0 Taos e as Danças Sagradas - Blog da Ana - 1000 dias

Taos e as Danças Sagradas - Blog da Ana - 1000 dias

A viagem
  • Traduzir em português
  • Translate into English (automatic)
  • Traducir al español (automático)
  • Tradurre in italiano (automatico)
  • Traduire en français (automatique)
  • Ubersetzen ins Deutsche (automatisch)
  • Hon'yaku ni nihongo (jido)

lugares

tags

arqueologia cachoeira Caribe cidade histórica Estrada mar Mergulho Montanha parque nacional Praia Rio roteiro Trekking trilha

paises

Alaska Anguila Antígua E Barbuda Argentina Aruba Bahamas Barbados Belize Bermuda Bolívia Bonaire Brasil Canadá Chile Colômbia Costa Rica Cuba Curaçao Dominica El Salvador Equador Estados Unidos Galápagos Granada Groelândia Guadalupe Guatemala Guiana Guiana Francesa Haiti Hawaii Honduras Ilha De Pascoa Ilhas Caiman Ilhas Virgens Americanas Ilhas Virgens Britânicas Jamaica Martinica México Montserrat Nicarágua Panamá Paraguai Peru Porto Rico República Dominicana Saba Saint Barth Saint Kitts E Neves Saint Martin San Eustatius Santa Lúcia São Vicente E Granadinas Sint Maarten Suriname Trinidad e Tobago Turks e Caicos Venezuela

arquivo

SHUFFLE Há 1 ano: Há 2 anos:

Taos e as Danças Sagradas

Estados Unidos, New Mexico, Las Vegas-NM, Taos

A tradicional e centenária igreja de San Francisso de Asis, em Taos, no Novo México, nos Estados Unidos

A tradicional e centenária igreja de San Francisso de Asis, em Taos, no Novo México, nos Estados Unidos


Há quase 9 meses estamos rodando pelos Estados Unidos, muito mais do que havíamos planejado para estes 1000dias. Depois de tantos zigue-zagues estávamos ansiosos para girarmos a nossa bússola para o sul e termos, enfim, um novo sentido para a nossa jornada. É chegada a hora, não podemos mais esperar. Hoje começamos a nossa travessia do mid-west americano, cruzando suas imensas planícies rumo ao México, mais de 2.400km que seriam completados nos próximos 10 dias, incluindo ainda alguns pontos de interesse no caminho.


Exibir mapa ampliado

No primeiro dia dirigimos mais de 570km em direção à cidade de Las Vegas. Não, não chegamos à iluminada e agitada Vegas e sim na Las Vegas de New México, a original. Fundada em 1835 ainda durante o período da colônia espanhola, a cidade presenciou a Guerra Americana-Mexicana na disputa pelo seu território, viu o progresso chegar pelas ferrovias que cruzavam para o oeste e junto delas os notáveis bandidos como Billy the Kid, Jesse James, Doc Holiday e Hoodoo Brow.

Estátua na praça central de Las Vegas, no Novo México, nos Estados Unidos

Estátua na praça central de Las Vegas, no Novo México, nos Estados Unidos


Apenas 70 anos mais tarde surgiu a sua homônima do estado de Nevada. Aqui a Vegas dos cassinos e do show bizz dá espaço para uma charmosa cidade de arquitetura espanhola pueblana, com uma praça central e casas de adobe, como a sua irmã maior Santa Fé.

Tradicional hotel da pequena  Las Vegas, no Novo México, nos Estados Unidos

Tradicional hotel da pequena Las Vegas, no Novo México, nos Estados Unidos


Depois de tanto tempo andando pelas cidades espartanas dos Estados Unidos, com seu urbanismo prático, grandes avenidas e quase nenhuma história, chegar à pequena Las Vegas foi um alívio para os nossos olhos.

Fiona em frente ao nosso hotel na histórica Las vegas, no Novo México, nos Estados Unidos

Fiona em frente ao nosso hotel na histórica Las vegas, no Novo México, nos Estados Unidos


Ontem quando dirigia rumo ao sul passamos pelas placas de Taos, um povoado pueblano que há pouco tempo havia entrado na nossa lista, apresentado por Mariana e Marlus, curitibanos que vivem no Texas, que conhecemos no Mesa Verde. Eles sugeriram que no nosso caminho para o sul parássemos na pequena vila de Taos, “imperdível!”. A vontade de explorar a história e um pouco da cultura deste estado de origem indígena, meio mexicano, meio americano tomou conta e mais uma vez resolvemos fazer um pequeno detour para o norte. É, é difícil irmos embora sem olhar para trás. Lá fomos nós 124km, entre montanhas nevadas por uma pequena estrada sinuosa, rumo ao norte novamente.

Lago completamente congelado perto da histórica Las Vegas, no Novo México, nos Estados Unidos

Lago completamente congelado perto da histórica Las Vegas, no Novo México, nos Estados Unidos


Construída entre 1000 e 1450 d.C, o Pueblo de Taos é a comunidade mais antiga dos Estados Unidos, continuamente habitada. Acredita-se que os puebloans são descendentes dos Anasazi, os Ancient Pueblos que viviam em toda a região de Four Corners e inclusive no Mesa Verde National Park que também visitamos. A arquitetura pueblana é composta por casas de adobe com 2 ou mais níveis, paredes compartilhadas e os pátios e varandas na parte de cima, que são utilizados para diversas atividades cotidianas. Abaixo, em um nível subterrâneo, estão os kiwas, salas onde os anciãos reúnem os mais jovens da família para lhes passar todo o seu conhecimento e a história da tribo.

O pueblo de taos, no Novo México, nos Estados Unidos (foto obtida na internet)

O pueblo de taos, no Novo México, nos Estados Unidos (foto obtida na internet)


O povo de Taos é um dos mais tradicionais, fechados e conservadores de todos os povos indígenas americanos. Toda a sua história é passada única e exclusivamente de forma oral para as novas gerações. Assim eles conseguiram manter viva a sua cultura, ritos e tradições através destes milhares de anos.

Chegando ao mais antigo pueblo dos Estados Unidos, Taos, no Novo México, nos Estados Unidos

Chegando ao mais antigo pueblo dos Estados Unidos, Taos, no Novo México, nos Estados Unidos


As palavras em Tiwa, a língua nativa do pueblo, possuem vida e poder e a tribo acredita que se as palavras fossem escritas perderiam a sua vivacidade, música e dança. Assim, nunca alguém que não possui o sangue indígena, nascido na tribo e criado dentro do pueblo, poderá compreender a verdadeira sabedoria, crença e magia que este povo carrega.

Oferendas nos muros da tradicional igreja de San Francisco de asis, em Taos, no Novo México, nos Estados Unidos

Oferendas nos muros da tradicional igreja de San Francisco de asis, em Taos, no Novo México, nos Estados Unidos


Nós chegamos no Pueblo de Taos em um dia de festa, festas sagradas! É um dia muito especial, um dia em que a tribo está entoando seus cantos e realizando as suas danças sagradas. Mesmo conservadores, eles permitem que pessoas de fora entrem e assistam aos seus rituais, porém não dão explicação alguma sobre o seu significado e tampouco permitem que o povoado e os rituais sejam gravados ou fotografados.

Visitando Taos, a cidade mais antiga dos Estados Unidos, com mais de 700 anos, no Novo México

Visitando Taos, a cidade mais antiga dos Estados Unidos, com mais de 700 anos, no Novo México


As danças acontecem entre dezembro e fevereiro a cada 15 dias ou semana. Conforme vão se aproximando do fim do período de festividades, elas se intensificam e podem ocorrer praticamente todos os dias. Elas são realizadas pelos homens da tribo, que se vestem com peles de animais, pintam-se de negro e praticamente em transe, dançam entre as casas do povoado, como se estivessem abençoando e trazendo boas energias para a tribo. Hoje foi o dia da Buffalo Dance, homens vestidos com pesadas cabeças de bisões, seus corpos pintados de negro e envolvidos em peles de animais. Dançavam incessantemente ao som quase hipnotizante dos tambores e cânticos dos anciãos. Os sons parecem mantras compostos apenas por vogais, belos e complexos. As mulheres acompanham todo o ritual ao redor do grupo, com os cabelos trançados ou presos e dobrados com fitas. Suas vestes e mantas coloridas são tecidas à mão, cada uma com sua história e significado. De tempos em tempos somos surpreendidos pelas mulheres, que participam do canto vibrando rapidamente a língua contra os dentes e soltando um som estridente e bem tribal, muito parecidos com os sons feitos pelas mulheres do mundo árabe. Os homens abafados sob as cabeças de bisões parecem entrar em transe, talvez apenas pelo ritmo, talvez sob efeito da mezcalina, comum entre povos indígenas americanos.

Traje das danças sagradas do pueblo de Taos, no Novo México, nos Estados Unidos (obtido na internet)

Traje das danças sagradas do pueblo de Taos, no Novo México, nos Estados Unidos (obtido na internet)


A ligação destes indígenas com a natureza e o equilíbrio do mundo é a base da sua crença. Se o mundo está doente, nós também estamos doentes, os rios são o nosso sangue, a terra o nosso corpo e a única forma de nos mantermos sãos e vivos é cuidando da terra, respeitando a natureza e equilibrando as más energias com as nossas preces e boas vibrações.

Um espetacular pôr-do-sol nas imediações de Taos, no Novo México, nos Estados Unidos

Um espetacular pôr-do-sol nas imediações de Taos, no Novo México, nos Estados Unidos


Eles trabalham para manter o equilíbrio do planeta, hoje extirpado pelo homem branco. Se eu tivesse que opinar, diria que o ritual aparentemente tem ligação com a abundância na caça dos bisões e veados, mas esta é apenas a visão de uma branca viajante, distante da realidade deste povo.

Escultura do patrono da igreja de San Francisco de asis, em Taos, no Novo México, nos Estados Unidos

Escultura do patrono da igreja de San Francisco de asis, em Taos, no Novo México, nos Estados Unidos


As danças continuaram pela vila, mas agora o povo já não podia acompanhá-las. Sem saber tentamos continuar seguindo os dançarinos, mas uma mulher do pueblo nos avisa que dali não poderíamos passar. Voltamos ao centro da vila, curiosos e querendo entender o que era aquilo que acabávamos de presenciar. Todas as vendas de artesanatos e comida hoje deveriam estar fechadas, mas logo após o término das danças vemos duas delas abertas. A primeira com seus pães fazendo um grande sucesso. Várias pessoas saíam dali com doces e pães frescos, feitos de pura farinha. Entro em uma cabana e sou recebida por Chilli Flower Poho, uma artesã que voltou a viver na tribo depois de um longo período conhecendo o mundo lá fora. Ela viajou o mundo, conhece sobre a cultura do povo branco, mas sente que Taos Pueblo é a sua casa. Tem filhos de um primeiro casamento e um novo namorado pueblano, mas que mora fora do povoado.

“Sei que o meu papel é estar aqui, passar a nossa cultura adiante, eu posso sair do pueblo, mas o pueblo faz parte de mim e sempre estará comigo.”, me diz Chilli Flower. “Meu namorado quer se casar, ele é daqui, mas tem dúvidas se quer voltar a viver dentro da comunidade. Eu já deixei claro a ele, se não quiser voltar ao pueblo, não iremos nos casar, pois daqui eu não saio, tenho consciência que este é o meu lugar.”

Ela me pergunta de onde sou e quando digo que sou brasileira logo comenta sobre a dança. O samba é muito bonito, “vocês brasileiras sabem dançar muito bem! Quando eu era jovem, eu e meu irmão ganhamos um concurso de dança na cidade!”. Eu curiosa, lhe perguntei que tipo de dança era, pensando, sei lá, que seria algo mais tradicional ou ligado à época... “Dance, música eletrônica” ela me responde. É claro! Afinal, em que mundo nós vivemos? Hahaha!

O céu pintado de vermelho durante um memorável pôr-do-sol nas imediações de Taos, no Novo México, nos Estados Unidos

O céu pintado de vermelho durante um memorável pôr-do-sol nas imediações de Taos, no Novo México, nos Estados Unidos


Ela nos conta sobre suas experiências e visão de mundo, como gostaria que a tribo fosse um pouco mais aberta para as mulheres. Elas participam dos conselhos familiares, mas apenas os homens podem votar. Durante o período que viveu em outra comunidade indígena, percebeu como podem existir outras maneiras de lidar com essas questões.

“Lá as mulheres tinham espaço, voto direto e podiam participar das reuniões da tribo ao lado dos homens, aqui ainda não. Mas os homens sempre gostam de pedir a minha opinião sobre as questões da comunidade, pois querem a visão de alguém que conhece o mundo lá fora...”

Há também os que temam que a língua tiwa esteja se perdendo, e junto dela sua história, cânticos e danças sagradas. As crianças já não descem mais aos kiwas para ouvir os seus avós, preferem ver televisão. Tito Naranjo, um membro da tribo, chegou a ser expulso do pueblo em 2004, aos 66 anos, por decidir escrever sobre a dança dos veados no jornal local. O professor universitário acredita que a língua, a história e os rituais devem ser descritos para que não se percam no tempo. Mas os anciãos da tribo acreditam que com este ato ele tenha matado a dança do veado e ele se defende dizendo “não, a dança está aí, viva e bem.”

A nova percepção de mundo de homens como Tito Naranjo e mulheres como Chilli Flower trarão ao Pueblo de Taos alterações na sua organização e nas suas crenças. Este é um movimento natural, afinal eles não vivem isolados do mundo exterior. Neste rápido contato que tivemos com a comunidade, fica claro que o amor que o pueblo nutre por suas tradições, conhecimentos e cultura não será perdido. Porém o desafio que eles enfrentam para abrir a comunidade para novas ideias e conhecimentos é menor que o desafio que os seus anciãos terão para manter a sua cultura intacta.

O céu pintado de vermelho durante um memorável pôr-do-sol nas imediações de Taos, no Novo México, nos Estados Unidos

O céu pintado de vermelho durante um memorável pôr-do-sol nas imediações de Taos, no Novo México, nos Estados Unidos

Estados Unidos, New Mexico, Las Vegas-NM, Taos, cultura, Tribo Indígena, Danças Sagradas, Taos Pueblo

Veja todas as fotos do dia!

Quer saber mais? Clique aqui e pergunte!

Post anterior As famosas Montanhas Rochosas, no Rocky Mountains National Park, perto de Boulder, no Colorado, nos Estados Unidos

Boulder e as Rockies

Post seguinte Representação do desembarque de ETs no Novo México, em exposição no Museu de Ufologia de Roswell, no Novo México, nos Estados Unidos

Eles estão entre nós?

Blog do Rodrigo Escultura do patrono da igreja de San Francisco de asis, em Taos, no Novo México, nos Estados Unidos

A Outra Las Vegas e a Mais Antiga Cidade dos EUA

Comentários (3)

Participe da nossa viagem, comente!
  • 03/07/2021 | 23:27 por Xalaco

    Oi! Parabéns pelo site.
    Desde pequeno meu pai me chamava de Xalaco! Meu pai já descansou.
    Esta semana lembrei muito dele.
    Gostaria de saber o significado do meu nome.
    Meu pai tinha descendência indígena.
    Ele me deu este apelido por alguma razão. Pesquisando não achei muita coisa..mas algumas imagens remetem a Pueblo. Sabem me dizer se viram algo nesta viagem sobre o termo Xalaco? Ou Xalako? Agradeço.
    Deus abençoe vcs!

  • 05/03/2013 | 11:43 por Zachary

    Vcs passaram bem pertinho a um dos meus sitios preferidos no Novo Mexico - as ruinas do Salinas Pueblo Monument. Sao ruinas de tres cidades indigenas da epoca da colonizacao espanhola que mostram toda a sincretizacao das culturas, sendo as casas feitas redondas no chao com entrada pelo teto, mas com a figura monolitica das ruinas de uma igreja catolica em meio da cidade. As tres cidades foram abandonadas devidas a inseguridade militar e alimenticia, mas sao fascinantes hoje em dia. Parabens na viajem e valeu!

    Resposta:
    Puxa, que pena que passamos lá perto e não vimos! Amamos conhecer a cultura dos pueblos e toda a região. Fica anotada a dica para a próxima! Beijos!

  • 15/02/2013 | 18:37 por Rubens Werdesheim

    Sensacional essa viagem pelo interior dos EUA ! Lembra bastante o resto da América e suas civilizações.Por aqui em Sampa, chuva que não acaba mais, enchentes , carros arrastados,pessoas em pânico.Que tudo continue dando certo por aí !

    Resposta:
    Pois é, é incrível encontrar algo autêntico como este lá nos EUA, faz nos identificarmos mais com aquela terra e cultura. Seguimos juntos! Abraços!

Blog da Ana Blog da Rodrigo Vídeos Esportes Soy Loco A Viagem Parceiros Contato

2012. Todos os direitos reservados. Layout por Binworks. Desenvolvimento e manutenção do site por Race Internet