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Cachoeira da Fumaça - A Saga!

Brasil, Bahia, Lençóis (P.N. Chapada Diamantina)

A maravilhosa Cachoeira do Fundão, no Canyon do 21, em Lençóis, na Chapada Diamantina - BA

A maravilhosa Cachoeira do Fundão, no Canyon do 21, em Lençóis, na Chapada Diamantina - BA


Depois de 10 anos finalmente irei conhecer a Cachoeira da Fumaça. Eu havia prometido a mim mesma que quando voltasse para a Chapada faria a trilha da Fumaça por baixo. Esta trilha é de no mínimo 3 dias de caminhada, então com o nosso cronograma apertado resolvemos conhecê-la apenas por cima e deixar a minha promessa para uma próxima.

Equilibrando a bacia na cabeça, em Lençóis, na Chapada Diamantina - BA

Equilibrando a bacia na cabeça, em Lençóis, na Chapada Diamantina - BA


O caminho mais utilizado para esta empreitada é a trilha Lençóis – Capão, muito bem marcada, uma vez que é uma antiga estrada de garimpeiros, toda calçada para facilitar a passagens de animais de carga. Por sinal, trabalhinho desgracido este de calçar estas trilhas, pedras imensas e pesadíssimas colocadas uma a uma Chapada adentro. Só consigo imaginar isso nos tempos da escravidão mesmo!

Trilha calçada pelos escravos, em Lençóis, na Chapada Diamantina - BA

Trilha calçada pelos escravos, em Lençóis, na Chapada Diamantina - BA


Ok, onde entra o cânion do 21 nesta história? Enquanto planejávamos o nosso roteiro vimos que nesta trilha havia um pequeno desvio para uma cachoeira, a Cachoeira do 21. Não é um roteiro muito comercial, mas já que não conseguiríamos chegar direto na Fumaça, pelo menos vamos conhecer uma cachoeira nova. Conversamos com o Lúcio, nosso guia e guru das trilhas diamantinas, e ele nos deu uma ótima idéia! Subir o Cânion do 21 e ir por dentro até a Fumaça, assim chegaríamos em um horário em que teríamos que dormir lá em cima, perfeito! Pegamos todas as dicas do caminho e pé na tábua.

Chegando no 'Buraco da Serra', a caminho do 21, em Lençóis, na Chapada Diamantina - BA

Chegando no "Buraco da Serra", a caminho do 21, em Lençóis, na Chapada Diamantina - BA


Subimos a trilha Lençóis-Capão, com um pouco de custo encontramos a saída da trilha para o 21 e começamos a subir o rio. Galera, que parto! O cânion é todo escorregadio, cheio de musgo e limo, o que faz a caminhada muuuuito lenta. O Lúcio havia estimado que levaríamos 1h40 para chegar até a Cachoeira do Fundão, pouco antes da 21, mas nós levamos 2h30, de tão escorregadio que estava!

Descendo para o Ribeirão, a caminho do Canyon do 21, em Lençóis, na Chapada Diamantina - BA

Descendo para o Ribeirão, a caminho do Canyon do 21, em Lençóis, na Chapada Diamantina - BA


Por alguns minutos ficamos até na dúvida se aquela era o Fundão ou o 21, mas logo chegamos à Cachoeira do 21, fácil de ser identificada já que estava seca e com um imenso poço embaixo dela. Passamos rápido por ela, sem nem dar um tchibum, já que o tempo urgia e precisávamos chegar lá em cima com luz.

O poço e a cachoeira seca do 21, em Lençóis, na Chapada Diamantina - BA

O poço e a cachoeira seca do 21, em Lençóis, na Chapada Diamantina - BA


Sem guia, nos perdemos umas 3 vezes, acabamos encontrando até uma trilha de caçadores com uma vista belíssima para o Cânion que havíamos acabado de subir. Eu já estava exausta, uma caminhada como esta exige paciência, persistência e mais paciência. Escorreguei 3 vezes e já não agüentava mais as abelhas que ficavam me seguindo e me atazanando! Aquilo foi me minando, estava prestes a explodir, mas tinha que continuar... agora não tinha mais volta. Desgraçado esse 21, como foi que ele veio parar aqui? 21 era um garimpeiro assim conhecido por possuir 21 dedos. Em busca de diamantes, ele praticamente morou dentro deste cânion, vida dura essa.

Enormes montanhas do Canyon do 21, em Lençóis, na Chapada Diamantina - BA

Enormes montanhas do Canyon do 21, em Lençóis, na Chapada Diamantina - BA


Depois da trilha errada de caçador o Ro começou a me ouvir, já que eu encontrei todos os caminhos e trilhas do dia, merecia algum crédito. Mais 10 minutos rio acima, encontramos finalmente o cânion verde, como apelidamos. Se o 21 já era escorregadio, imagine um cânion que o apelido é cânion verde? Lá nunca bate sol, o limo já virou quase uma grama sobre as pedras. A luz se acabando e nós sem idéia de quanto tempo mais levaríamos para chegar à baixada, lugar mais seco, plano e mais próximo da fumaça. A esta altura tudo o que eu queria era encontrar setas, setas e mais setas, para termos certeza que estávamos na trilha certa... mas que seta sobreviveria a um limo grosso como aquele? Nenhuma, mas mesmo assim eu as enxergava onde não existiam!

Subindo o Vale Verde, no alto do Canyon do 21, em Lençóis, na Chapada Diamantina - BA

Subindo o Vale Verde, no alto do Canyon do 21, em Lençóis, na Chapada Diamantina - BA


Eu já estava começando a trabalhar o meu psicológico que teríamos que dormir ali mesmo, naquela umidade terrível, fora da toca, no leito do rio. Ao mesmo tempo eu e o Rodrigo dizíamos a nós mesmos: “Nós vamos chegar, vamos sair do cânion!”

Tentando se achar no mapa no Canyon do 21, em Lençóis, na Chapada Diamantina - BA

Tentando se achar no mapa no Canyon do 21, em Lençóis, na Chapada Diamantina - BA


O desafio agora era encontrar o caminho da Cachoeira da Fumaça, no lusco-fusco testamos ao máximo os nossos olhos para não precisarmos das lanternas, mas já perto das 19h não tivemos escolha. Ligamos as lanternas e o GPS e começamos a nos guiar e marcar a nossa trilha. O GPS não possuía o trecking da cachoeira marcado, o ponto que ele conhecia como Fumaça era a Casa da Associação dos Guias no Capão e só nos dava uma linha reta até lá. Agora o que os salvariam eram as setas, nunca falamos tanto e com tanta alegria esta palavra. Cada seta encontrada era uma comemoração e um alívio. A cada trilha duvidosa, marcávamos um ponto no GPS. Cada lage plana e boa para dormir também! Sem mais setas, o Ro parou desanimado e queria esperar a lua nascer para continuar. Eu exausta só queria chegar a algum lugar, uma lage descente para dormirmos já estava bom, desde que “chegássemos”. Não sosseguei enquanto não achei a trilha, resolvemos tentar por um caminho que eu tinha encontrado. Quando Rodrigo levantou e colocou a mochila nas costas: SETA! Ele estava sentado em cima de uma seta! Surreal! Seguimos a sua direção e logo chegamos a um rio, largo e cheio d´água, “Este só pode ser o rio da Fumaça”, disse Rodrigo. Olhamos o nosso mapa e não havia mais nenhum rio por ali. Atravessamos o rio, caminhamos mais 200m e tchanaaan! FUMAÇA!!! Inacreditável! Nove horas da noite, lua cheia nascendo e nós conseguimos encontrá-la!!!

O poço da Cachoeira do 21, em Lençóis, na Chapada Diamantina - BA

O poço da Cachoeira do 21, em Lençóis, na Chapada Diamantina - BA


Um cânion de 420m de altura, com 380m de queda d´água e à nossa frente as silhuetas da chapada iluminadas pela lua cheia. SENSACIONAL! Que aventura! O céu estrelado, eu já queria deixar dentro do saco de dormir ali mesmo, em qualquer lage e abrir o nosso vinhozinho para comemorar. O Ro insistiu em encontrarmos a toca, pelo menos para termos a opção, caso chovesse. Imagina, céu limpo, noite quente, não chove nem a pau! Mas, o seguro morreu de velho, vamos lá procurar. De repente uma lanterna piscou na nossa frente do outro lado do rio:
- “Estão perdidos?” gritou a voz.
- “Só espero que não seja um serial killer”, falou o Rodrigo.
- “Estou numa toca, vou aí encontrá-los para mostrar o caminho.” (voz)

Nos encontramos na trilha:
- “Desculpe o facão, é que nunca sabemos quem iremos encontrar. Temos que nos precaver nos tempos de hoje. Meu nome é Marcos.”
- “Tudo bem Marcos, se precisar também tenho uma faca, meu nome é Ana.”

Batemos um papo, nos apresentamos e descobrimos que Marcos havia feito o mesmo caminho que nós! Ele veio pelo 21, porém mais cedo e sem se perder, chegou ainda com a luz do dia. Ele não acreditava que estávamos ali: “Como vocês conseguiram encontrar o caminho!?!”

Com o Marcos, no nosso local de acampamento, ao lado da queda da Fumaça, próxima à vila do Capão, na Chapada Diamantina - BA

Com o Marcos, no nosso local de acampamento, ao lado da queda da Fumaça, próxima à vila do Capão, na Chapada Diamantina - BA


Trocamos informações e experiências com Marcos, baiano de Feira de Santana que já veio 22 vezes à Chapada, conhece praticamente todas as trilhas. Ele está fazendo uma longa caminhada, amanhã vai até Palmeiras. Chegamos à toca, nos ajeitamos ao lado do nosso mais novo vizinho e fomos até a boca do cânion, tentar ver a Fumaça, a paisagem e ter aquela sensação de que chegamos, finalmente, são e salvos!

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Visão de Lençóis - BA
Fotografando a Chapada Diamantina do alto do Pai Inácio, próximo à Lençóis - BA
Chegando na saída do Lapão, em Lençóis, na Chapada Diamantina - BA
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Cruzando pequena cidade no interior da Bahia
Pôr-do-sol do alto da duna em Mangue Seco - BA
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Maré baixa na Praia do Forte - BA
Senhora observa, de sua janela, a festa que passa pela rua em Cachoeira, no Recôncavo Baiano - BA
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