não deixa as plantas se desenvolverem nas terras do lado de cá da Cordilheira e as propriedades do seu terreno são propícias principalmente para atividades de mineração. Cobre e carvão são as mais famosas delas, mas outra infinidade de elementos são encontrados nestas montanhas de origem vulcânica.
Represa no Valle del Elqui, no Chile
Os desertos andinos são maravilhosos, desertos como o Atacama despertam em nós um novo sentido observador, onde pensamos que a vida poderia não existir encontramos salinas repletas de flamingos, colônias de bactérias que colorem lagunas inteiras, gêiseres e fontes de águas termais incríveis. No pacífico as praias recortadas pelo maior oceano do mundo parece nos cobrar mais respeito, não apenas pelas frias correntes vindas da Antártida, mas por sua imponência e grandiosidade.
Produção de energia eólica na estrada entre La Serena e Valparaiso, no Chile
Quando chegamos em La Serena, porém, descobrimos que aqui existia uma terra verde e produtiva, o celeiro de frutas na região central do Chile, um jardim do éden em meio à tanto cinza. Lá se produz uma quantidade imensa de frutas, mas a principal delas é a uva, elemento essencial para a produção da tradicional bebida chilena, o pisco.
Um dos muitos parreirais no Valle del Elqui, no Chile
A cidade de Vicuña é a base para explorar o vale e está a apenas uma hora de La Serena, na zona da pré-cordilheira. Seguimos viagem hoje acompanhados de um amigo viajante que conhece essa região, Maxi é argentino e vive na província de San Juan. Desde pequeno ele vem com a sua família para as praias de La Serena cruzando o passo de Águas Negras, um dos muitos passos da Cordilheira dos Andes. Para eles o Pacífico está muito mais próximo que o Atlântico e nos bons tempos da economia argentina as casas de veraneio do lado chileno eram uma barganha. A viagem de 14 horas era um pouco cansativa, então Maxi, seu pai, mãe e 3 irmãos cruzavam rasgando a região do vale e ele nunca havia parado por aqui para visitar.
Com o Maxi, vistando a represa no Valle del Elqui, no Chile
Subimos o vale e fizemos a nossa primeira parada no mirante do novo embalse, represa de água construída há uns 7 anos. O lago de águas verdes, no caminho do vento andino, é um dos melhores lugares na região para wind e o kite surf. O vento é tanto que na inauguração da represa foi instalado também um monumento que é, na realidade, um instrumento musical que assovia com o vento! Ali perto há também um observatório astronômico que pode ser visitado, nós pulamos e fomos direto ao que interessava, a pisqueria.
Visitando a destilaria capel, no Valle del Elqui, no Chile
O Valle del Elqui é uma das principais regiões pisqueiras do Chile, casa para duas das maiores produtoras de pisco nacionais, a Mistral e a Capel. A Mistral é uma das maiores do país, uma holding que comprou diversas pisquerias artesanais, vinícolas, além de produzir a principal cerveja chilena, a Cristal. A origem da empresa foi em uma família proprietária de grandes minas de cobre e o seu dono é um dos homens mais ricos do Chile. A CAPEL, por outro lado, é uma cooperativa, a sigla responde à Cooperativa Agrícola Pisquera Elqui Ltda. Estes pequenos produtores se recusaram a entrar para o império da Mistral e se uniram para manter a tradição e a qualidade do seu produto. Quase quebrada no começo dos anos 2000 recebeu uma injeção de capital do governo, conseguiu se reerguer e desde 1953 é líder no mercado nacional e a maior concorrente da Mistral com uma gama de sucos, cervejas, vinhos e é claro, piscos.
Venda de Pisco na destilaria Capel, no Valle del Elqui, no Chile
A sua marca premium é o Alto del Carmen que provamos na degustação depois de uma visita guiada pela fábrica. O pisco é uma bebida destilada do vinho, traduzindo, para se obter o pisco é preciso primeiro produzir vinho e depois destilá-lo. As uvas preferidas para a produção de pisco são as brancas doces, a principal delas é a moscatel. Com maior quantidade de açúcar elas tem um alto teor alcoólico, resultando em piscos que, por regulamentação nacional, devem ter entre 40 e 50% de graduação álcoolica.
Destilaria Capel, grande produtora de Pisco, no Valle del Elqui, no Chile
Muitos de vocês devem estar pensando, mas e o pisco não era peruano?! Sim e não! Esta é uma grande disputa entre os dois países, mas afinal o pisco é peruano ou chileno? Nossa simpática guia chilena não poderia ter sido mais política na sua resposta, esperta com a quantidade de turistas do vizinho do norte que já passaram por aqui. O nome pisco é peruano e isso é sabido e comprovado até pela existência da cidade de Pisco, que foi quem emprestou o nome à bebida que era produzida, envasada em barris e enviada aos diferentes portos registrada com o nome do seu porto de origem. Porém temos que lembrar que o norte do Chile um dia pertenceu ao Perú, mais um detalhe na história e na geografia que podem nos deixar confusos na determinação de onde se originou afinal, tal bebida.
Destilaria Capel, grande produtora de Pisco, no Valle del Elqui, no Chile
Depois de uns shots de pisco e a aula sobre mais um dos ícones gastronômicos e culturais do Chile, fomos provar a tradicional culinária local no melhor estilo sustentável moderno. O restaurante de cozinhas solares aproveita os mais de 320 dias de sol por ano na região para cozinhar batatas, pães e empanas de chivos (bode), além de preparar duas opções de pratos: ensopados de frango ou de cabrito.
Chegando à restaurante com cozinhas solares, no Valle del Elqui, no Chile
Uso do sol para cozinhae, no Valle del Elqui, no Chile
Nós não tivemos dúvida e provamos a especialidade local. O ensopado estava delicioso, mas confesso que a empanada me deixou com uma pulga atrás da orelha, um pouco forte para estômagos novatos nessa modalidade.
Empanada de chivo (bode) em restaurante no Valle del Elqui, no Chile
Com o Maxi, almoçando em restaurante de cozinha solar no Valle del Elqui, no Chile
Fechamos aqui a nossa rápida visita ao Valle del Elqui que além de pisquerias e fazendas de frutas, no verão também tem balneários de rios como alternativa à fria água do Pacífico. Faltou também visitarmos a cervejaria artesanal, que produz cervejas adocicadas com leite de avelãs e também é muito bem recomendada. Mas ainda tínhamos mais 400km de estrada pela frente até o nosso próximo destino no litoral chileno, Valparaíso e Viña del Mar. A despedida do Maxi foi um breve até logo, já que em duas semanas o encontraremos novamente em San Juan com sua esposa viajante Mari. Tomamos um bom chimarrão, fazendo a digestão do chivo caminhando à beira mar, enquanto o Rodrigo se recuperava com uma siesta antes de pegarmos a estrada. É bom ele descansar mesmo, afinal a cidade das artes e da boemia nos espera!
Despedida do Maxi em La Serena, no Chile
O Valle é incrível, e poucos brasileiros vao lá.
Parabéns pelo blog e pela viagem!!
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